Agrotóxicos

Uso de agrotóxico causa perda de força física, aponta pesquisa da Unioeste 

Entre 2010 e 2019 houve um aumento de 109% nos registros de intoxicação por agrotóxicos no Brasil
Foto: Coletivo de Comunicação do MST no PR

Por Jade Azevedo
Da Página do MST

Professores e alunos do curso de biologia e do programa pós-graduação em Biociências e Saúde da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) realizaram estudo sobre efeito da exposição a agrotóxicos nos trabalhadores rurais. O estudo, coordenado pela pesquisadora Ana Tereza Bittencourt Guimarães, analisou 60 homens, com idade entre 40 e 60 anos, no Acampamento Resistência Camponesa, em Cascavel (PR) e no Assentamento Guajuvira, em Quedas do Iguaçu. Para comparação dos dados, metade dos camponeses trabalham com plantio convencional e a outra parte produz orgânicos, ou seja, não usam agrotóxicos. Todos eles passaram por exames físicos e de sangue.

Nesta primeira análise, os resultados reforçam que os agrotóxicos são prejudiciais à saúde de agricultores e consumidores. Segundo Ana, a partir dos dados coletados no domingo, 24 de setembro, é possível afirmar que o agrotóxico interfere diretamente na performance funcional do trabalhador rural. “A gente consegue observar que aqueles agricultores que ainda cultivam convencional têm uma perda da força na preensão manual, ou seja, eles têm menos força, perdendo a capacidade de executar algumas coisas”, afirma.

De acordo com o Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos, realizado pelo Ministério da Saúde, Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) e DataSUS, entre 2010 e 2019 houve um aumento de 109% nos registros de intoxicação por agrotóxicos no Brasil. 

Ana ressalta que a partir de exames simples de avaliação da performance física é possível indicar possíveis intoxicações crônicas por agrotóxicos. Além disso, a avaliação física dos camponeses mostrou que o veneno intoxica a população consumidora e o trabalhador que faz seu uso, que gradualmente perde a sua capacidade funcional mais rápido.

“Aquelas pessoas que fazem uso do veneno elas têm menos força nos membros inferiores e mais dificuldade na caminhada. Avaliando isso a longo prazo, as pessoas que usam veneno perdem gradativamente sua capacidade de movimentação e performance funcional. De acordo com a investigação, os trabalhadores têm uma perda da musculatura que faz com que ele tenha uma perda na sua qualidade de vida como um todo”.

– Ana Teresa Guimarães

Oiti mora há 26 anos no assentamento Santa Terezinha, em Cascavel. Para ele, a pesquisa auxilia camponeses no entendimento da saúde, tanto para quem produz, quanto para quem consome o alimento. “Essa avaliação vai nos dizer a importância de ter uma alimentação saudável, sem agrotóxicos. Isso vai nos trazer um resultado da nossa luta, do nosso empenho em não usar agrotóxico”, diz.

Oiti comentou a importância da pesquisa feita no assentamento. | Foto: Coletivo de Comunicação do MST no PR

Foto: Coletivo de Comunicação do MST no PR

Adair Gonçalves, camponês acampado no Resistência Camponesa, faz parte do Coletivo de Saúde do MST no Paraná e também ressaltou a importância deste estudo para fortalecer o projeto do movimento de produção agroecológica.  

O MST tem desempenhado um papel de destaque na promoção da agroecologia. Desde o ano 2000, o movimento vem fazendo uma transição em seus assentamentos para esse modelo produtivo, associando-o à luta pela terra e à aliança entre campo e cidade. Hoje, a agroecologia tem papel de destaque no projeto de reforma agrária defendido pelo movimento.

Agrotóxicos no Brasil

Entre 2019 e 2022, cerca de 2.000 novos agrotóxicos foram aprovados para comercialização no Brasil, atualizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Segundo dados de uma reportagem da Agência Pública, publicada em dezembro do ano passado, durante o governo Bolsonaro o Brasil bateu o recorde de aprovações de pesticidas, metade deles já proibidos na Europa. Além disso, houve um avanço na tramitação do Projeto de Lei 1459/2022, apelidado de “Pacote do Veneno”, que facilitou ainda mais a aprovação dessas substâncias.

Você pode acompanhar os avanços das políticas de uso e proibição dos agrotóxicos, assim como dados de intoxicação, vendas, estudos e outros temas relacionados pelo projeto Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida uma rede de organizações da sociedade que tem como objetivo denunciar os efeitos dos agrotóxicos e do agronegócio, e anunciar a agroecologia como caminho para um desenvolvimento justo e saudável da sociedade. 

A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Paraná e outras instituições organizam a Jornada de Agroecologia, uma coalizão política constituída em 2001, que resultou de amplo processo dialógico entre vários movimentos sociais, populares, do campo e organizações não-governamentais atuantes no Paraná, que desde os anos 1980 promovem as lutas pela terra e pela reforma agrária, a defesa da agricultura camponesa e a agroecologia. Desde 2001 seu posicionamento político é “Terra Livre de Transgênicos e Sem Agrotóxicos”. 

Este ano a 20ª edição da Jornada de Agroecologia, acontece de 22 a 26 de novembro, no Campus Rebouças da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba e conta com uma ampla programação de conferências, palestras com temas que trazem a discussão sobre o fim do uso do agrotóxico e a agroecologia como um caminho para a produção de alimentos, saúde, soberania alimentar em contraponto ao colapso climático que vivencia-se atualmente no planeta.

*Editado por Fernanda Alcântara