Feira Nacional
Cooperativas levam a agroecologia gaúcha para a 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária em SP
Por Pedro Neves
Do Brasil de Fato | Porto Alegre
Diversas cooperativas e empreendimentos do RS estarão presentes na Feira Nacional da Reforma Agrária, organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que acontece na capital paulista a partir dessa quinta-feira (11), até o domingo (14), no parque Água Branca, em São Paulo.
A 4ª edição está de volta em 2023, cinco anos após a última edição. A expectativa do movimento é reunir 500 toneladas de alimentos dos acampamentos e assentamentos da reforma agrária de todas as regiões do país.
São esperados, ao todo, cerca de 1200 feirantes na capital paulista, que devem levar mais de 500 toneladas de alimentos, cultivados em assentamentos e acampamentos, vindos em 56 carretas de 23 estados brasileiros. Deste montante, 25 toneladas serão doadas em uma ação de solidariedade, no domingo (14).
Do RS, irá uma delegação com mais de 40 pessoas, que atuam em seis cooperativas e nos setores organizativos do MST no RS: Setor de Gênero, Frente de Massa, Juventude, Educação, Cultura, Saúde e Produção. É o que informa Djones Roberto Zucolotto, um dos responsáveis pelo setor de comercialização da Cooperativa Terra Livre.
As cooperativas do MST no estado estimam que irão para SP mais de 40 tipos de produtos: além do famoso arroz agroecológico e das sementes agroecológicas da Bionatur, estão sendo levados leite em pó, sucos, mel, farinhas, bolachas, feijão, vinhos, cervejas artesanais, salame, queijo, manteiga, geleias, molho e extrato de tomate, erva mate, macarrão, entre outros produtos não alimentícios como camisetas, por exemplo.
Ao todo, o MST já encaminhou cerca de 34 toneladas de alimentos, em uma carreta e um caminhão refrigerado, que já rumam para a capital paulista. Essa quantidade é o dobro do que foi mandado na última edição da Feira. Segundo Djones, o grande esforço do movimento em articular e divulgar o evento encorajou os empreendimentos a aumentarem as quantidades.
Diálogo com a sociedade
Além disso, ele afirma que a Feira vai muito além do que um espaço de comercialização, é também de celebração e resistência, onde se pode dialogar com a sociedade e órgãos públicos.
“Nossa expectativa é de que consigamos comercializar tudo o que está sendo levado. Mais importante ainda é que consigamos fazer um bom diálogo com a população e que a gente construa bons canais de comercialização, tanto no mercado convencional, quanto pela via institucional, através dos programas do PNAE, PAA, e outros”, completa Djones.
É nesse mesmo sentido que comentou Alcemar Adilio, coordenador geral da Bionatur, empresa cooperativa que é a mɑior produtorɑ de sementes ɑgroecológicɑs dɑ Américɑ Lɑtinɑ. Além das sementes, a cooperativa, que completa 27 anos de existência em 2023, está levando cerca de 30 variedades de hortaliças orgânicas.
“Queremos comercializar as sementes e as hortaliças, mas também fazer o diálogo com o público, formar clientes. Queremos que as pessoas conheçam o trabalho e a história da Bionatur”, afirmou Alcemar.
Projeto de sociedade com soberania alimentar
Para Salete Carolo, integrante da direção nacional do MST, a Feira Nacional, assim como todas as feiras que se realizam pelo Brasil, são importantes por dar a oportunidade de expor os resultados da agricultura camponesa. “A importância de produzir alimentos saudáveis a partir de um outro paradigma, que é a agroecologia e suas relações de trabalho através das cooperativas”.
Para o MST, e suas cooperativas e empreendimentos, as demonstrações de produtos ajuda a carregar a pauta de uma Reforma Agrária Popular, sustentada em uma matriz agroecológica de alimentos, que respeite o meio ambiente com utilização racional dos recursos naturais.
Papel fundamental da Feira é o diálogo com a população das cidades, fazendo a conexão da luta pela terra. Foto: Reprodução MST
Além disso, Salete explica que o movimento aposta em evidenciar, com as feiras, a existência de uma relação humana entre o campo e a cidade, mediada pela produção dos alimentos saudáveis. Também demonstra a forma como o MST enxerga as possibilidades de desenvolvimento econômico no campo.
“A Feira expressa a nossa forma de geração de trabalho e renda no campo, nessa perspectiva de inclusão social. A família toda se insere nas diferentes formas de trabalho, sejam homens ou mulheres, nas suas diferentes faixas etárias”, afirma.
A dirigente ressalta ainda que o fundamental é o diálogo com a população das cidades, fazendo a conexão da luta pela terra. “É o vínculo de quem produz o alimento com aqueles que são abastecidos. Da classe trabalhadora do campo com a da cidade, mostrando qual é nosso projeto político de sociedade.”
Além das barracas e de um viveiro de árvores, a Feira terá atividades formativas e também a “Culinária da Terra”: uma praça de alimentação com 30 cozinhas que servirão 95 pratos típicos de diferentes regiões do país.
A entrada é gratuita e a programação cultural inclui cerca de 200 artistas. Entre eles, Jorge Aragão, Gaby Amarantos, Johnny Hooker, Lenine, Alessandra Leão, Zeca Baleiro, Yago Opróprio, Tulipa Ruiz, Chico César, Lirinha e Alzira Espíndola.
Edição: Katia Marko