Jornada Sem Terrinha

Crianças Sem Terrinha do PR na luta por Escolas do Campo e pelo direito à terra 

Ações reuniram crianças de mais de 10 cidades do estado, em atividades culturais, brincadeiras e também mobilização por direitos
Encontro das crianças no acampamento Herdeiros de Porecatu, norte do PR. Fotos: MST no PR

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST 

A Semana das Crianças foi de brincadeira, diversão, alegria, e também de mobilização em várias cidades paranaenses, como parte da Jornada Nacional das Crianças Sem Terrinha. A iniciativa é organizada todos os anos nas proximidades do 12 de outubro, data em que é celebrado o Dia da Criança. É uma oportunidade de chamar atenção para os direitos das crianças e adolescentes moradoras do campo, e, neste ano, teve como lema “Sem Terrinha em Luta: viva os 40 anos do MST!”. 

Entre as principais reivindicações das crianças, adolescentes e das comunidades, está a melhora nas condições das escolas itinerantes – aquelas erguidas logo após a ocupação da área, para garantir acesso à educação para as crianças filhas de camponesas e camponeses Sem Terra. 

O Paraná tem nove escolas itinerantes em acampamentos da Reforma Agrária, que garantem os estudos a milhares de crianças e adolescentes. Em geral, elas são feitas de madeira e cobertas por telhas do tipo eternit, a partir do trabalho em mutirão das próprias famílias moradoras da comunidade. 

As demandas são por construção e melhora das salas e estruturas das escolas; melhores estradas para que o transporte escolar possa trafegar em dias de chuva. Os adolescentes e estudantes do Colégio Estadual do Assentamento Eli Vive, em Londrina, Sandra de Cassia e Vinícius Barbosa, destacam a reivindicação em torno da melhoria das estruturas das Escolas e do Colégio e a necessidade de estradas adequadas no assentamento: “Se chove uma semana, é uma semana sem aula porque os ônibus não conseguem rodar e isso afeta muito nosso aprendizado”. A comunidade é formada por mais de 500 famílias e também tem escola municipal. 

Na região centro do estado, a mobilização das crianças também foi em solidariedade às crianças palestinas. Foto: Jaine Amorin / MST no PR 

Outra pauta central é o assentamento das famílias que ainda vivem em acampamentos. Atualmente, o Paraná tem 83 acampamentos rurais, onde moram 7 mil famílias Sem Terra. As crianças estão entre as maiores prejudicadas com os despejos, seja pela dificuldade em manter os estudos, seja pelo trauma causado pela violência das desocupações. 

Com diversão, organização e luta, os encontros se espalharam por todo o estado. Foram grandes momentos de formação das crianças, que também deram suas contribuições ao debate para fortalecer a Educação do Campo, a produção de alimentos e a luta pela terra como um direito fundamental para as Crianças Sem Terra.

Porecatu

A comunidade Herdeiros da Luta de Porecatu recebeu um Encontro Regional, que reuniu a criançada do local e de mais quatro comunidades: acampamento Fidel Castro e assentamento Maria Lara, de Centenário do Sul; e acampamentos Manoel Jacinto Corrêa e Zilda Arns, de Florestópolis. 

A atividade começou logo cedo com uma Audiência Pública das crianças Sem Terrinha, que teve a participação de Alcântara Dias, Secretário Municipal de Educação de Porecatu. 

O Sem Terrinha Luís entregou a pauta: “Somos privilegiados e vivemos em um lugar rico em conhecimento e sabemos que existe muita injustiça no mundo e que é preciso muita coisa melhorar, por isso a luta não pode parar”, diz a abertura do documento. 

O secretário destacou: “A educação é feita de luta, resistência e coragem. Eu me coloco à disposição para dar uma devolutiva desta pauta apresentada pelas crianças”.

Entre as demandas centrais, está a autorização para que as famílias acampadas possam comercializar as produções pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), como forma de garantir melhores condições de renda. Também melhores condições de ensino na escola, como ventiladores, livros de literatura infantil, materiais necessários para praticar esportes e outros materiais para atividades artísticas e pedagógicas. 

Pelo direito ao lazer e à cultura, outra demanda é pela inclusão da Escola Itinerante em Projetos de Arte e Cultura voltada para a realidade local, e a construção de parquinho, quadra esportiva e campo de futebol. A demanda por serviços básicos a toda comunidade também entrou na lista das crianças: construção de uma Unidade de Saúde, manutenção e reforma da infraestrutura necessária como estradas, água potável e saneamento básico.

Encontro das crianças no acampamento Herdeiros de Porecatu, norte do PR – Fotos: Setor de Comunicação, Educação e Juventude da Comunidade Fidel Castro / MST-PR 

As crianças também realizaram a Cápsula do Tempo, escrevendo seus objetivos para o futuro e, com 40 mudas de árvores, fizeram o Plantio no Bosque da Comunidade. A ação faz parte da campanha nacional do MST “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”.  

