“Participei de projetos, formações e cursos sempre com o objetivo de lutar e fazer luta pela Educação do e no Campo!”

Francieli tem 28 anos de muito estudo e dedicação na educação, e na luta contra a LGBTQIA+fobia nos espaços que ocupa
Foto: Arquivo pessoal.

Por Barbara Zem do Setor de Comunicação e Cultura MST PR.
Da Página do MST

No ano de 2002, aos 8 anos de idade, Francieli de Souza Leite, chegou com sua família ao acampamento Emiliano Zapatta, em Ponta Grossa, região dos Campos Gerais no Paraná. Seus pais já conheciam o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), mas esse foi o seu primeiro contato. Com o passar do tempo começou a participar de encontros e formações externas, como o encontro dos Sem Terrinhas, encontro da Juventude e formações internas do acampamento. A partir daí o movimento se tornou casa e seus ensinamentos foram levados para a vida.

Em 2013 na Unioeste/Cascavel, pelo PRONERA, iniciou a III Turma de Pedagogia para Educadores do Campo, e em junho do mesmo ano Francieli iniciou o curso. “A primeira etapa foi regada de desafios, mas segui com o objetivo que tinha traçado”, comenta.

Finalizando a primeira etapa do curso em agosto, foi chamada para contribuir no Projeto de Extensão “Interface entre a Formação Continuada de Educadores e a Educação Básica do Campo no Contexto das Escolas Itinerantes do Paraná”, atuando no projeto “Apoio à Alfabetização nos Anos Iniciais nas escolas itinerantes do Paraná”, de 2013 a 2016, na Escola Itinerante Herdeiros da Luta de Porecatu, em Porecatu, região norte do estado do Paraná.

Para poder realizar esse trabalho se mudou para o acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu, para iniciar na contribuição da escola. Em 2014 começou a trabalhar como educadora na Educação de Jovens e Adultos (EJA) pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), no Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), em parceria com a Unioeste. “Esse período foi de uma experiência significativa na minha trajetória como educadora e militante, finalizei meu projeto no ano de 2016”, afirmou Francieli.

Ao chegar no último semestre do curso, focou em trabalhar em seu projeto de TCC sobre a “Comunicação e Juventude: Apontamentos e a Organização do Grupo de Jovens do Acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu”, elencando principalmente a organização destes jovens, o principal motivo do êxodo destes para a cidade, a permanência dentro das áreas da Reforma Agrária e o que o MST propõe dentro da área da educação e da cultura para os mesmos.

Se reconhecer como LGBTQIA+

Foto: Wellington Lenon.

Depois de alguns anos chegou um momento que para ela foi muito especial e difícil. “2016 foi o ano que assumi minha sexualidade, sou lésbica, LGBT Sem Terra, com novos caminhos, novos desafios na escola e na comunidade, novos objetivos e focando no que é de fato meu obejtivo, que é educar”, ressalta.

Logo que assumiu sua sexualidade, Francieli comentou que os primeiros momentos foram conturbados, pois o papel que exercia dentro da comunidade trouxe à tona algumas situações que não foram nada fáceis de superar, fora a aceitação por parte da família. Dentro do movimento teve grande apoio da direção do MST da região, que com diversos trabalhos a ajudaram a superar diversas questões de LGBTfobia sofridas  nesse período.

Ser educadora dentro do MST

“O MST proporcionou na minha vida centenas de momentos de conhecimento e autoconhecimento, fazendo a roda da minha história girar constantemente de forma positiva e significativa”. Em 2018 Francieli assumiu as aulas no Ensino Médio da Escola Itinerante Herdeiros da Luta de Porecatu (EIHLP), o que abriu leques para começar a pós-graduação no Ensino de História e Geografia, entre outras especializações realizadas a fim de aprofundar mais o conhecimento acerca do ser humano e da Educação do Campo.

Neste ano reorganizou sua trajetória, e em 2019 saiu da escola itinerante e foi morar em Tibagi, assumindo na prefeitura o Processo Seletivo Simplificado, onde atendia estudantes vindos do campo, sendo alguns dos assentamentos da região. Por se tratar de uma escola urbana, com dinâmica e propostas bem diferente da que estava habituada, Francieli percebeu que sua trajetória foi muito além do que tinha planejado.

“E por fim, no momento que a roda da minha história estava por caminhos que obtive intensas experiências, fui convidada a contribuir como Coordenadora Pedagógica na Escola Itinerante Valmir Motta de Oliveira, em Jacarezinho/PR, abrindo novas possibilidades e concretizando dentro de mim a verdadeira essência em ser Mulher, Militante, Educadora, LGBT Sem Terra, além de estar ao lado da minha companheira Maria Eduarda, quem propõe e exerce um papel fundamental em toda a luta”, afirma Francieli.

Hoje, Francieli é dirigente do Setor de Educação do MST/PR, na Brigada Olga Benário, região Norte Pioneiro, faz parte  do Conselho Municipal de Educação da Prefeitura de Jacarezinho, compõe o Setor de Educação do Acampamento Valmir Mota de Oliveira em no mesmo município , é Coordenadora Pedagógica da Escola Itinerante Valmir Motta de Oliveira e faz parte do Coletivo LGBT Sem Terra do Paraná.

Ela afirma que ser mulher LGBTQIA+ dirigente no Movimento, no papel que exerce, fortalece ainda mais a sua luta, pelo simples fato de ser mulher o que já quebra muitos tabus, sendo LGBTQIA+ é possível ver que ocupamos e concretizamos ainda mais a luta por gênero e sexualidade nos espaços. Nestes momentos ela se lembra muito da Izabel Grein, que foi a referência maior em todos os espaços ocupados. “Todas as experiências que obtive me ajudaram a ser quem eu sou, e me fizeram ser quem sou por completo”.

*Editado por Erica Vanzin