Comunicação

Escola de Comunicação do MST homenageia Dorcelina Folador

"Nunca afrouxar o garrão", lema da Dorcelina, irá “inspirar novos processos comunicacionais", afirma comunicadora popular
Foto: Daniel Violal

Por Cristina Valéria
Da Página do MST

Entre os dias  31 de outubro e 09 de novembro, o Movimento Sem Terra formou 30 comunicadores e comunicadoras Sem Terra com a realização da Escola Nacional de Comunicação Popular. As atividades ocorreram na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), localizada em Guararema, São Paulo, e os participantes homenagearam Dorcelina Folador, assassinada há 24 anos no município de Mundo Novo (MS), como símbolo da turma, por sua atuação como comunicadora no Jornal Sem Terra. 

Com essa escolha, a história de luta e de vida dessa corajosa mulher, morta aos 36 anos, passou a ser uma inspiração política para os comunicadores desta e das turmas futuras. Composta em sua maioria por jovens, a turma irá pavimentar a comunicação do Movimento para as comemorações de 40 anos do MST em 2024. Além disso, eles e elas atuaram com o desafio de garantir uma comunicação, não só com o conteúdo informativo, mas em narrativas que possam fortalecer e concretizar os princípios da organização, como um agente de transformação da realidade, atuando na luta pela terra e da Reforma Agrária Popular.

Foto: Juliana Barbosa

Foram dez dias de estudos na Escola de Comunicação Popular, com aulas práticas e teóricas, em uma programação que jogou luz sobre alguns dos debates mais pertinentes da atualidade, como as disputas ideológicas, a atuação midiática das forças conservadoras e as estratégias necessárias ao enfrentamento das fake news e o avanço das políticas neoliberais e fascistas.

Nomes como André Pasti, integrante do Intervozes e professor pela  Universidade Federal do ABC, Helena Martins, escritora e professora na Universidade Federal do Ceará (UFC), e Luís Indriunas, jornalista do De Olho nos Ruralistas, passaram pela Escola de Comunicação.

Foto: Daniel Violal

Além disso, os estudantes tiveram contato outras experiências de comunicação popular durante o processo de formação, como da TV Quilombo, da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Barão de Itararé, Coletivo Diracom, Jamac e ComCom, Estudo de Cena, Brasil de Fato, Intervozes, Seremos Resistência e Mídia Ninja.

“Foi um curso que buscou a socialização de experiências, visando a  comunicação popular, a fim de que o movimento dialogue cada vez mais com seus territórios, a classe trabalhadora e alcance públicos que ainda não conhecem ou tem visão distorcida do MST”,  disse Valbianne da Gama, dirigente estadual da comunicação do MST no estado do Pará.

Já para Cleiton Pedroso, do coletivo da juventude e comunicação de Santa Catarina, a Escola de Comunicação evidenciou o desafio da formação de comunicadores que possam amplificar esse conhecimento nas bases onde o MST está organizado, considerando as diferenças e dificuldades de cada local. “Foi importante ver que em locais onde a Internet não chega bem, por exemplo, podemos buscar soluções como jornais populares ou mesmo rádios de pequeno alcance”, disse ele.  

Foto: Juliana Barbosa

De acordo com avaliações da Coordenação Política Pedagógica (CPP), a turma Dorcelina Folador permitiu visualizar as dificuldades e as necessidades enfrentadas no dia a dia dos setores de comunicação dos Estados e regionais, o que permitirá elaborar programas cada vez mais assertivos, já que a tarefa da comunicação é cada vez mais compreendida dentro de um método organizativo, de conhecimento das ferramentas e principalmente da construção de narrativas que mostrem as lutas do MST. 

Queremos que cada participante, ao retornar para seu estado, possa aplicar essas metodologias em processos de formação locais, multiplicando o potencial da nossa comunicação popular”, disse uma das coordenadoras.  

Como trabalho final da primeira turma da Escola Nacional de Comunicação Popular, foi proposto um plano de comunicação que permitiu aos participantes compreender o conjunto de formatos, para diferentes mídias, observando-se que essa comunicação visa furar as bolhas, dentro e fora do movimento, em sintonia com uma história de 40 anos, além dos desafios de se comunicar com públicos diversos, em ambientes altamente disputados e valorados dentro de métricas e algoritmos.

Em linhas gerais, a Escola permitiu experimentações acerca das práticas da comunicação e seus desafios, propondo a cada um pensar criticamente sobre como atuar de modo a garantir que a luta de lideranças como Dorcelina Folador não seja em vão. “Nunca afrouxar o garrão”, lema da companheira, irá “inspirar novos processos comunicacionais”, finalizou Valbianne.

*Editado por Fernanda Alcântara