Reforma Agrária Popular

Assentamento popular Terra Prometida recebe comissão de juízes para visita técnica

Território onde cinco Sem Terras foram assassinados no baixo Jequitinhonha segue em conflito judicial a mais de 19 anos
Foto: Lídia Delvale/Eni

Por  Matheus Teixeira e Kelly Gomes
Da Página do MST

A terra ela é sagrada nas mãos de quem trabalha a terra, suor, vida trabalho e terra o direito a terra e de quem trabalha

Encantar da terra sagrada, Dércio Marques

No último sábado, dia 02 de dezembro, o assentamento popular Terra Prometida, local onde se passou o massacre de Felisburgo, recebeu os juízes do Tribunal de justiça de Minas Gerais, do Conselho Nacional de Justiça, da Vara Agrária, Incra, Ministério do Desenvolvimento Agrário e a Promotoria Agrária para uma visita técnica. A mesma teve como objetivo conhecer as famílias que ali residem e colocar em pauta a solução do conflito que perdura até os dias de hoje.

A comissão de juízes apresentou a importância de atuarem em conjunto para o avanço na mediação voltada à solução dos conflitos e estabelecerem uma conexão com as famílias. Propondo um canal de diálogo para a solução do conflito, foram realizadas visitas técnicas nas casas das famílias com objetivo de ouvir cada pessoa sobre sua vida nesse território.  As atividades foram finalizadas com um almoço coletivo e a promessa de retornarem à área para dar continuidade ao proposto.

Foto: Lídia Delvale/Eni

Como parte da cultura Sem Terra, a mística que recebeu a comissão retratou a resistência e luta do povo que mora no assentamento popular Terra Prometida, emocionando os presentes e resgatando o lema: “Terra para quem nela trabalha”. No ato, estiveram  presentes representantes de outras comunidades parceiras que reconhecem a legitimidade da luta do povo Sem Terra, como a comunidade Quilombola Paraguai, que realizou uma apresentação do batuque. Um memorial, símbolo da luta dos 5 mártires, foi construído para que a luta de Manoel, Joaquim, Francisco, Iraguiar e Juvenal, jamais caia no esquecimento.

Terra Prometida: uma história de luta e resistência

No dia 01 de maio de 2002, o Movimento Sem Terra realizava uma grande marcha na cidade de Felisburgo-MG, e no dia 27 de maio do mesmo ano ocupava a fazenda Nova Alegria. Com cerca de 210 famílias, a ocupação foi um marco da luta pela terra na região do baixo Jequitinhonha, e muitas famílias que participaram da ocupação estavam retornando a terra onde nasceram e foram criadas. A ocupação mexeu com a herança coronelista da região e simbolizou o resgate da dignidade perdida por muitos camponeses(as) que foram expulsos das suas casas. 

Jorge Rodrigues, que nasceu e cresceu na fazenda Nova Alegria, relata que a terra foi palco de desmatamento ilegal pelo Adriano chafick. Jorge foi uma das famílias  expulsas da fazenda sem direito a nada. “Trabalhei muito nessa terra e já estava pra me casar quando fui mandado embora com 26 anos de idade, eu não recebi nada, meu pai que também trabalhou a vida toda recebeu um cavalo e uma quantia em dinheiro, mas nós queríamos era o direito de ter um pedacinho de terra aqui, ao retornar na ocupação da terra realizo o sonho ter um pedaço de terra digno de viver.”

Foto: Lídia Delvale/Eni

Durante dois anos seguidos, a comunidade viveu sob constante ameaças por parte do grileiro de terras Adriano Chafik, como relata Maria gomes “Quando nós ocupamos essa fazenda a gente já sabia que estávamos enfrentando um grande latifundiário que a família toda sempre usou essa terra de forma indevida expulsando trabalhadores, grilando e ameaçando os campesinos, essas tantas ameaças que sofremos demonstra isso.”

Massacre de Felisburgo

No dia 20 de novembro de 2004, o grileiro de terras Adriano Chafick ordenou e executou o chamado “Massacre de Felisburgo”. 

A manhã corria mansa e ensolarada, com uns tratando da bicharada em um sábado de sol quente, quando não mais que de repente um tiro que ninguém espera. Foram assassinados cinco Sem Terras: MIGUEL, JOAQUIM, JUVENAL, IRAGUIAR, FRANCISCO, todos negros, trabalhadores e pais de famílias. Iraguiar deixou uma mulher grávida de 8 meses.

A resistência é uma forte marca das famílias que vivem na constante luta pelo acesso ao direito à terra. O assentamento popular de resistência, Terra Prometida, segue desenvolvendo a produção de alimentos saudáveis e diversificados, formando novos sujeitos com a escola que vai do pré ao quinto ano, resgatando cultura e defendendo a vida com  pauta central.

Lutar,Construir Reforma Agrária Popular!

*Editado por Fernanda Alcântara