Carta de Solidariedade para celebrar os 50 anos de luta e resistência do movimento camponês haitiano

Organizações sociais de diversos países lançaram carta de solidariedade no congresso do Movimento Camponês Papaye (MPP)
Foto: Ricardo Cabano

Por Organizaçoes Sociais e Populares*
Da Página do MST

Nós, da Via Campesina, da Coordenadora Latino-americana de Organizações do Campo, da Unión Comunera, do Movimento Sem Terra, da Federação de Cafeicultores da região sul, da Confederação Paysanne e da Casa Tecmilco, como movimentos sociais solidários com o povo do Haiti, estamos reunidos no congresso do Mouvman Peyizan Papay (MPP).

No contexto das celebrações dos 50 anos desta organização camponesa. Temos a convicção firme de que a solução para as crises impostas ao Haiti deve surgir do próprio povo e dos movimentos sociais haitianos. Apoiamos a soberania do povo haitiano e admiramos a luta camponesa haitiana, que se tornou o motor de resistência e mudança.

Em 2019, ocorreu no Haiti o Fórum Patriótico, do qual surgiu o Acordo de 30 de agosto (também conhecido como Acordo de Montana). Este acordo permitiu às organizações do país construir uma proposta para uma transição democrática, participativa e protagonizada pelo povo e para o povo. Este acordo estabelece uma agenda concreta para enfrentar a crise atual: “Uma solução haitiana para a crise no Haiti”, livre da interferência de poderes corruptos e imperialistas responsáveis pela violência social, política e econômica.

Vale ressaltar que o Haiti foi o primeiro país na América Latina a conquistar sua independência e contribuir para a emancipação dos povos colonizados, bem como o primeiro a abolir a escravidão e declarar a igualdade de todos os seres humanos. As lutas coletivas que se seguiram demonstraram a persistência do povo haitiano diante das adversidades. As conquistas atuais das lutas camponesas, como a continuidade do trabalho das organizações de base como o MPP, Tet Kolé, MPNKP, entre outros, a formação técnica e política, as alianças com os camponeses globais e o resistência das mulheres, testemunham as capacidades intrínsecas do povo e suas realizações históricas.

A política anti-camponesa do Estado, a insegurança e a violência contra as mulheres, a concentração de terras, a falta de acesso a serviços sociais essenciais e a interferência internacional respaldada por governos fascistas contrários ao povo são parte dos problemas identificados pelas organizações camponesas presentes no congresso.

Estas organizações enfatizaram a necessidade de reforma agrária integral, um plano agrícola adaptado à realidade haitiana, o feminismo camponês e popular, a agroecologia camponesa, indígena e negra, a soberania alimentar, os direitos dos camponeses, a solidariedade internacionalista e a autodeterminação do povo para superar a crise política, democrática, social, econômica e ambiental.

Rejeitamos veementemente as ameaças de intervenções militares do “grupo central” composto pelas embaixadas dos EUA, França, Canadá, União Europeia e o escritório da ONU no Haiti. As invasões anteriores apenas pioraram as condições de vida do povo haitiano. Condenamos firmemente a exploração política da crise em benefício dos interesses capitalistas. Comprometemo-nos a continuar apoiando as justas demandas do povo haitiano.

Viva o povo haitiano e suas organizações camponesas!

*Via Campesina, a Coordeção Latino-Americana de Organizações do Campo, a Unión Comunera, o Movimento Sem Terra, a Federação de Cafeicultores da região sul, a Confederação Paysanne e a Casa Tecmilco.
**Editado por Erica Vanzin.