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Famílias assentadas no Paraná protestam por melhorias em estradas rurais

Famílias do assentamento Eli Vive ocuparam a frente da Prefeitura de Londrina nesta terça-feira: ‘Não temos mais nem carreadores; estado de calamidade mesmo’, diz liderança
Foto: Filipe Barbosa

Por Cecília França
Do site Rede Lume

Famílias do assentamento Eli Vive ocuparam a sede da Prefeitura de Londrina nesta terça-feira (28) em um protesto – ou pedido de socorro às autoridades – por melhorias nas estradas rurais do assentamento. A demanda já tem mais de 10 anos, mas a situação no momento é de calamidade. Em dias de chuvas contínuas, como agora, crianças ficam sem aulas por não conseguirem chegar às escolas e a produção não tem como escoar.

“A nossa maior dificuldade é a respeito da educação. Eu tenho meu filho que está fazendo o sétimo ano e muitas vezes acaba ficando mais de semana, até 15 dias sem poder ir para a escola. E daí acaba prejudicando muito, porque se nossas crianças hoje precisar fazer uma prova de emergência, que precise de uma nota para chegar a passar de série, eles já não conseguem estar acompanhando pelas faltas, por conta das nossas estradas. Os que moram mais perto, alguns acabam indo até a pé para a escola, pra não perder aula”, relata Tereza Stepaniak Campos.

Em março deste ano, a situação foi denunciada ao Ministério Público (leia aqui).

Quanto à produção, Tereza relata que os assentados não conseguem transportar nem mesmo dentro do assentamento, até a cooperativa, e acabam perdendo seus produtos. “Quanto mais chegar aqui na cidade para entregar para os outros cooperativos!”, declara.

Coordenadora estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Sandra Flor lembra que a demanda por estradas no Eli Vive existe desde a criação do assentamento, há 10 anos. E que, embora a responsabilidade seja do Incra, por se tratar de território federal, existe a possibilidade de convênio com a prefeitura para execução de melhorias emergenciais.

A dificuldade das crianças de acessarem à escola é recorrente, como a Lume já mostrou em 2022.

“Não tem estrada. São carreadores que as famílias mesmo construíram esperando. Em dias de chuva, a situação fica precária. Agora, o que está acontecendo? Não tem mais condições. Nós não temos mais nem carreadores. Estado de calamidade mesmo. As famílias não conseguem nem sair dos seus lotes, a educação não funciona, as crianças não conseguem vir para a escola. Há mais de 15 dias que a gente não consegue ter aula decente dentro do assentamento. Famílias com problemas de saúde não saem. As famílias se revoltaram”, explica Flor.

Foto: Filipe Barbosa
Foto: Filipe Barbosa

Dos 109 quilômetros de estradas dentro do assentamento, somente 14 foram feitos até hoje, e por medida judicial. O protesto na prefeitura teve como objetivo conversar com o prefeito e secretários de pastas responsáveis por obras em estradas rurais sobre a possibilidade de melhorias emergenciais que, ao menos, permitam a circulação. Os assentados saíram de lá com a promessa de que nesta quarta-feira uma equipe irá levantar as demandas no local.

“O Incra acabou de dizer que é possível a prefeitura fazer isso, que é possível os maquinários estarem lá. Então ficou combinado amanhã, o prefeito vai deslocar uma equipe da prefeitura para olhar os pontos críticos – que, na verdade, é todo o assentamento – vão olhar brigada por brigada as necessidades mais rápidas e, assim que houver uma melhoria do tempo, as máquinas entram para fazer uma patrolagem e por os cascalhos”, detalha Flor.

A conjuntura atual permite um diálogo melhor junto ao Incra, avalia a coordenadora, o que pode viabilizar, enfim, as estradas.

“Antes, no governo passado, não tínhamos nem diálogo com o Incra. Então agora a gente vai pra cima e vamos continuar cobrando, porque não tem condições mais. O assentamento está totalmente ilhado, não entra, não sai. Na época da colheita, parando a chuvarada, já começa a colher o feijão. Como que escoa a safra? Não sai. O pessoal que produz hortaliça, que entrega aqui na cidade, não sai; os caminhões da cooperativa não conseguem circular com a merenda escolar para trazer aqui pra cidade, e daí a gente perde toda essa produção, e como que a família fica? Então a prefeitura tem que ter esse olhar mais humano com as famílias”, avalia a coordenadora.

De acordo com a assessoria da prefeitura, “Serão feitas obras emergenciais nas estradas de acesso e a Secretaria de Obras já está licitando uma empresa para pavimentar estradas estruturais no local”.

*Editado por Fernanda Alcântara