Solidariedade Sem Terra

Ação Marmitas da Terra é homenageada pela Câmara de Curitiba

Ação do MST-PR que distribuiu 180 mil marmitas durante a pandemia em Curitiba e Região Metropolitana recebe homenagem na Câmara de Curitiba por seu trabalho no combate à fome
Marmitas da Terra é homenageado em solenidade na Câmara de Curitiba | Foto: Jade Azevedo

Na quarta-feira, 5, o vereador Angelo Vanhoni (PT) promoveu uma sessão solene da Câmara de Curitiba para comemorar a Campanha da Fraternidade e homenagear ações de combate à fome na capital. Os homenageados foram o projeto Marmitas da Terra do MST-PR, representado por Adriana Oliveira, coordenadora da ação, Dom Peruzzo, arcebispo de Curitiba,  Salete Bez, coordenadora da Campanha da Fraternidade e Leonildo José Monteiro Filho, coordenador nacional do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR).

Foto: Câmara de Curitiba

A solenidade teve o apoio da vereadora Giorgia Prates (PT), Professora Josete (PT) e de outros vereadores. Este ano a campanha tem como tema a Fraternidade e Fome, e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16). Para a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), organizadora da campanha, o objetivo é despertar o espírito comunitário e educar para a vida em fraternidade. 

Durante a solenidade, Adriana Oliveira, integrante do MST e coordenadora da ação Marmitas da Terra, ressaltou a importância do papel da Reforma Agrária Popular como medida possível para acabar com a fome no Brasil, relembrando que o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) é um projeto de política pública que pode favorecer o trabalho no campo e também alimentar as famílias das ocupações urbanas.

Ação Marmitas da Terra

Marmitas da Terra é uma ação que produziu 180 mil refeições com alimentos da Reforma Agrária Popular, durante quase três anos de ação – maio de 2020 a dezembro de 2022. As marmitas eram entregues para pessoas em situação de vulnerabilidade social, tanto em situação de rua, quanto trabalhadoras e trabalhadores que estavam no Centro e ocupações urbanas de Curitiba e região metropolitana.

A atividade fez parte da campanha permanente de solidariedade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná, que no início da pandemia, decidiu combater a fome através da solidariedade, doando comida sem veneno, criando hortas coletivas (em espaços do MST, bairros e ocupações na cidade) além de incentivar a criação de cozinhas e padarias comunitárias em ocupações urbanas de Curitiba e região metropolitana. 

Foto: Jade Azevedo
Foto: Coletivo Comunicação MST-PR

Solidariedade para resistir à fome

Em sua saudação aos homenageados, Angelo Vanhoni destacou que, nos últimos anos, testemunhou os esforços de algumas instituições que se envolveram de forma ativa para diminuir os dramas vividos pelas pessoas em vulnerabilidade. “Todos os problemas sociais foram agravados e a gente pôde presenciar a atitude de muitas organizações,entre elas a da igreja católica, seja através das redes de ensino, seja por meio do voluntariado ou angariando contribuições e mobilizando a sociedade para socorrer aqueles que passam fome”, disse o vereador.

O parlamentar comentou que, apesar de o Brasil ser o segundo exportador do planeta de commodities agrícolas, o país convive com a fome extrema. “Devemos lutar contra isso para diminuir a desigualdade de todas as formas que a gente puder. A busca por mais igualdade é universal”, disse Vanhoni.

Professora Josete mencionou que, todos os anos, a Campanha da Fraternidade trata de temas importantes, com o objetivo de levar reflexão à sociedade. “No momento que nós vivemos, debater a fome é muito importante. Devemos lutar por políticas públicas efetivas. É obrigação do poder público garantir esse direito básico”, disse a vereadora. Josete destacou que a fome foi agravada em função da pandemia e que iniciativas como a do MST, por meio do Coletivo Marmitas da Terra, foram fundamentais para o enfrentamento da questão. “Como diria Betinho”, lembrou Josete, “quem tem fome, tem pressa”. A vereadora concluiu afirmando que a sociedade deve se apropriar do debate sobre segurança alimentar.

