Feira Nacional

Cooperativas do MST mostraram diversidade produtiva dos assentamentos na 4ª Feira Nacional

O MST também vem avançando na organização de cooperativas na região Nordeste e Norte, em que se destacam a cadeia de produção de mel e cacau
Fred Santana, assentando e produtor do chocolate “Eco Raízes”, de Ariquemes (RO), comemora a produção exposta na 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária em SP. Foto: Juliana Barbosa

Por Jaine Amorin e Solange Engelmann
Da Página do MST

O cooperativismo e a produção de alimentos no MST só é possível porque os Sem Terra, primeiro ocupam terras improdutivas. A prova disso foi a 4ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que ocorreu entre o dia 11 e 14 de maio, no Parque Água Branca, em São Paulo.

A Feira apresentou uma mostra da grandiosidade e diversidade produtiva do MST e sua capacidade organizativa, que transforma territórios e vidas. Organizado por trabalhadores e trabalhadoras rurais, desde sua origem o MST luta pela Reforma Agrária Popular que transforma latifúndios em territórios de diversidade de pessoas e de produção de alimentos, com vida e dignidade. 

A luta pela terra não está desvinculada da dimensão econômica, e é o primeiro passo para que milhares de Sem Terra possam produzir alimentos e organizar a cooperação agrícola. As 450 mil famílias assentadas buscam fortalecer a cooperação na organização coletiva de empreendimentos que ajudam a fortalecer a produção, industrialização e a comercialização dos alimentos. Já são mais de 160 cooperativas, 120 agroindústria e 1.900 associações organizadas nos 24 estados em que o MST está presente.

Sheila Rodrigues, assentada no estado do Ceará e dirigente do Setor de Produção do MST, conta que o desafio do MST é avançar cada vez mais na organização de cooperativas. “A gente tem muitas experiências de associação, mas a associação elas são limitadas do ponto de vista da comercialização. Então quando a gente avança no processo de organização da produção também é preciso avançar no processo de organização das nossas estruturas, nossas empresas sociais e a cooperativa vem com esse papel.”

Produtores do assentamento 14 de Agosto, de Ariquemes, trouxeram ao menos 20 produtos diferentes, derivados de cacau, para a Feira Nacional. Foto: Juliana Barbosa

Sheila ainda destaca que, para o MST, a compressão sobre a cooperação é muito mais ampla que a criação de cooperativas.

O MST sugere, antes do cooperativismo, das cooperativas em si, o processo de cooperação agrícola que é muito mais amplo. É uma concepção de solidariedade, de compartilhar, mas também de avançar no processo organizativo das famílias e a cooperação é um instrumento que o MST tem de organizar sua produção, as experiências produtivas, mas sobretudo avançar no processo da  organização política dos trabalhadores”.

Ela destaca que por meio da organização de cooperativas é possível pautar e acessar políticas públicas como Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).

Produção de cacau e mel

Chocolate “Eco Raízes”, produzido em assentamento do MST em Rondônia. Foto: Juliana Barbosa

A maior parte das cooperativas estão em regiões como Sul e Sudoeste, mas o MST também tem avançado na criação e organização de cooperativas nos estados do Nordeste e no Norte. Sheila ressalta que no Ceará a produção de mel e no Maranhão a produção de cacau são experiências que se destacam nesse processo. Segundo ela, ambas culturas têm um potencial de serem cadeia produtivas inter regionais, e, especificamente, “no caso do mel ser uma cadeia organizada com uma sintonia nacional, pois o mel é produzido em todo o Brasil.”

“A nossa produção do cacau chegou aqui na Feira Nacional com 20 produtos diferentes, derivados do cacau, em especial o chocolate que veio em maior quantidade”, relata Fred Santana, jovem assentando, e coordenador da associação de jovens que produz o chocolate “Eco Raízes”, no assentamento 14 de Agosto, localizado no município de Ariquemes, no estado de Rondônia. 

Fred destaca ainda que o cacau é uma espécie da Amazônica utilizada pelas famílias assentadas em agroflorestas, em recuperação de nascentes por ser uma árvore que ajuda na recuperação do solo e na geração de renda das famílias.  

