Cultura

MST no Paraná realiza encontro da Unidos da Lona Preta – Rumo aos 40 anos do MST

Mais de 30 militantes de acampamentos e assentamentos do estado participaram do curso. O encontro contou com a participação do Mestre de bateria da Escola de samba União de Maricá, do Rio de Janeiro
Turma do encontro da Unidos da Lona Preta-PR. Foto: Leonardo Henrique 

Por Setor de Comunicação e Cultura MST no PR
Da Página do MST

Em dias de muita alegria, beleza, estudo e na cadência da luta popular, foi realizado entre 2 a 4 de setembro, o 1º Encontro de formação da Unidos da Lona Preta – PR, na ocupação Nova Esperança, em Campo Magro, região metropolitana de Curitiba (PR).

Um dos objetivos do encontro foi reunir os ritmistas da Unidos da Lona Preta, com o propósito de qualificar e avançar na execução do ritmo do samba enredo. Também procurou-se inserir novos batuqueiros, aprendendo as técnicas básicas de uma bateria de escola de samba. Além disso, promover atividades de estudo sobre a cultura popular, a Reforma Agrária e os 40 anos do MST, bem como a vivência na ocupação urbana. 

“Esse encontro foi realizado entendendo que estamos ocupando mais um espaço que é da classe trabalhadora do povo do campo. Nós, Sem Terra, fazemos parte dessa cultura de resistência dessa expressão popular e, por meio do samba, contamos essa nossa história de luta”, explica Juliana Barbosa, do coletivo de Juventude do MST no PR e da coordenação do curso.

Campo e cidade unidos na construção da cultura popular

Para aprender as técnicas da bateria, os educandos contaram com apoio de Paulinho Steves, mestre de bateria da União de Maricá e diretor de bateria das escolas de samba Porto da Pedra e União da Ponte, todas do grupo de acesso do carnaval do Rio de Janeiro. Com uma metodologia envolvente e muito didática, ele compartilhou sua experiência com os jovens do MST durante três dias de oficinas, intercâmbio e vivência. Mestre Paulinho orientou desde o mais básico, os primeiros passos de cada instrumento da bateria para os jovens que participaram pela primeira vez, assim como elementos mais avançados para os ritmistas mais experientes. 

“Eu aprendi mais com eles, do que com eles comigo. Para mim, é uma grande experiência. Na bateria, tem um conjunto de instrumento que se encaixa com o outro instrumento, tem uma conexão, um ritmo e vocês tiraram de letra porque vocês têm essa mesma conexão. Trazem essa batalha do dia a dia que é coletiva, a luta, a conquista, então é uma conexão quase que perfeita. Não tem como dar errado, pois vocês fazem isso no dia a dia”, declara o mestre Paulinho. 

Paulinho Steves, mestre de bateria da União de Maricá. Foto: Leonardo Henrique 

Fotos: Juliana Barbosa 

Uma das atividades da programação foi conhecer o território que em que estava sendo realizado o curso: a comunidade Nova Esperança, que já recebeu atividades da Unidos da Lona Preta por outras vezes, entre elas, o último curso do MST no Carnaval. Os educandos/as andaram pela comunidade conhecendo os diversos espaços coletivos e os moradores da ocupação. A comunidade, coordenada pelo Movimento Popular por Moradia (MPM), tem trabalhos coletivos com o MST, como a instalação de fossas ecológicas nas casas.

Caminhada pela comunidade Nova Esperança. Foto: Leonardo Henrique 

Unidos da Lona Preta: “o samba faz a luta, a luta faz o samba!” 

A Unidos da Lona Preta é uma experiência que tem origem no MST de São Paulo no contexto das comunas urbanas, em 2005, inspirada e referenciada nas escolas de samba, motivados pela necessidade de realizar batucadas nas atividades de luta do Movimento. A Unidos acredita que esse trabalho precisa e pode ir mais além, e tem por base o legado cultural artístico que as escolas de samba de todo país acumularam. 

Assim, o trabalho com a batucada e o samba no MST no Paraná, também passa a usar essa identidade coletiva do Sem Terra. “Para nós, a identidade é perfeita. Não somos e nem pretendemos ser uma Escola de samba, com toda sua complexidade exigida, mas, nos referenciamos e nos inspiramos nelas por acreditar que são agremiações populares que tem uma contribuição inestimável para a formação e a resistência do povo brasileiro”, diz Igor de Nadai, integrante da Unidos da Lona Preta PR.

De todas as idades, a Unidos junta homens e mulheres do campo para aprender a tocar os instrumentos e fazerem parte dessa cultura do samba. Valdete da Rosa, acampada a 15 anos no acampamento Maila Sabrina em Ortigueira/PR, participou  do curso e relata sua experiência.

“A batucada não é só do jovem e a Lona Preta vem aí pra mostrar isso. Nessa oficina de três dias, juntou a juventude as pessoas que têm mais tempo na luta e mostra que todos podem se inserir nesse coletivo. Aqui é uma troca de experiência que valorizo muito. Somos a Unidos da Lona Preta, unidos pela terra pela Reforma Agrária Popular”, finaliza.

Valdete da Rosa. Foto: Leonardo Henrique

Há quatro anos, o coletivo tomou a iniciativa de unir forças com escolas de samba de Curitiba. Por duas vezes, o MST fez curso do carnaval e desfilou com uma escola de samba da capital, a Leões da Mocidade, que também disponibilizou para o primeiro encontro da Unidos os instrumentos da escola.

Unidos da Lona Preta rumo aos 40 anos do MST!

Um momento importante dessa trajetória foi a criação, em 2021, do primeiro samba enredo, no contexto de atividades do centenário de Paulo Freire, em que o coletivo se desafiou a compor sua primeira letra, produzida e gravada dentro de um acampamento do MST, no norte do Paraná.

Desde junho deste ano, o coletivo vem realizando exercícios de estudo e escrita coletiva, com a finalidade de compor e gravar sua segunda composição, desta vez com o tema dos 40 anos do MST. Assim, esta atividade de formação com o mestre, foi um passo a mais para qualificar e consolidar essa construção, que deve ser lançada no início de 2024.

Fotos: Leonardo Henrique 

*Editado por Fernanda Alcântara