CPI do MST

Resistir ao ódio do agro e ataques ideológicos são desafios atuais para a Reforma Agrária

Na 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, MST e ABJD debateram o crescimento da violência no campo e instalação de CPI; Feira vai até final da tarde de hoje (14), no Parque Água Branca, em SP
Ouvidora Agrária Nacional diz que aumento no número de conflitos tem relação direta com o crescimento dos crimes de ódio. Foto: Matheus Alves

Por Vanessa Gonzaga
Da Página do MST

Num contexto de retomada da democracia, os desafios para avançar na construção da Reforma Agrária Popular são diversos, mas um deles é urgente: a resolução dos conflitos no campo, que são uma realidade em 80.165.951 hectares de terra de todo o território nacional, de acordo com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT).

A Ouvidora Agrária Nacional, Claudia Dadico ressalta que o aumento no número de conflitos tem relação direta com o crescimento nos crimes de ódio contra trabalhadores e trabalhadoras rurais organizados.

O ódio agora não é só direcionado contra o trabalhador, mas contra o trabalhador organizado. O trabalhador rural organizado passou a ser uma peça muito incômoda, que atrapalha esse projeto trazido pela extrema direita. Esse ódio é um projeto dessa nova ordem mundial do neoliberalismo”, explica a jurista.

Claudia Dadico. Foto: Matheus Alves

Dadico, que também é membra da Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD), esteve na 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontece até o final da tarde deste domingo (14), no Parque Água Branca, em São Paulo, onde participou do Seminário “Reforma Agrária, Conflitos e Desafios da Atualidade” e falou sobre a organização da extrema direita no Brasil para criminalizar os movimentos populares a partir de medidas no Congresso e no Judiciário.

A jurista ressalta que esse ódio se materializa também em ataques ideológicos, a exemplo da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do MST, articulada por bolsonaristas e pela bancada ruralista na Câmara dos Deputados, que é a quinta tentativa de criminalização do movimento através de comissões parlamentares. “Não é uma CPI qualquer. Estão colocando como relator o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles (PL). Além disso, essa estratégia de criminalização via CPI acontece também nos estados. Nas assembleias legislativas estão propondo CPI’s estaduais”, alerta a ouvidora.

Ayala Ferreira comentou sobre como o MST vem encarando a notícia da CPI. Foto: Matheus Alves

Dirigente do MST no estado do Pará, Ayala Ferreira também comentou no seminário como o movimento vem encarando a instalação da CPI. “As perguntas que deram razão para a leitura do requerimento feito pelo Arthur Lira (PP) são perguntas que não demandariam uma CPI. Saber qual é a finalidade do MST? Nós estamos há 40 anos dialogando com a sociedade brasileira do porquê nós existirmos e a feira é uma expressão concreta dessa razão. A CPI custa recursos e paralisa um Congresso que deveria estar cuidando de tantas outras pautas importantes para a sociedade brasileira”, afirma.

A análise da dirigente é de que a CPI é uma ferramenta para inviabilizar os crimes ligados ao agronegócio no país. “Nossa leitura sobre a CPI e todas essas ações organizadas é que é um processo para esconder os verdadeiros crimes do agronegócio e do latifúndio no campo. Fazer com que a sociedade fale sobre o MST, mas não fale do trabalho escravo, que tem sido um elemento presente no desmatamento, na grilagem, do uso intensivo de agrotóxicos, da fome. É um esforço de criar uma confusão para esconder seus verdadeiros crimes, que seriam sim pauta de uma CPI no Congresso”, explica Ayala.

Segundo ela o MST não tem o que temer com a CPI. “Nós não temos medo da CPI porque não temos medo do bom debate”, finaliza.

*Editado por Solange Engelmann