Comida de Luta

Mulheres do Pará compartilham sabores da Amazônia no espaço Culinária da Terra

Associação AMACAMPO assumiu a cozinha do Pará na 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, em São Paulo, com pratos da cadeia produtiva da mandioca e outros alimentos de assentamentos de Belém

AMACAMPO trouxe para o espaço Culinária da Terra diferentes pratos típicos da Amazônia. Foto: Filipe Augusto Peres

Por Camila Fróis
Da Página do MST

Formada por um coletivo de cerca de 100 mulheres que vivem em assentamentos da Reforma Agrária na Ilha do Mosqueiro, a 72 quilômetros da capital paraense, a Associação de Mulheres Agricultoras (AMACAMPO) trouxe para o espaço Culinária da Terra diferentes pratos típicos da Amazônia, como o pato no tucupi, a maniçoba, o tacacá, o arroz paraense e o vatapá vegano.

A Associação foi formada para fortalecer a solidariedade entre as mulheres e o protagonismo delas no MST, a partir de suas práticas como agricultoras nos assentamentos Paulo Fonteles, Elizabete Teixeira e Mártires de Abril (sobreviventes do Massacre de Eldorado do Carajás). A maioria delas atua na produção da mandioca e de toda a sua cadeia produtiva, que envolve a maniçoba, o tucupi, a goma e o beiju, além dos pratos criados com esses elementos tão representativos da cozinha da região Norte.

Para a gente, a nossa cultura alimentar é uma cultura de resistência, que não só é muito saudável e muito importante para a economia da Amazônia, mas é também uma forma da gente manter viva a nossa ancestralidade. Tudo que a gente faz aqui tem ancestralidade da Amazônia”, conta Teófila Nunes, 71, conhecida como dona Teo, uma das agricultoras que comanda a cozinha do Pará na 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária. 

Foto: Filipe Augusto Peres

Dona Téo mora no assentamento Mártires de Abril, no chamado Lote Agroecológico de Produção Orgânica (Lapo), que se tornou referência para estudiosos e pesquisadores no campo da Agroecologia de todo o Brasil. O Lapo é fruto da dedicação e luta dela com o esposo, Mamede Gomes, assassinado em seu lote no dia 22 de dezembro de 2012.

Segundo agricultora, a organização das agricultoras através da AMACAMPO proporcionou a autonomia e a independência de mulheres que eram muito vulneráveis e dependentes economicamente de seus maridos. Hoje, elas comercializam seus produtos no seu próprio lote agroecológico e, também, em diversas feiras orgânicas do estado e eventos do MST em todo o Brasil. 

Ela conta ainda, que a Associação ajudou no autorreconhecimento delas como agricultoras “Sem Terra”, como sujeito político e de direitos e deveres, bem como na sua valorização dentro do Movimento. “Muitas não tinham dinheiro nem para comprar um absorvente, hoje, além de ter sua própria renda, várias conseguiram estudar e até fazer universidade, viajam, participam de eventos em tantos lugares”, complementa a associada.  

*Editado por Solange Engelmann