Esporte
Nos assentamentos e periferias, mulheres ocupam os campos de futebol
Por Por Barbara Zem e Juliana Barbosa*/do Setor de Comunicação e Cultura do MST/PR
Da Página do MST
Não faz muito tempo que as mulheres passaram a ter direito de ocupar um espaço dentro dos campos de futebol. E mesmo hoje, segue existindo o preconceito de que mulher não sabe jogar. No Brasil, foram quatro décadas excluídas do esporte conhecido como a paixão do brasileiro.
Seja no campo ou na cidade, a diversão começa quando pisa no campo de futebol. É o momento de deixar tudo de lado, esquecer por um momento todo o cotidiano duro da semana. Mulheres do campo com seus afazeres da roça carpir, plantar, tirar leite, cuidar dos filhos e da casa, são algumas das “obrigações” diárias. Para as mulheres da cidade, não é muito diferente: levantar cedo, organizar seus filhos para ir à escola, café da manhã, deixar o almoço pronto e enfrentar mais de 1 hora de ônibus lotados pra ir ao trabalho. Para algumas mulheres, o futebol de domingo é a terapia para a semana.
Eliane Ribeiro conta o papel do esporte na sua vida: “O futebol para nós tem uma grande importância na vida de cada uma de nossas meninas, pois nos livrou e nos livra de muitos obstáculos, como a ansiedade, stresse e até mesmo depressão. Quando estamos em campo, nossa alma fica leve, lugar onde esquecemos todos nossos problemas, porque quando vamos para o lote, nos sentimos muito sozinhas, e os serviços e a correria do dia-a-dia nos deixa stressadas e esse momento que tiramos para jogar um futebol é relaxante”.
Ela é uma das camponesas que formam o time feminino de futebol do assentamento Eli Vive, em Londrina, norte do Paraná. O coletivo está a todo vapor desde 2019, com mulheres de todas as idades. Os treinos e jogos acontecem no campo do espaço comunitário do assentamento, onde as mulheres se reúnem para jogar futebol e incentivar novas companheiras a participarem dos jogos, como forma de lazer, se encontram para conversar e praticar o esporte. Ao todo, são 25 companheiras jogadoras do assentamento Eli Vive I, e 15 no assentamento Eli Vive II.
Para arrecadar fundos para o coletivo de futebol feminino, as mulheres realizaram uma festa junina no centro comunitário do Eli Vive I, em que toda a arrecadação foi destinada para melhorar a iluminação do campo de futebol, pois assim, as companheiras podem praticar o esporte à tarde ou à noite.
O coletivo já participou de campeonatos, três torneios e vários amistosos, onde conquistaram o 1º lugar no torneio. “Mas a importância de tudo isso não é só a vitória, mas sim, a amizade, o conhecimento e o espaço que nós vem conquistando a cada dia, pois isso é já é uma grande conquista para todas nós mulheres do futebol feminino. Hoje com tantas lutas foi conquistado a Copa do Mundo com o futebol feminino, e ele vem sendo conquistado com vários espaços”, ressalta Eliane, emocionada.
Mulheres da periferia no futebol
Em Campo Magro, região metropolitana de Curitiba, existe a comunidade Nova Esperança, que reúne mulheres de diferentes lugares e culturas: desde gente que nasceu na região até companheiras do Haiti que residem na ocupação. Mas todas são boleiras de fama, que dentro de campo arrancam gargalhadas e vários dribles.
O time feminino composto por cerca de 25 mulheres de várias idades vai competir em um grande campeonato nacional: a Taça das Favelas. O campeonato acontece anualmente e a edição deste ano começou em 3 de agosto. O time vem há meses treinando e pela segunda vez vai disputar o campeonato.
Marta: a craque que inspira
É um grande desafio montar times femininos. Desde a escola, as mulheres sempre foram para outros tipos de esporte e afastadas do futebol, mas existe também um motivo muito claro, porém não muito pautado: o futebol foi sempre de homens para homens, eles desde pequenos são envolvidos no esporte, o primeiro presente é uma bola, já sabem que time vai torcer qual o maior jogador, o ídolo do momento na TV quando se fala do esporte aparece Neymar, Messi, Cristiano Ronaldo, seja em melhores jogadores, grandes prêmios e em muitas publicidades de marcas.
Marta é nossa grande ídola do futebol feminino, que além de uma grande jogadora é uma das mulheres que lutou muito para ocupar o latifúndio dos campos e incentiva outras mulheres a participarem do esporte. Ela ressaltou em uma coletiva de imprensa a invisibilidade do futebol feminino e como isso influencia na falta de participação das mulheres no esporte: “Eu não tinha uma ídola no futebol feminino. A imprensa não mostrava o futebol feminino. Como eu ia entender que eu poderia ser uma jogadora, chegar à seleção, sem ter uma referência?”, disse ela.
A craque inspirou e continua inspirando as mulheres a entrar nos campos e também a lutar por seus direitos, seus espaços no esporte e onde quiserem estar.
Time feminino da ocupação Nova Esperança de Campo Magro. Fotos: Juliana Barbosa MST-PR
*Parte da matéria foi publicada originalmente do portal Plural
**Editado por Solange Engelmann