Nota

Nota do MST sobre as denúncias de trabalho escravo em áreas da reforma agrária em AL

Denúncia implantada por bolsonaristas afirma que existe trabalho escravo, prática combatida pelo Movimento Sem Terra em sua prática cotidiana da ocupação de terra
Foto: MST em AL

Da Página do MST

Após a diligência em Alagoas da CPI que busca criminalizar o MST, um conjunto de materiais nas redes sociais têm circulado na tentativa de relacionar a organização do Movimento com o trabalho escravo em acampamento da Reforma Agrária no estado. O vídeo produzido e compartilhado através dos perfis dos deputados bolsonaristas que compõem a Comissão, busca deturpar a imagem das ações coletivas organizadas nos territórios de Reforma Agrária.

A diligência realizada em Atalaia na última sexta-feira (11), revelou o papel e a irresponsabilidade da condução da CPI que, em sua passagem por Alagoas, descumpriu a rota prevista no requerimento aprovado em sessão oficial. Estavam previstas a visita em três assentamentos no município, no entanto, a comitiva dos deputados só chegaram em um acampamento, que estava fora da previsão da diligência no estado.

O descumprimento da rota levou a comitiva até o Acampamento São José, um acampamento histórico e emblemático na luta pela terra em Alagoas, onde famílias estão organizadas há 20 anos. Foi neste território que, em 2005, foi assassinado Jaelson Melquíades, uma das lideranças do MST na região. Hoje a área é marcada pela produção de alimentos saudáveis e pela resistência dos acampados que seguem em luta para que a área seja assentamento das famílias que lá vivem.

Porém a ida dos deputados ao acampamento não se dedicou a conhecer as reais dificuldades dos camponeses e camponesas da área, pensando soluções para superar os problemas da área, mas sim para implantar denúncias falsas como tentativa de criminalizar a luta dos acampados da região e do próprio MST.

Os deputados fizeram a visita questionando o tempo inteiro as instalações do acampamento, os barracos de lona e a falta de infra-estrutura no local, como se essas fossem responsabilidades dos trabalhadores e trabalhadoras que ali estão, retirando toda a culpa da ausência de políticas públicas que garantam o bem viver no campo.

Outra denúncia implantada na narrativa bolsonarista no Acampamento São José foi a de que lá existia trabalho escravo, uma prática combatida pelo Movimento Sem Terra em sua prática cotidiana da ocupação de terra, até a organização dos camponeses nos assentamentos em todo o país. A armação bolsonarista montada queria vincular o trabalho comunitário coletivo, princípio da organização dos acampamentos, como trabalho escravo, denúncia arquitetada e construída a partir de um único depoimento direcionado, contrário à prática dos mutirões produtivos, de limpeza, embelezamento ou de solidariedade que são realizados pelas famílias acampadas.

Pautamos o trabalho coletivo como fundamental na construção de uma comunidade fortalecida,com participação de todos os sujeitos que vivem na área, potencializando a produção de alimentos e a cooperação entre os trabalhadores e trabalhadoras.

Seguiremos em luta contra a criminalização da luta pela terra, bem como na luta ao enfrentamento a todas as formas de opressão e exploração, no campo ou na cidade. Nossa luta é para que o campo seja um espaço de dignidade, de produção de alimentos e de desenvolvimento.

Por fim, deixamos nossas áreas abertas para que sejam investigadas qualquer denúncia de trabalho escravo pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Não temos nada a esconder. Nossos territórios respiram esperança, luta e resistência.

Em luta, seguiremos!

Lutar, construir Reforma Agrária Popular!

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

15 de agosto de 2023