Reforma Agrária Popular

Debates e rodas de conversa movimentam primeiro dia da Feira da Reforma Agrária, em BH

Função social da terra e produção de alimentos saudáveis foram temas das atividades desta sexta-feira (14) na Feira organizada pelo MST, como um espaço para pensar um novo projeto de Brasil
Entre as atividades formativa, o MST promoveu três rodas de conversa abertas ao público no primeiro dia de Feira no Parque Municipal. Foto: Dowglas Silva

Por Flora Villela e Agatha Azevedo
Da Página do MST

Começou a 4ª Feira Estadual Da Reforma Agrária do MST em Minas Gerais e com ela, além de culinária da terra na Cozinha da Roça, feira livre com produtos de todas as regiões do estado e também acontecem atividades culturais durante todo o fim de semana. O Movimento promove o debate político acerca da realidade brasileira e do projeto da classe trabalhadora, que defende e tem a tarefa de construir para o país. 

Como abertura das atividades formativas da atividade, o MST promoveu três rodas de conversa abertas ao público durante o primeiro dia de Feira no Parque Municipal. Pensadas como ferramentas de diálogo com a sociedade, fizeram parte da programação desta sexta-feira (14), os seguinte temas: A função social da terra; Por Reforma Agrária Popular: Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis; e Resultados e desafios da agricultura camponesa em acesso ao mercado institucional. Além disso, também houveram os espaços de vivências sobre a saúde da mulher e o corpo preto. 

A roda “Por Reforma Agrária Popular: Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” aconteceu na tenda formativa dos Programas Populares de Recuperação Ambiental da Bacia do Rio Doce e do Paraopeba, projetos de iniciativas do MST que visam a recuperação dos territórios atingidos pelos crimes da mineração no estado de Minas Gerais, e do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis do Movimento

No Paraopeba, o MST implementou 10 hectares de sistemas agroflorestais e plantou 30 mil mudas frutíferas, além de garantir a produção de 5,6 hectares de cultivos anuais, e 34 variedades de milho, amendoim, feijão, soja, abóbora e mandioca. Já no Vale do Rio Doce, foram cinco projetos de implementação de sistemas agroflorestais (SAF), 10 projetos de comercialização, um projeto de certificação orgânica e dez projetos técnicos de irrigação, que garantiram o avançar da produção Sem Terra. Nesse período foram 2,5 hectares de SAF implementados na região. 

 

Foto: Mirelly Martins

Além da troca de experiências entre os programas e a partilha com as pessoas que participaram da conversa, o debate pautou a agroecologia nos processos produtivos e a preservação ambiental como bases do modo de produzir do Movimento.

Segundo Paula Ribeiro, do Setor de Produção, a Feira Estadual é um grande encontro do MST com o povo da cidade, “para partilhar e compartilhar todos os frutos da nossa luta, isso inclui as ideias e projetos, assim nossa roda vai debater os acúmulos do Plano Nacional Plantar Árvores para a preservação ambiental e a produção de alimentos saudáveis”. 

Nesta mesma linha, Viktor Marques, coordenador do projeto de assistência técnica da Bacia do Paraopeba, sustenta que “fazemos esse espaço do Plano Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis na Feira no intuito de ter esse diálogo com a sociedade na forma de produzir e cuidar dos bens da natureza, acreditando que só com a aliança entre os acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária e o conjunto da sociedade, é que conseguiremos avançar em um modelo de produção agroecológico. Esse é o intuito do espaço do Plano na Feira, entendendo a Feira não só como um espaço de demonstração de produção mas de diálogo, arte cultura e de colocar as nossas ações no âmbito da agroecologia e cooperação para a população.” 

No espaço ligado aos “resultados e desafios da agricultura camponesa em acesso ao mercado institucional” a conversa aconteceu com a participação de representações de diversas cooperativas do MST de vários estados. 

O diálogo tratou  dos acúmulos no acesso ao mercado institucional via programas tais como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que garantem a comercialização e ao mesmo tempo possibilitam a alimentação saudável em espaços como as merendas escolares. 

Um destaque importante é a estratégia que aglutina a ação de diversas cooperativas e possibilita o acesso “a mercados que isoladas as cooperativas não seriam capazes de acessar”, afirma Beatriz do Assentamento Olga Benário, na Zona da Mata (MG). Segundo ela, esta “é uma estratégia do Movimento para a comercialização e escoamento da produção e para levar alimentos saudáveis para o mercado institucional a nível nacional.” 

Já no espaço sobre a função social da terra, o debate girou em torno da importância política  da ocupação de terras e da necessidade de compreensão dos processos de luta como fundamentais para a produção de alimentos, ações de solidariedade, ações culturais e todos os demais processos do movimento. 

Foto: Mirelly Martins

Ênio Bohnenberger, dirigente estadual do Setor de Formação do MST, apontou para a relação estruturante que a terra tem na vida e na sociedade. “Desde a sedentarização do homem, a terra tem uma função social para a comunidade que a habita, ninguém fabrica a terra e por isso nossa compreensão é que como um bem da natureza ela não pode ser tratada como uma propriedade comum”. E complementa: “a função social da terra é produzir alimentos de qualidade para a comunidade brasileira, o agronegócio não cumpre essa função, produzindo somente para exportação, a terra tem que estar a serviço dos homens e mulheres que nela produzem.”

*Editado por Solange Engelmann