Apartheid israelense

Movimentos de favelas, periféricos, negros e indígenas da América do Sul visitam a Palestina

A delegação se encontrou com comunidades palestinas em luta, compartilhando experiências de organização e mobilização
Encontro da delegação com beduínos ameaçados por alargamento de avenida no Vale do Jordão. Foto: Thaís Siqueira

Da Página do MST

Sete delegades de movimentos favelados, periféricos, negros e indígenas de Brasil, Colômbia e Equador foram à Palestina para conhecer a realidade do apartheid, colonialismo e ocupação militar israelense. A delegação se encontrou com comunidades palestinas em luta, compartilhando experiências de organização e mobilização.

Entre os movimentos representados na delegação estão o Movimento Negro Unificado (MNU), a Rede Nacional de Mães e Familiares de Vítimas do Terrorismo de Estado, a Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência, a articulação internacional Julho Negro do Rio de Janeiro, a Frente de Evangélicos pela Direita Estatal e a Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas no Brasil, bem como a Confederação de Povos da Nacionalidad Kichwa no Equador (ECUARUNARI) e o Processo de Comunidades Negras (PCN) na Colômbia.

Gizele Martins e da Articulação Julho Negro explica: “Passamos uma semana visitando muitos lugares e testemunhamos como o povo Palestino resiste há décadas à militarização, ao racismo e ao apartheid perpetrados pelo Estado de Israel. Ouvir os depoimentos e ver com nossos próprios olhos os massacres que o povo Palestino sofre, é entender que eles são um grande laboratório de uma política que impacta também a vida das pessoas negras, pobres, indígenas, quilombolas, faveladas e periféricas em toda a América Latina e no mundo”. 

Encontro da Delegação, com a Família do mártir de Turmos Aya Omar Hisham Abu Kuten Al-Jibara, morto pelo exercito de Israel em junho de 2023.
Encontro da delegação com beduíno no Vale do Jordão. Fotos: Thaís Siqueira

Cristiana Dos Santos Luiz do Movimento Negro Unificado diz: “Os direitos humanos da população palestina seguem sendo violados pelo Estado israelense. O mundo está fechando os olhos, precisamos da comunidade internacional e dos movimentos ao redor do mundo pautando a luta palestina. Nosso objetivo foi trocar experiências e transformar esses encontros em solidariedade concreta com o povo palestino e construir laços duradouros entre o povo palestino e nossas lutas locais”.

Depois das delegações do México e dos movimentos negros, indígenas e latinos nos EUA, esta é a terceira delegação ‘Mundo sem Muros’, convidada pela Campanha Popular Palestina contra o Muro do Apartheid (Stop the Wall). A iniciativa Mundo sem Muros surge não apenas de um reconhecimento do que “muros” físicos e imateriais de injustiça estão crescendo rapidamente em todo o mundo, mas cria espaços onde é necessário levantar nossos olhares além das crises cada vez piores que os povos em todo o mundo estão enfrentando. “Vemos além dos muros, percebendo as lutas dos outros povos e as conexões entre eles”, anuncia a Campanha Stop the Wall.

Delegação em campo de refugiados de Aida.
Beduínos no Vale do Jordão.
Casas de beduínos ameaçados por alargamento de avenida no Vale do Jordão. Fotos: Thaís Siqueira

Fernando Cabascango da Confederacão de Povos da Nacionalidad Kichwa no Equador (ECUARUNARI) comenta: “Demandamos a nossos governos que tomem ação concreta para responsabilizar ao regime de apartheid de Israel, começando com um embargo militar imediato. Pedimos que apoiem ativamente o chamado palestino para que as Nações Unidas reconheçam que Israel comete o crime contra a humanidade de apartheid e que reativem o Comitê Especial da ONU contra o Apartheid.”

Mãe e filho em frente a sua casa em Masafer Yata. Foto: Thaís Siqueira

Jamal Juma’, coordenador da Campanha Stop the Wall diz que “o regime de apartheid de Israel, a conquista de nossa terra e a limpeza étnica do povo indígena palestino é uma prática enraizada no colonialismo europeu. Sentimos, portanto, um profundo vínculo com a luta dos povos negros e indígenas contra o racismo estrutural, o roubo de terras e o genocídio hoje na América Latina.

Visita da delegação na casa em Turmos Aya, incêndiada pelo exercito israelense em junho de 2023.
Cidade de Singel, com as quatro entradas fechadas pelo exercito israelense, impedindo que moradores entrem ou saiam da cidade. Fotos: Thaís Siqueira

“Estamos honrados em receber esta delegação e somos confiantes de que esta união não apenas apoiará nossa luta contra o apartheid israelense, mas também fortalecerá nossa luta coletiva por justiça, liberdade e igualdade”, relata Jamal.

A delegação também vai focar no apoio concreto que o apartheid israelense dá à repressão e expropriação de negros, indígenas e favelados, seja por meio da tecnologia militar e de vigilância que exporta para a América Latina ou por meio da tecnologia do agronegócio, que apoia a privatização e o roubo de recursos naturais.

*Editado por Solange Engelmann