Após o almoço, participaram de muitas brincadeiras com os educadores. O dia terminou com avaliação do encontro feito pelas crianças e partilha de doces e sorvete. O encontro marcou a celebração e enraizamento da história do povo Sem Terra, e a projeção do futuro com ações por mudanças sociais no presente, pelo direito de brincar, estudar e viver no campo.

Ortigueira

Em comemoração à Jornada Sem Terrinha e ao marco histórico dos 40 anos do MST, mais de 170 crianças da comunidade Maila Sabrina, em Ortigueira, marcharam pelas avenidas da cidade e realizaram uma grande ação de solidariedade.

Crianças Sem Terrinha marcharam pela cidade e partilharam 3 toneladas de alimentos. Fotos: MST-PR 

Diante da necessidade de acesso aos alimentos por todas as pessoas, as famílias Sem Terra doaram 3 toneladas de alimentos saudáveis para o município. As cestas foram recebidas por autoridades locais e um abrigo de crianças da cidade.

Londrina

Nos dias 9, 10 e 11 de outubro, uma grande atividade comemorativa, formativa e reivindicativa reuniu cerca de 450 crianças e adolescentes do Assentamento Eli Vive, em Londrina, região norte do estado, estudantes das duas Escolas Municipais e no Colégio Estadual do Assentamento. As atividades foram organizadas em torno das temáticas: Criança e Educação, mais que um direito; e Assentamento Eli Vive: lugar de conquistas.

Além de muitas brincadeiras, místicas, estudo e lanche compartilhado, na Jornada das Crianças e Adolescentes, também realizou-se ato político com representantes do poder público local, e dirigentes do Assentamento e das referidas escolas e colégio, com entrega de pauta. A principal demanda é por estradas melhores para garantir a passagem do transporte escolar. 

Atividades no assentamento Eli Vive, em Londrina. Fotos: Daniel Pascoal / MST-PR 

Cascavel

A Escola Municipal do Campo Zumbi dos Palmares e o Colégio Estadual do Campo Aprendendo com a Terra e com a Vida, localizadas no assentamento Valmir Mota de Oliveira, em Cascavel, concentraram as atividades da Jornada. Eles atendem crianças moradoras do acampamento 1º de Agosto e Resistência Camponesa e do próprio assentamento Valmir Mota, todas em Cascavel.

Uma comissão de estudantes e professores das escolas foi até a prefeitura entregar uma carta de reivindicações, na tarde desta quarta-feira (11). 

Foto: MST no Paraná
As crianças levaram suas pautas de reivindicação até o Núcleo de Educação da cidade. Foto: MST-PR

Entre os pedidos, está a melhoria das estradas em que percorre o Transporte Escolar, e nos próprios ônibus que fazem o transporte, com contratação de monitores; construção de quadra poliesportiva comunitária coberta para a prática de esportes; ampliação da escola com construção de mais salas de aula; mais equipamentos de informática e robótica, laboratório de ciências; além da pauta que vem de muitos anos, para a construção do colégio estadual do campo em alvenaria. As crianças também reivindicam o assentamento para as famílias acampadas há mais de 20 anos. 

Laranjeiras do Sul e região

Mais de 150 crianças se reuniram em um encontro Regional, em Laranjeiras do Sul, com participação de escolas e comunidades dos municípios de Rio Bonito do Iguaçu, Laranjeiras dos Sul, Nova Laranjeiras, Porto Barreiro, Pinhão e Guarapuava.

O dia foi marcado por atividades coletivas com estudo sobre a simbologia do MST, oficinas, brincadeiras diversas, assim como a elaboração e apreciação de uma pauta regional com demandas apresentadas pelas crianças Sem Terrinha. As crianças também realizaram uma intervenção em solidariedade à Palestina.

Foto: Jaine Amorin
Foto: Jaine Amorin/ no PR

Além de almoço e lanches, as crianças saborearam como sobremesa algodão doce e picolés Sabores da Agrofloresta. Picolés são feitos com poupas de frutas nativas produzidas pelas famílias do grupo Frutas Nativas da Rede Ecovida da região. Dentre os sabores, estava o Açaí Jussara, Guabiroba e Mexerica.

Quinta do Sol 

O encontro das crianças Sem Terrinha da região Centro Oeste do Paraná foi realizado nos dias 10 e 11, no acampamento Valdair Roque, em Quinta do Sol.

A Jornada contou com atividades como plantio de árvores, produção literária, um protesto contra a construção de uma usina no Rio da Várzea e também muita brincadeira e comida boa.

Atividade no acampamento Valdair Roque, em Quinta do Sol. Foto: MST no PR 

*Editado por Fernanda Alcântara