Culinária

Você conhece o projeto da Cozinha Escola Para Brilhar Ilda Martins?

Espaço será lançado neste sábado (29), em São Paulo e será ponto de encontro para saberes e sabores sobre comida de verdade
“Cozinha é o coração da Agroecologia”
Imagem da Culinária da Terra, na III Feira da Reforma Agrária. Foto: Leandro Taques

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST

Você provavelmente já ouviu falar de uma cozinha escola: iniciativa no ensino de técnicas culinárias e de nutrição. No Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), essas iniciativas geralmente estão associadas com o princípio da Solidariedade Sem Terra, que inclui o combate à fome e a produção de alimentos saudáveis e sem agrotóxicos.

Nesta perspectiva, uma cozinha escola para o MST é um local pedagógico em que as pessoas se encontram para trocar conhecimentos sobre o manejo e o manuseio dos alimentos, para produções e preparações culinários, onde também se conversa sobre aspectos da alimentação, afirma Carla Bueno, do Setor de Produção do MST. 

A Cozinha Escola Para Brilhar Ilda Martins chega a São Paulo a partir da união e mobilização da rede de cozinheiras e ativistas do programa Gente É pra Brilhar, e de militantes da Reforma Agrária, simbolizadas na homenagem de Dona Ilda Martins, falecida em 2014. Em parceria com o grupo Prerrogativas, coletivo composto por advogados, juristas e defensores públicos, a Cozinha será inaugurada neste sábado (29), em São Paulo, junto com o lançamento oficial da IV Feira Nacional de Reforma Agrária, e a preparação de um banquetaço. 

“Nossa cozinha tem toda uma proposta de trazer a formação da questão agrária brasileira, a demanda por uma Reforma Agrária Popular, dialogando com a alimentação, que é quem cozinha, com as cozinheiras e cozinheiros”, projeta Carla.

Esta é a proposta da Cozinha Escola Para Brilhar Ilda Martins: que será um espaço de construção e de troca de conhecimento sobre como o alimento também impacta na nossa vida e como a gente precisa transformar os nossos sistemas alimentares atuais. 

Foto: Rafael Silva

“A ideia surgiu com a gente desenvolvendo o diálogo com as cozinhas que foram desenvolvendo ações de solidariedade, especialmente na pandemia. Foram diversas ações de solidariedade e muitas delas, talvez a grande maioria, eram lideradas por mulheres, que em suas cozinhas preparavam as marmitas para entregar às pessoas em vulnerabilidade alimentar. Estas ações continuam até hoje, porque a fome segue no nosso cenário”, lembra Carla Bueno.

“Temos muitos parceiros, e vamos formar uma CPP (Coordenação Político-Pedagógica) da cozinha para poder desenvolver o programa ou o projeto político desse espaço. E, junto das nossas formações, focar no desenvolvimento dos cursos dos agentes populares de Alimentação e Saúde”, explica Carla Bueno.

Esta é umas das mais nobres missões da Reforma Agrária Popular: produzir alimentos e uma alimentação saudável. Esse é um desafio central assumido com muita responsabilidade pelas famílias do MST, ao longo de quase 40 anos de organização, pois, ao fazer a luta pela Reforma Agrária, reivindicando que sua função social seja cumprida, novas formas de produzir e reproduzir a vida no campo passa a existir. 

E a agroecologia é assumida como bandeira e prática concreta, que se enraízam cada dia mais na dinâmica e no trabalho das famílias camponesas que vivem nos territórios de Reforma Agrária. Por isso, para Carla, a Cozinha Escola pode ser uma ferramenta importante para a sociedade brasileira para complementar essa prerrogativa, demonstrando o caminho entre produzir alimentos saudáveis do campo e levá-los até o prato da população. “É poder cozinhar esses alimentos e, ao mesmo tempo, ter autonomia sobre a nossa vida, sobre o nosso tempo, para poder preparar esses alimentos, porque é toda uma construção social que permite que isso seja possível”.

Se “precisamos resgatar o ato de cozinhar e mostrar isso para a sociedade”, como disse Carla Bueno, a ideia desta Cozinha Escola deverá estimular o processo de transformação de práticas alimentares que estejam em processos coletivos. “É uma cozinha industrial que foi fruto da luta popular; e na medida que a gente for se organizando, isso vai se consolidando”, afirma.

Foto: Rafael Silva

E é por isso que a cozinha também faz parte da ideia da solidariedade Sem Terra em que, mais que uma ação, a solidariedade é um valor, uma prática de vida. É necessário produzir comida para compartilhar e expressar a gratidão pela conquista da terra, expressa na medida em que compartilhamos com quem precisa parte de nossa produção, fruto de nosso trabalho.

“Essa cozinha será um instrumento de divulgação das danças, das ruas, dos nossos espaços, dessas outras cozinhas, para que possamos construir esses momentos formativos coletivos e possamos resistir frente à indústria dos ultraprocessados e que é a mesma indústria articulada ao agronegócio. Então, a ideia é que essas cozinhas possam se unir e aí possam compreender a realidade juntas e também resistir juntos a essa ofensiva forte que virá pela frente”, concluiu. 

*Editado por Solange Engelmann