Educação do Campo

Centro dos Professores do RS se reúne com o MST para articular melhorias nas escolas do campo

A reunião aproximou as lutas e apontou os principais desafios da educação do campo no estado
Entre os diversos pontos, foi discutido o aprimoramento da infraestrutura e da manutenção das instituições de ensino. Foto: CPERS

Por CPERS

Com o objetivo de aproximar as lutas históricas do MST com as do CPERS, a direção central do Sindicato se reuniu, na manhã desta última quinta-feira (25), com a representante do Setor de Educação do MST, Clarice Teles.

A reunião tratou de elucidar as reivindicações das escolas do campo, como o aprimoramento da infraestrutura e da manutenção das instituições, o desenvolvimento de políticas de transporte eficientes e a qualificação específica para educadores(as) que desejam atuar na área. A municipalização e a multisseriação, problemáticas que prejudicam diretamente a pedagogia desenvolvida nessas escolas, também estiveram em pauta.

Diante da dificuldade de dialogar com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), as escolas do campo precisam lidar, há anos, com a falta de estrutura para receber a comunidade. “A manutenção é muito precária. A escola Nova Sociedade, aqui na região metropolitana, está com os banheiros em péssimas condições. Quando a gente vai para o interior do estado, o cenário é ainda pior”, relata Clarice, integrante do Setor de Educação do MST e educadora.

Além da falta de investimento público e do descaso por parte do governo Eduardo Leite (PSDB) com os espaços entre alunos(as) e educadores(as) do campo, é evidente a inexistência de esforços para qualificar os professores(as) que dão aula em assentamentos. Segundo Clarice, é preciso que haja um edital específico para estes profissionais, pois, com frequência, chegam nas escolas pessoas que não estão aptas a trabalhar com aquela realidade.

Já a multisseriação – organização do ensino na qual o professor(a) trabalha com estudantes de várias séries simultaneamente – tem sido fortemente imposta às escolas estaduais do campo, com a justificativa de que não há recursos para manter a instituição.

“A LDB permite, em escolas rurais, a multisseriação, mas não podemos esquecer que este governo está fazendo um banco com a multisseriação. Então, é um projeto de diminuir RH”, explica a presidente do Sindicato, Helenir Aguiar Schürer.

A falta de diálogo com a comunidade escolar para a implementação desse método desmerece o trabalho pedagógico dessas escolas, como alertou o professor Munir Lauer, em entrevista ao CPERS.

Para Clarice, muitas vezes, ou realiza-se a multisseriação ou fecha-se a escola. “Evidentemente, a gente não quer fechar escola. Mas como que o Estado vai nos dar essa garantia de manutenção da pedagogia, da metodologia e da didática?”, questiona.

Outra tentativa de desmonte da educação pública arquitetada por Leite (PSDB) é a municipalização, que atinge tanto escolas do campo quanto escolas da área urbana, sobretudo das periferias.

Foto: CPERS

Ao transferir a administração das instituições de ensino estaduais para o município, o governo distancia a comunidade do ambiente escolar, rompe vínculos criados entre educadores(as) e estudantes e desestimula a presença de educandos no campo, empurrando as famílias para as zonas urbanas.

Com tantos ataques ao ensino público, o objetivo da Seduc é desgastar a luta por uma educação de qualidade, de acordo com Helenir. “Eles têm um projeto e vão fazer de tudo para concretizá-lo. Muitas das vezes, a forma de viabilizá-lo será pelo cansaço, exaurindo nossos estudantes e nossa categoria”, declara.

Nesse contexto, mesmo diante das burocracias que, intencionalmente, dificultam a consolidação de mudanças, a resistência do MST e do Sindicato precisa se manter viva. “Essa emancipação do ser humano, como sujeito pertencente a uma identidade, a uma classe, é o que preocupa o Estado. Por isso que a gente precisa resistir”, argumenta Clarice Teles.

Após a discussão, o CPERS se comprometeu em levar as demandas das escolas do campo à Seduc e pressionar o órgão por melhorias nas instituições. Com políticas públicas estagnadas, estas escolas têm resistido diariamente à invisibilidade e aos ataques do poder público, cujas condutas estão conectadas a interesses neoliberais.