Alimentação Escolar

Consumo de ultraprocessados é questionado durante Feira da Reforma Agrária

Atividade debateu a necessidade de resgatar a cultura alimentar tradicional nas escolas. O seminário contou com a participação de feirantes, estudantes e pesquisadores.
Atividade contou com participação do IDEC, ÓAÊ, NUPENS/USP E MST. Foto: Juliana Barbosa.

Por Mariana Castro
Da Página do MST

Para além de comercialização, a IV Feira Nacional da Reforma Agrária também é um espaço de cultura e formação, que está se dando através da realização de seminários durante a manhã e a tarde com temáticas relacionadas às pautas do movimento.

Na manhã desta sexta-feira (12), o seminário “Desafios da Alimentação Saudável e nutrição na educação escolar” destacou o aumento do consumo de ultraprocessados no Brasil e a importância de políticas públicas para o resgate da cultura alimentar tradicional, especialmente nas escolas.

Gabriela Cruz, do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS/USP) apresentou a relação dos alimentos ultraprocessados e a saúde, alertando para o aumento do consumo entre adolescentes, com 27% da alimentação concentrada em ultraprocessados e idosos, com 15%.

Por meio de dados, pesquisadora denuncia impacto dos ultraprocessados à saúde. Foto: Juliana Barbosa

A pesquisadora alerta para o alto investimento de multinacionais de alimentos e bebidas em estratégias de marketing, que vão desde as prateleiras de supermercado até a glamorização desse tipo de alimento em filmes e séries.

“Temos um estímulo muito grande deste tipo de alimento. Nas promoções, próximos ao caixa ou filas, os produtos em destaque são sempre os ultraprocessados, inclusive com prateleiras adaptadas para o alcance de crianças. Tudo isso é pensado e planejado pelas indústrias”, explica Gabriela.

Supermercado flutuante percorre 27 cidades ribeirinhas da Amazônia. Foto: Divulgação.

Gabriela aponta que comunidades que ainda possuem uma relação cultural com o alimento saudável, como ribeirinhos e camponeses, são cada vez mais alvos das grandes indústrias, citando como exemplo o supermercado flutuante da Nestlé no Amazonas.

Inclusive a Nestlé, maior empresa de alimentos do mundo reconheceu em documento interno que mais de 60% dos seus produtos, inclusive os destinados à alimentação infantil, não são saudáveis para o consumo humano.

Em contrapondo às grandes indústrias, Giorgia Russo, nutricionista e consultora técnica do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC) reforçou a importância de resgatar a relação humana com os alimentos desde a infância, o pertencimento à cozinha e ao ato de cozinhar.

Consultora do IDEC reforça a importância do resgate das relações humanas com o alimento. Foto: Juliana Barbosa

“Desde as nossas festas, quando comemoramos algo com refrigerantes e salsichas, acabamos ensinando às crianças que os ultraprocessados estão relacionados à alegria, ao prazer. Porque não comemoramos com frutas? com pamonha?”, alerta Giorgia.

Pela retomada dos investimentos em alimentação escolar

Pensando nisso, a escola se destaca como um espaço de inserção de políticas públicas que garanta o acesso a alimentos saudáveis e restrinja a oferta de produtos ultraprocessados, a exemplo do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que recebeu altos cortes e praticamente foi extinguido durante o governo Bolsonaro.

“Nas escolas a gente tinha cozinha em que diariamente eram abertas latas e a alimentação era servida aos alunos, mas hoje projetos se esforçam no sentido de oferecer alimentos frescos, cozidos e nutritivos”.

A feirante e militante do MST do Maranhão, Irismar Pereira, uma das ouvintes do seminário denunciou que no ano de 2020, os produtores da agricultura familiar sequer tiveram acesso ao PNAE, que oferece alimentos agroecológicos para as escolas do estado.

Em abril deste ano, o governo Lula anunciou um aumento de até 39% no valor repassado à merenda escolar e reajuste no investimento ao PNAE, que há seis anos estava estagnado.

“O Brasil ainda está em um momento que podemos resgatar e precisamos também preservar um padrão alimentar saudável. O nosso padrão ainda é saudável, mas a indústria é que está nos forçando a consumir ultraprocessados”, reflete Giorgia.

*Editado por Diógenes Rabello