Reforma Agrária Popular
Acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio celebra 9 anos de luta, no PR
Por Setor de Comunicação do MST no Paraná
Da Página do MST
No último domingo (07), as 1.123 famílias Sem Terra do acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu e Nova Laranjeiras/PR, comemoraram 9 anos de resistência. A efetivação do assentamento também teve destaque na grandiosa festa da Reforma Agrária Popular.
A comemoração iniciou com a mística composta por duas fileiras de companheiras e companheiros que entraram no refeitório da Escola Itinerante Herdeiros do Saber, inaugurada em setembro de 2014, quatro meses após a ocupação da área pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Após o ato político, com a presença de autoridades da região e do Paraná, o delicioso almoço coletivo foi servido: churrasco, maionese e saladas. Para continuar o clima festivo, uma matinê à tarde e partilha do bolo de aniversário de 9 metros.
A mística abriu o dia de comemorações e de memória por toda a trajetória do acampamento. O aniversário foi ornamentado com bolo de 9 metros preparado pelas companheiras e diversas bandeiras do MST e do Brasil embelezando o local. Fotos: Danielson Postinguer
A mesa política foi composta por João Costa, assessor do deputado federal Zeca Dirceu; os deputados estaduais Professor Lemos e Drº Antenor; o prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, Sezar Bovino; o vereador Rivair representando o prefeito de Nova Laranjeiras, Altair Vrublak; e dirigentes do MST Jéssica Follmann e Laureci Leal.
Sezar Bovino garantiu que a prefeitura vai apoiar a comunidade a conquistar a terra. “Não tenham dúvidas que o Herdeiros da Terra será prioridade número 1 para virar assentamento”, declarou.
9 anos de produção de alimentos e solidariedade
No aniversário, camponesas mostraram a qualidade e diversidade da produção de alimentos e artesanato dentro do acampamento. Cuca, pão, cueca virada, broa de milho, bolacha, queijo, manteiga, cocada e rapadura, conservas, doces, bolos, crochê e artesanato em chinelo e muito mais estiveram à venda na feira da Reforma Agrária.
Organização das companheiras na feira. Foto: Thiarles França
O aniversário de 9 anos é fruto da organicidade da comunidade. Localizada na região Centro Sul do estado, a área foi ocupada em 1 de Maio de 2014, dia internacional de lutas da classe trabalhadora, por cerca de 3 mil pessoas: homens, mulheres e crianças com o sonho da terra. Mais de 22 mil hectares grilados de terra ainda estavam em posse da madeireira Araupel, antiga Giacomet-Marodin. Onde antes era coberto por pinus e eucaliptos, hoje é terra de diversidade, tanto de pessoas quanto de produção de alimentos saudáveis.
“Quem produz alimentos para a mesa dos trabalhadores somos nós!” afirmou Jéssica Follmann, da direção do acampamento. A fala de Jessica reforça a atuação do MST: libertar a terra para que toda a população possa comer bem, ainda mais quando dados apontam que 33 milhões de brasileiros passam fome (segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional).
Durante a pandemia, o MST se organizou a nível nacional para em ações de solidariedade com a classe trabalhadora da cidade em situação vulnerável. Com muito cuidado, as famílias d’O Herdeiros da Terra de 1º de Maio doaram sangue e mais de 4 toneladas de alimentos em Guarapuava e Pinhão, municípios da região.
Solidariedade não é dar o que sobra, mas partilhar o que se tem. Doação de alimentos na pandemia. Fotos: Jaine Amorin
O deputado estadual Professor Lemos agradeceu pelo convite e enfatizou a importância do Movimento. “O MST é o maior e mais importante movimento social do nosso país”, afirmou.
É preciso conquistar a terra, mas com políticas estruturantes. Tem que ter estrutura para os assentamentos e famílias. Precisamos também avançar na estruturação das Cooperativas”.
Transformar a realidade passa por diversas questões, além de conquistar a terra para trabalhar. A Reforma Agrária Popular representa saúde, moradia, terra, soberania popular para mulheres, homens e a juventude.
Reforma Agrária Popular também se faz com educação
A Escola Itinerante Herdeiros do Saber possui 18 salas de aula, que formam o pátio da comunidade central do acampamento. Além de sediar novamente uma festa da Reforma Agrária Popular, a escola atende cerca de 700 estudantes – do ensino infantil ao magistério – ensinando e preparando a juventude para a vida com muita diversão, organicidade e luta pelos direitos.
Crianças fizeram pinturas e aproveitaram a festa. A juventude vai manter a luta e a memória vivas. Fotos: Thiarles França
Acampamento recebeu visita de desembargador para conhecer a área, em 2022
Para conhecer a realidade concreta das mais de 1300 famílias que vivem na área, em setembro de 2022, Fernando Prazeres, desembargador e presidente da Comissão de Mediação de Conflitos Fundiários do Tribunal de Justiça do estado (CEJUSC) esteve no Herdeiro junto a demais autoridades do poder público.
Prazeres visitou duas comunidades, Guajuvira e Central, onde conheceu as Escolas Itinerantes Herdeiros do Saber I e II, além de unidades de produção de alimentos. Prazeres disse que “A comissão de assuntos fundiários do estado do Paraná tem como objetivo encontrar soluções de consenso para conflitos no campo de natureza coletiva. Para procurar essa solução de consenso, a comissão busca cumprir o preceito constitucional que diz que o juiz deve conhecer a área pessoalmente”.
Na ocasião, Laureci Leal, dirigente do MST, apontou como o Herdeiros beneficia a cidade e busca um direito garantido. “Rio Bonito do Iguaçu é um município abençoado por ter aproximadamente 3 mil famílias assentadas e acampadas, gerando emprego e movimentando o comércio local. É preciso unir forças para resolver os problemas, buscando uma solução dialogada. Os Sem Terra têm direito ao acesso à terra, está na Constituição Federal, artigo 5º. Por isso cabe ao Estado brasileiro realizar a reforma agrária”, enfatizou.
Em audiência, realizada em fevereiro de 2023, a área foi oferecida ao INCRA para compra, no entanto ainda não foi anunciado a possibilidade concreta de assentamento das famílias.
Há 9 anos, o acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio tem transformado um deserto verde de eucalipto e pinus, que degrada o solo e negligencia a biodiversidade, em terra livre e de fartura. A disputa é antiga: as ocupações na região começaram em 1996 com denúncia das grilagens da madeireira Giacomet-Marodin, atual Araupel. Naquele mesmo ano, o MST realizou a maior ocupação de terra da história do Movimento, simbolizando um território de vida, estudo, produção de renda, trabalho, moradia e esperança para milhares de famílias Sem Terra.
Acompanhe informações da comunidade pelo Instagram e Facebook, e confira aqui como foi a ocupação da terra.
*Editado por Fernanda Alcântara