LGBT+

Via Campesina Brasil realiza III Seminário Diversidade Sexual e de Gênero

Entre os dias 14 e 17 de setembro a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) recebe o III Seminário Diversidade Sexual e de Gênero na Via Campesina Brasil
Foto: Emilly Firmino

Por Mário Manzi – Coletivo LGBTI da Via Campesina Brasil
Da Página do MST

O III Seminário Diversidade Sexual e de Gênero na Via Campesina Brasil, já consolidado como um espaço de debate e construção de conhecimento sobre questões relacionadas à diversidade sexual e de gênero, promete reunir mais de 80 participantes de diferentes movimentos que constituem a Via Campesina, abordando temas que vão desde direitos humanos até interseccionalidade de lutas.

Ao considerar a evolução do seminário, torna-se evidente como essa terceira edição pavimenta a trajetória de aprendizado e engajamento que teve início nas edições anteriores. A Via Campesina, uma organização internacional que agrega povos do campo ao redor do globo, tem reconhecido a importância de incluir as pautas de diversidade sexual e de gênero em suas discussões. Esta edição em particular reforça a continuidade deste compromisso, abordando questões que impactam diretamente as vidas de pessoas LGBTI+.

O aspecto internacional do seminário traz à tona a compreensão de que a luta pelo respeito às diversidades sexual e de gênero transcende fronteiras geográficas e culturais. Ao promover intercâmbio de experiências e aprendizados entre diferentes contextos, o evento contribui para a formação de uma rede global de solidariedade e resistência. Afinal, as batalhas por igualdade e justiça para a comunidade LGBTI+ são universais, e a Via Campesina se firma como um espaço onde essas lutas podem ser conectadas e fortalecidas.

Os temas que serão abordados durante o seminário refletem a complexidade das questões em discussão e compreendem desde a dimensão dos direitos humanos LGBTQIA+ no contexto das políticas públicas do governo federal até a interseccionalidade entre luta de classes, superação do capitalismo, racismo e patriarcado, os debates prometem ser profundos e transformadores. O reconhecimento da existência e resistência das pessoas LGBTI+ indígenas em sua defesa pelo território sublinha a importância de reconhecer a pluralidade de identidades presentes nos movimentos do campo.

Foto: Emilly Firmino

O encontro também propõe explorar as contribuições do feminismo camponês e popular para a discussão sobre diversidade sexual e identidade de gênero. Ao trazer a perspectiva das mulheres para o centro do debate, o seminário desafia visões tradicionais e patriarcais que muitas vezes permeiam a luta LGBTI+.

O seminário, portanto, não é apenas um espaço de discussão, mas também uma oportunidade para vivências e trocas entre pessoas que compartilham lutas semelhantes. A importância deste aspecto reside na possibilidade de fortalecer a luta das pessoas LGBTI+ nos diversos movimentos que compõem a Via Campesina. Afinal, as vivências e aprendizados proporcionados pelo evento não apenas enriquecem o conhecimento individual, mas também fortalecem os laços de solidariedade que sustentam as lutas coletivas.

Segundo Luana Oliveira, que faz parte do Coletivo LGBTI+ da Via Campesina Brasil, “o Seminário é, sem dúvidas, um dos espaços formativos que a via Campesina proporciona às pessoas LGBTI no intuito de fazer formação política, fortalecer a pauta da diversidade sexual na luta dos povos, e na luta pelo território, intercambiar experiências com a luta dos povos de países da América Latina, e demais continentes do mundo, contribuindo na auto-organização, e na construção de um projeto popular e de soberania alimentar”.

Não há emancipação humana se os sujeitos que constroem a lutas estiverem baseados na cultura do machismo, LGBTI+fobia, racismo e individualismo. É necessário superar de maneira coletiva toda e qualquer forma de violência e o seminário, assim como a campanha permanente contra a LGBTI+fobia no campo, são espaços e processos fundamentais para novas relações humanas e o combate às violências.”

— Luana Oliveira

As estatísticas fornecidas pelo Centro de Comunicação Dom Tomás Balduino (Cedoc-CPT) evidenciam a urgência dessa articulação e do diálogo que o seminário busca promover. Entre 2020 e 2022, foram registrados 10 casos de violência contra pessoas LGBTs no campo. Dentre esses casos, 3 pessoas enfrentaram ameaças de morte, 4 passaram por humilhação ou intimidação (sendo que uma delas foi preso), 1 sofreu tortura e 2 foram tragicamente assassinadas. É perturbador notar que as violências foram perpetradas por uma variedade de agentes, incluindo grileiros de terras, fazendeiros, empresários, polícia militar e até mesmo líderes religiosos.

Diante desse cenário, torna-se evidente que o seminário desempenha um papel vital na promoção da conscientização, resistência e busca por justiça para as pessoas LGBTI+ nas comunidades do campo, das águas e das florestas. Ao proporcionar um espaço para discussões profundas, troca de experiências e articulação internacional, o evento oferece uma plataforma poderosa para a construção de um movimento inclusivo e unificado que rejeita a violência e a opressão e busca um futuro de igualdade e dignidade para todos.

Foto: Emilly Firmino

O III Seminário Diversidade Sexual e de Gênero na Via Campesina Brasil se apresenta como uma etapa crucial na caminhada rumo à igualdade e respeito às diversidades nas comunidades do campo, das águas e das florestas. Ao conectar a luta LGBTI+ com questões de território, justiça social e ambiental, o seminário amplia o horizonte das discussões e reforça a mensagem de que, verdadeiramente, não há revolução sem a inclusão e reconhecimento das existências e resistências LGBTI+.

*Editado por Fernanda Alcântara