Produção de Alimentos

Brigada do MST desenvolve produção de sementes de cenoura na Venezuela

Militantes da Brigada Internacionalista trabalham com adaptação da semente da hortaliça no país, em parceria com comunas e coletivos de camponeses/as
Militantes da Brigada Internacionalista Apolônio de Carvalho. Foto: MST

“Onde iremos buscar outros modelos? Na América Española é original. Original há de ser suas Instituições e seu Governo. E original os meios/de fundar umas e outros. Ou inventamos ou erramos.”
SIMON RODRÍGUEZ

Por Brigada Internacionalista Apolônio de Carvalho
Da Página do MST

Vamos iniciar; imagina desenrolar uma conversação e, em algum momento, surgir um assunto que invoque “Daucus Carota”. Talvez, aos ouvidos de um desprevenido venezuelano ou venezuelana, soará uma designação distinta da original; pode ser que ao escutar a segunda nomenclatura “Carota” se assemelhe a palavra “Caraota” – traduzido para o português possui o significado de feijão, importante leguminosa que proporciona uma riqueza de nutrientes na dieta do Povo da América Latina.

No entanto, não necessariamente de feijão é que vamos tratar nesse pequeno fragmento. “Daucus Carota” é o nome científico que chamamos popularmente a cenoura, incluindo a variedade “Sativus”. Estamos falando dessa destacada olerícola, que apresenta a coloração de suas raízes alaranjadas ou carotênicas.

Essa raiz é uma fonte nutricional necessária na Republica Bolivariana da Venezuela, Pátria Revolucionária- em que a convite do eterno “Comandante” Hugo Rafael Chavez Frias, o nosso MST, impulsinou a Brigada Internacionalista Apolônio de Carvalho para executar uma tarefa fundamental, desenvolver a Soberania Alimentar através da produção de sementes orgânicas de hortaliças.

Entendemos a Soberania Alimentar como um direito dos povos do mundo em escolher como organizar e produzir alimentos, dialogar com temas indispensáveis como a democratização da terra, modelos produtivos agroecologicos e a produção da Agricultura Familiar Camponesa. Assim, nos inserimos na realidade de um país que nas ultimas décadas da história moderna importou a imensa maioria da coisas que seu povo come, entre isso, um dos grandes desafios é estruturar a capacidade de produção nacional para o abastecimento do mercado interno. Atualmente, observa-se uma evolução neste sentido, uma ilustração é a conformação de 94% dos alimentos que chegam (“llenan”) a bolsa Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP) – mecanismo para distribuição de alimentos subsidiados pelo governo bolivariano, que alimenta 7.500 milhões de famílias venezuelanas.

Esses avanço importante é gestionado em um ambiente de “Economia de Guerra”, estabelecida por mais de 927 medidas coercitivas unilaterais (sanções) perpetuados pelo Imperialismo Norte Americano, equivalente ao roubo de 24 bilhões de dólares do Estado Venezuelano, que estão retidos no estrangeiro, fator decisivo para atrasar a construção da Soberania Alimentar desse país.

Uma das tarefas mais relevantes da nossa organização é cumprir com o nosso compromisso de produzir alimentos saudáveis para o povo brasileiro, e na Venezuela não seria diferente. Então, nesses mais de 15 anos de colaboração mutua com a Revolução Bolivariana estabelecemos uma aliança que promove um programa de formação em organização para a produção de sementes orgânicas de hortaliças. A cenoura, é uma das sementes que demonstra uma relativa adaptação e resultados satisfatórios no trabalho local da Brigada Internacionalista Apolônio de Carvalho, em alguns territórios venezuelanos, em parceria com as Comunas e Coletivos organizados de camponeses e camponesas.

A cenoura está entre as dez hortaliças de maior consumo e produção no mundo, todavia, o domínio das técnicas de produção, multiplicação, conservação e o uso da semente, se vê constantemente prejudicado pela lógica irracional do uso de organismos vivos (OVM) e organismos geneticamente modificados (OGM), contrários às patentes e direitos de obtenção sobre uma semente de qualidade, soberana, orgânica e campesina que beneficie a diversidade biológica e ajude na preservação da vida e do planeta.

Essa hegemonia imposta pelo capitalismo na agricultura, provoca aos povos de todo mundo a pensar em estratégias que vislumbrem as sementes como um Patrimônio do povos e a serviço da Humanidade, e não como propriedade privada de meia dúzia de multinacionais.

Experiência nos Andes

Sementes do MST Bionatur. Foto: MST RS

Na Cordilheira dos Andes Venezuelanos, estado Bolivariano de Mérida, especificamente, no município de Rangel, paroquia Mucucchíes (Mucu= Lugar/Chíes=Ventos Frios), um território reconhecido pela produção de sementes de Papas (Batatas=nome batizado pelo ocidente), com mais de 80 variedades, e combinado, tem uma razoável produção de cenoura. Nesse território, atuamos conjuntamente com o PROINPA (Produtores Integrales del Páramo), em um Projeto de Produção de sementes de cenoura, afinal, saber plantar este alimento não corresponde automaticamente a conhecer o processo de colheita da semente “rubro”, o que é uma das debilidades dessa questão técnica produtiva nos Andes Venezuelanos.

Na construção dessa experiência de interação formativa e organizativa com os campesinos e campesinas do PROINPA, estamos trabalhando sustentado pelos valores pedagógicos do modelo organizado pelo Estado Bolivariano da Venezuela denominado “Alianza Cientifíco Campesina”, que promove transferência tecnológica a núcleos produtivos de sementes de cereais, leguminosas e hortaliças. No território merideño de Mucucchies, estamos num espaço geográfico determinado de 2.200 à 3.600 metros de altitude (acima do nível do mar) e um clima que, na média diária varia de 14°C à 22°C, condições necessárias para a produção de sementes de cenoura. Nisso, uma das variedades que apresenta adaptação de maneira gradual é a semente de Cenoura Paranoá, que pertence a BIONATUR SEMENTES AGROECOLÓGICAS, do MST, maior Cooperativa de Sementes de Hortaliças Agroecológicas da América Latina.

Nos últimos meses, estamos avançando “poco a poco”, como dizem os companheiros e companheiras venezuelanos, colhendo nossas primeiras sementes de cenoura neste território e fomentando fervorosamente nossa luta internacionalista. Comida de Verdade ser faz com semente de verdade.

*Editado por Solange Engelmann