Poesia

Eu vi

Poesia dedicada à luta e resistência do assentamento popular Terra Prometida no vale do Jequitinhonha.
Famílias receberam a vistoria judicial em 2019, com produção e cruzes representando as vítimas do Massacre.
Foto: Geanini Hackbardt

Por Kelly, Eni e Leyde, moradoras do assentamento Terra Prometida
Da Página do MST

Eu vi o povo na cidade, sem nenhum pedaço de pão, mendigando salário sem receber nenhum tostão. Eu vi o povo nas grandes fazendas olhar e ver seus filhos pelas ruas mendigar. Eu vi gente a Deus clamando por um pedaço de terra para sua vida melhorar. Vi logo em seguida o MST, Sem Terra organizar, e a bandeira vermelha balançar, povo unido nas ruas caminhos a trilhar, marchando em busca da liberdade para a terra conquistar.

Vi adiante o Coné sendo ocupado, bandeira vermelha hasteada, criança brincando por todo lado, o povo fazendo roçado e seus filhos sendo alimentado. Vi muito mais, vi o povo que estava excluído, vi entre si se organizar cuidando uns dos outros, folias a cultura resgatar.

Mas não foi só que vi, vi inimigo reagir, achando que é dono de tudo, sua fúria veio mostrar, entrando no acampamento tentando o povo amedrontar com armas nas mãos ameaçando atirar. Mas pensando eles que o povo iria acovardar, enganou. Com hinos e bandeiras o povo seguiu o caminho a trilhar, com enxadas nas costas a terra foi cultivar. 

Nossa primeira produção, quem não lembra? Foi 800 sacas de feijão.

De repente começamos a notar que a terra estava pequena para tanta gente trabalhar, resolvemos marchar, e um pouco adiante acampar, foi o segundo acampamento nessa mesma fazenda, cultivando a terra vendo a semente germinar, levando nossa produção para a cidade, a feira foi melhorar, unindo campo e a cidade para a vida festejar.

Mas uma vez o inimigo sua fúria veio mostrar, com o apoio da justiça impediu o povo de trabalhar, foi tão sofrido mas o povo querido teve apoio dos amigos e na terra resistiu, mesmo sem trabalhar, sua organicidade persistiu, colocando a marcha em movimento seu caminho seguiu.

Mas uma vez percebemos que não podíamos ignorar as ameaças do latifúndio que tentava nos parar, foi preciso grande luta para cultivar terra, e mudamos de local para melhorar. Foi aí que vi o povo na rua pressionando esse modelo que tenta nos calar, pensando que Sem Terra é bobo e não sabe lutar.

Eu vi aqueles que se dizem donos do poder formando parcerias, para os Sem Terra combater, confiando em gente da mesma raça, de colarinho branco e que fazem outras ameaças.

Vi latifundiários com ódio profundo matando, eu vi a terra chorando sangue dos nossos guerreiros, 5 mártires que deram sua vida em prol de outros companheiros. Malditos sejam eles que além de roubar a terra do estado, grilar criando gado, para estrangeiro alimentar, usam de violência, quando sabem que estão errados.

Ocupação da prefeitura nesse momento surgiu, nossa organicidade sentiu que nossas crianças além de brincar precisam estudar, melhorando nossa realidade pro mundo novo poder transformar. Eu vi companheiro e companheiras na mão segurar, unindo forças para o latifúndio enfrentar. 

Há! Para quem não sabe posso falar, 500 apoiadores da Itália, no Brasil nem consigo mencionar, foram tantos com tamanha importância que há de se admirar, se o latifúndio quer guerra nós queremos apenas trabalhar, com vida digna e a liberdade conquistar.

Eu vi o latifúndio estratégia armar, tentando a qualquer custo da terra o povo tirar. Aqui latifúndiário pensa que é rei, ironiza dando grito de vitória, juntando seus comparsas e continuando as ameaças. Eu vi que nessa luta os companheiros são guerreiros, e a sede da fazenda resolveram ocupar tomando o que é seu por direito, percebendo que Sem Terra e fazendeiro não ocupam o mesmo lugar!

Eu vi o povo com muita luta no palácio da república o 1° decreto veio conquistar, pena que das leis do latifúndio se beneficiaram e o decreto derrubaram. 

Ai eu vi os Sem Terra cansados de tanto esperar, com sua organicidade seus lotes foram criar com esperança de sua vida melhorar. Eu vi ordens de despejo chegar e os sem terras revidar discutindo o assentamento e as moradias planejar. Eu vi o que é a luta, e que a luta é difícil, mas vale a pena lutar e construir a reforma agrária popular.

*Editado por João Vitor