A vereadora Giorgia Prates disse que, durante a pandemia, muitos a viram com uma câmera, fotografando ações sociais. “Eu tentava registrar não só os eventos, mas também os sentimentos, e posso dizer que fui muito agraciada por testemunhar as iniciativas daquelas pessoas que faziam o máximo em um período de tantas incertezas. Tudo aquilo me alimentou de uma forma muito solidária também. A gente não pode esquecer da força que a gente tem quando se une”, declarou Giorgia. Para Ana Júlia, deputada estadual e ex-vereadora, a campanha é importante porque fala de empatia, de compaixão e de amor ao próximo, além de ter um viés social muito forte e buscar uma reflexão coletiva. No entendimento da deputada, é necessário o debate da pauta religiosa sob uma perspectiva social, sob a perspectiva daqueles que mais precisam. 

Salete Bez, coordenadora da Campanha da Fraternidade em Curitiba, esclareceu que a campanha tem uma motivação da Igreja Católica, mas ela não se limita aos que professam essa fé. “O alimento é o direito primeiro de qualquer pessoa. E, em pleno século XXI, estamos lutando para que as pessoas tenham direito à alimentação”, constatou Salete. Ela lembrou que o lema deste ano foi extraído do texto bíblico: “Dai-lhes vós mesmos de comer”: “Não é um pedido, é um imperativo, uma ordem dada por Deus.” Salete também trouxe dados gerais da fome e insegurança alimentar no Brasil e Paraná. 

Foto: Joka Madruga

Adriana Oliveira, comentou que o MST nasceu na cidade de Cascavel, há 40 anos. “Um movimento que surgiu da necessidade destes trabalhadores se alimentarem, mas que desde a primeira ocupação já tinha como projeto político a solidariedade, então, quando aconteceu a pandemia, foi natural que o movimento adotasse uma postura de combate à fome”, afirma. 

Seguindo o questionamento de Vanhoni, que trouxe a reflexão de o Brasil anualmente bater recordes na área da agricultura, produzindo commodites para exportação, Adriana ressaltou que o alimento não chega à mesa dos trabalhadores e daqueles que têm necessidades por conta de um projeto político do capitalismo. “A proposta do MST é a produção de alimentos saudáveis, diversificados, sem veneno e com respeito à biodiversidade. A partir da agroecologia, a gente pode produzir não somente alimentos saudáveis, mas também relações saudáveis, isto é, isentas de hierarquias, preconceitos e machismo”, ressaltou. Para ela, a reforma agrária é um projeto político de resultados concretos.

Leonildo Monteiro, homenageado e integrante do Conselho Nacional de Direitos Humanos e coordenador do Movimento Nacional de Moradores de Rua, contou que passou muita fome, sede e trouxe o exemplo do trabalho do Padre Lancellotti comparando a situação atual de Curitiba à de São Paulo. “A realidade que o Padre mostrou na Rede Globo é a mesma que acontece em Curitiba. O morador de rua está com sua mochila que tem remédio, um ou outro objeto pessoal e uma foto da família que ele guarda de lembrança. Então vem a GM, a PM, e retiram a mochila. A gente está cansado disso”, afirmou.

Felipe Thiago de Jesus, vice-presidente do Conselho Municipal de Segurança Alimentar (Consea), convidado para a solenidade, lembrou que o Consea de Curitiba foi um dos únicos Conseas do Brasil que não interrompeu suas atividades durante a pandemia. “A gente agradece muito a retomada do Consea Nacional da Política de Segurança Alimentar Nacional”, declarou. Ele ainda afirmou que na Campanha da Fraternidade, as bandeiras não importam. “O que importa é a conjunção dos esforços”.

Com informações da Assembleia Legislativa de Curitiba.

*Editado por Fernanda Alcântara