LGBT Sem Terra

“Não se constrói agroecologia com relações doentes”, afirma dirigente nacional LGBTI+ Sem Terra

Curso de Agroecologia, Saúde e Diversidade Sexual reuniu Sem Terra de três grandes regiões do país entre os dias 13 e 18 de junho no PR
Visita de Campo. Foto: Wesley Lima

Por Wesley Lima
Da Página do MST

“Ter contato com alguns conceitos e práticas em torno da Agroecologia têm sido um dos objetivos do Curso. A construção dessa iniciativa nos anima para voltar aos nossos territórios para seguir lutando por alimentos saudáveis, por seguir lutando pela solidariedade entre os povos, pelo cuidado com o meio ambiente e nas campanhas que o Movimento já têm desenvolvido”, afirma Flávia Tereza, também conhecida como Flavinha, integrante da direção nacional do Movimento Sem Terra pelo Coletivo LGBTI+ do MST, no encerramento do Curso de Agroecologia, Saúde e Diversidade Sexual.

As atividades aconteceram entre os dias 13 e 18 de junho, na Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), localizada no assentamento Contestado, no município da Lapa (PR). O curso reuniu lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, pansexuais e não binários Sem Terra das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Nesta primeira edição do curso, os espaços de formação contaram ainda com a presença de indígenas do Mato Grosso do Sul e do Paraná, e com a presença de um integrante da Organização de Mulheres Camponesas e Indígenas (Conamuri), do Paraguai.

O curso propôs construir um espaço de formação e debate com o objetivo de envolver as LGBTI+ do campo no fomento das questões teóricas e práticas da agroecologia, saúde popular e do debate da diversidade sexual nos assentamentos e acampamentos da Reforma Agrária.

A programação contou momentos de estudo em plenária, em coletivo, a partir de pequenos grupos de trabalho e diversas atividades de campo, como a realização de uma visita a área de agrofloresta do assentado Elias e de sua família. Temas como a “Conjuntura Brasileira: desafios e perspectivas”, “Capitalismo, Patriarcado e Racismo”, “Agroecologia, Território e novas Relações Humanas”, “Saúde Mental e Autocuidado”, entre outros, também fizeram parte da programação.

Feliz com o resultado da formação, Flavinha conta que o curso fez o Movimento iniciar esse debate, com o objetivo de construir novos espaços de estudo e reflexão coletiva. “Para nós é fundamental também trazer as relações humanas, pois não se constrói agroecologia com relações doentes”, destacou.

Ela explicou também que o coletivo LGBTI+ Sem Terra já tem um tempo histórico, no ponto de vista do estudo coletivo. “A gente já debateu a organicidade, passamos pela temática da saúde, com algumas iniciativas realizadas no período da pandemia e pós, e agora a gente chega na agroecologia. Somos do corte de arame. Nós temos sujeitos LGBT que vem construindo os seus territórios, que são de acampamentos e de assentamentos, que tem o cultivo com a terra, que tem esse cuidado, e por isso, é fundamental seguir nos estudos e na formação coletiva”.

Escola Latino Americana

A Escola Latino Americana de Agroecologia é uma iniciativa da Via Campesina que recebe militantes da América Latina e Caribe para que possam aprender e disseminar a agroecologia.

O assentamento Contestado, área escolhida para construção da escola, é uma comunidade do MST. Atualmente, a ELAA está com quinta turma de Tecnologia em Agroecologia, que conta com estudantes de várias estados do Brasil, além de Paraguai e Argentina, e de diversos movimentos sociais; com a segunda turma de Licenciatura em Educação do Campo (parceria com a UFPR – setor litoral) com estudantes de vários estados brasileiros e diferentes territórios, acampamentos e assentamentos, aldeias e Quilombos; E a segunda turma de Especialização em Educação do Campo Realidade brasileira a partir de seus pensadores, (parceria UFPR Litoral) com educadoras/es populares de vários segmentos.

Sobre a experiência de receber o Curso de Agroecologia, Saúde e Diversidade Sexual, Amandha Silva Felix, da direção política da Escola, afirmou que o curso tem um significado muito importante pelo território, pelo espaço, e também, pelo contexto político atual.

“A realização do curso nos ajuda a reposicionar estrategicamente o debate da agroecologia. A ideia é que a gente consiga superar o debate, que se colocou por muito tempo, que a agroecologia é voltada apenas para a matriz produtiva. A ideia é debater quem são os sujeitos que constroem a agroecologia, demonstrando que essas pessoas, e as questões objetivas e subjetivas, também fazem parte da construção de nossa transição agroecológica”, concluiu Felix.

Dicionário de Agroecologia

Durante o encerramento do Curso foi apresentado o Dicionário de Agroecologia e Educação e alguns dos educandos foram certificados por terem participado, em 2022, do Curso de Desenvolvimento Profissional de Educadores e Educadoras Populares em Saúde LGBTI+ do Campo e Prevenção de IST/HIV/AIDS.

A construção do Dicionário e a realização do Curso se deram em parceria com a Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A publicação é uma obra coordenada pelo MST e em parceria com a Editora Expressão Popular.

A certificação dos educandos é um dos desdobramentos do projeto “Saber Protege: Saúde e Prevenção de Epidemias e Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST/HIV no campo”, que atuou na promoção da saúde da população LGBTI+ no campo, reafirmando os princípios da universalidade, da integralidade e da participação social do Sistema Único de Saúde (SUS). O espaço contou com a presença da professora-pesquisadora da EPSJV, Anakeila Stauffer.

Confira fotos do curso: