Violência no Campo

Conflitos por terra cresceram 16,7% em 2022, segundo CPT

Comissão Pastoral da Terra lançou Caderno de Conflitos em que aponta crescimento de diversas formas de violência contra povos tradicionais
Foto: Camila Araujo

Por Janelson Ferreira
Da Página do MST

Na manhã desta segunda-feira (17), a Comissão Pastoral da Terra – CPT – lançou, em Brasília, DF, o seu Relatório de Conflitos no Campo 2022. O ato ocorreu na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília. O levantamento, que chega a sua 37ª edição, foi organizado pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno. 

Ao todo, mais de 180 mil famílias viveram conflitos por terra no Brasil ano passado. Segundo os dados, em 2022, os conflitos por terra aumentaram 16,7% no Brasil, sendo que fazendeiros são os principais responsáveis pelas violências. O levantamento realizado pelo Relatório destacou que aqueles que praticam tais ataques utilizam agrotóxicos como arma química, além de contribuírem para o aumento da pistolagem e do trabalho análogo à escravidão. 

Dom Silvio Guterres, vice-presidente da CPT Nacional, destacou a importância do Relatório para divulgação das violências praticadas. “Por que nossa denúncia da violência e da fome? Porque a fome e a violência existem”, lembrou. 

Entre 2021 e 2022 também houve um crescimento das ocorrências de conflitos trabalhistas no campo. A variação registrada foi de 22,94%, sendo que o ano passado se registrou o maior número deste tipo de conflito (2.220). Ao todo, mais de 2 mil pessoas foram resgatadas de condições análogas à escravidão, um aumento de 29% do número de pessoas resgatadas e 32% do número de casos. E o agronegócio é apontado como principal responsável por estes casos, com o setor sucroalcooleiro tendo 523 pessoas resgatadas. 

“Este relatório não é só um documento para os movimentos populares, mas uma ferramenta de luta”, afirmou Margarida da Silva, da direção nacional do MST. Segundo a dirigente, denunciar as violências existentes no campo é fundamental para a defesa dos direitos dos povos. “Denunciar estas violências representa apontar a estrutura desigual deste país e a importância de superá-la por meio da luta”, destacou.

As invasões de território também cresceram em 2022. Entre 2013 e 2022 houve 1.935 destes casos. Deste total, 1185 ocorreram durante os quatro anos de governo Bolsonaro (61,25% do total).

Outro índice apontado pelo relatório, diz respeito a quantidade de famílias atingidas pela aplicação de agrotóxicos. O crescimento registrado ano passado foi de 86%, sendo este o maior valor identificado pela CPT desde 2010. 

A CPT também identificou os responsáveis por todas estas violências. Segundo a Comissão, fazendeiros foram responsáveis por 23% das ocorrências de conflito por terra, seguidos do governo federal, com 16%, empresários, com 13% e grileiros, com 11%. 

Beto Marubo, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – UNIVAJA –, apontou a importância da ação governamental na defesa de povos indígenas isolados. “A FUNAI é fundamental para esta proteção. Se em todo país, a situação dos povos indígenas já era delicada, imaginem para aqueles isolados”, refletiu Marubo.

Conforme dados do Relatório de Conflitos no Campo, os indígenas são os principais atingidos pela violência no campo. Do total de ocorrências registradas, 28% envolveram povos indígenas, seguido por famílias posseiras, 19%, comunidades quilombolas (16%), sem terras (11%) e famílias assentadas da reforma agrária (9%).

*Editado por Fernanda Alcântara