A espécie leva de três a quatro anos para produzir, após seu plantio, e o processo para a coleta e industrialização do seu fruto é feito de forma toda artesanal desde a colheita, quebra, fermentação, secagem e descascamento da amêndoa. Dentre os principais derivados, Fred destaca, o suco, licor, mel de cacau e o nibs que é produzido o chocolate.

Lyna Malheiros visitou a feira, provou o chocolate de Rondônia e levou pra casa. Foto: Juliana Barbosa

Lyna Malheiros, visitante da feira, experimentou o chocolate produzido pela “Eco Raízes” e aprovou. “Eu nunca tinha comido chocolate de Rondônia e assim eu comi um pedacinho. Eu já falei, nossa que delícia! Eu realmente adorei. Na hora eu já olhei e falei, gostei muito, adorei, foi paixão.”

A produção de mel realizada pela Cooperativa Regional dos Trabalhadores Apícolas Assentados e Assentadas da Reforma Agrária (COOPERAMEL), destacada por Sheila, é uma cooperativa regional, situada no município de Mombaça, no sertão do Ceará, semiárido nordestino, e também estava presente na Feira Nacional, levando a marca do Ceará, Terra Conquistada. A COOPERAMEL conta com a capacidade de industrialização, de mais de 32 kg de mel por mês.

A feira também teve Mel da COOPERAMEL de assentamento do Ceará. Foto: Juliana Barbosa

Por ser uma cadeia produtiva nacional, o mel está presente em vários assentamentos do MST, como explica Jorge Barbosa, do setor de saúde o MST, que mora no assentamento Dom Thomas Balduíno, em Franco da Rocha, Grande São Paulo. O assentamento conta com a produção de 300 colmeias de mel, dívidas em 63 lotes.

“A gente produz mel todos os anos. O nosso mel é natural. No nosso assentamento a gente não produz com veneno, mas as abelhas vão longe pra captar as flores. Produzimos alguns quilos de mel por ano e a gente trás a produção pra vender na cidade”, explica Jorge.

Mel de verdade é essencial para a saúde

Com efeitos no fortalecimento do sistema imunológico, colaborando com a boa digestão, o mel ainda possui benefícios por ser anti-séptico, diurético, antioxidante, calmante, e expectorante. Diante disso, Jorge comenta sobre a importância do mel para a saúde, contribuindo em várias curas, além de ser usado na produção de fitoterápicos. “Eu utilizo o mel também nos cosméticos, em cremes hidratantes e alguns shampoo que produzo. O mel tem bastante utilidade, principalmente esse mel que a gente produz, que não tem aditivos químicos, a gente pega direto das colmeias, envasa e manda pra cidade”, comemora.

O Mel é muito conhecido por ajudar a combater gripes, infecções na garganta e pode ser potencializado ao ser associado a outros derivados produzidos pelas abelhas, como o própolis, o pólen e a geléia real. O própolis e o polén também são produzidos pelas famílias do assentamento Dom Thomas Balduíno, que pretendem a sua produção.

Jorge Barbosa, do setor de saúde o MST e do assentamento Dom Thomas Balduíno, em Franco da Rocha (SP), falou da importância do mel da Reforma Agrária para a saúde. Foto: Juliana Barbosa

Mas, o benefícios desse produtos podem ir além quando o produto é fruto de um território conquistado à partir da luta pela democratização da terra e os produtos cultivados e confeccionados sem uso de produtos químicos, agrotóxicos e de forma artesanal.

“A gente não produz industrialmente, é tudo manual e artesanal. Essa é a grande diferença, que não tem aditivos químicos e nem é manuseado em grande escala, ficando mais puro e mais saudável. Todos os assentamentos do MST tem essa preocupação, de não trabalhar com produtos químicos, então a gente pode afirmar que nosso mel é saudável e que faz muito bem à saúde”, ponta Jorge.

O assentado também trabalha com fitoterápicos, cosméticos naturais e práticas integrativas de saúde, como a massoterapia, reflexologia e com um tipo de terapia, chamado “o amor como forma de energia”, que parte do princípio, “que tudo que se move, tudo que vem da terra, das águas, das matas, do ar é energia. E a gente capta essa energia pra beneficiamento de curas e saúde”, relata.

*Editado por Fernanda Alcântara