Cuba

65 anos de Revolução Cubana: as mulheres na vanguarda

Confira artigo que destaca o papel das mulheres na Revolução Cubana

Foto: Reprodução/EcuRed

Por Simone Magalhães*
Da Página do MST

No dia 01 de janeiro de 1959, ainda em Santiago de Cuba, Fidel Castro se dirigiu aos compatriotas de toda a Ilha para afirmar que “temporariamente, a tarefa dos fuzis tinha cessado”. Mas salientou que, caso o povo cubano fosse ameaçado, os fuzis estariam ao alcance do povo.

Fidel queria sinalizar para seus compatriotas que, com o triunfo da Revolução, desejava a Paz, mas esta Paz não estaria subjugada à perda da sberania e do direito à autodeterminação. Por isso, em caso de ameaça, não apenas os 30 mil ou 40 mil membros das Forças Armadas entrariam em combate, mas os 400 mil cubanos, homens e mulheres, para defender sua soberania!

Nesse mesmo pronunciamento, o Comandante Fidel percebeu a necessidade de não deixar para depois um tema que ele vinha enfrentando desde a Sierra Maestra: o desconforte de alguns de seus soldados perante as mulheres combatentes. E Fidel aproveitou o pronunciamento para ser pedagógico.

Existirão as armas necessárias para que aqui seja armado todo aquele que queira combater quando chegar a hora de defender nossa soberania. Porque já foi demonstrado que não apenas lutam os homens, mas também as mulheres lutam em Cuba, e a melhor demonstração disso é o Pelotão “Mariana Grajales”, que tanto se distinguiu em inúmeros combates. E as mulheres são tão excelentes soldados como os nossos melhores soldados homens”.

O Exército revolucionário, que derrotou a ditadura de Fulgêncio Batista, não poderia, na concepção de Fidel Castro, reproduzir a mesma lógica dos exércitos capitalistas, assentados no sectarismo, no machismo e na misoginia, por isso partiu de Santiago de Cuba para a capital do país com a Caravana da Liberdade. A Caravana, composta por estudantes, operários e camponeses, contou com uma unidade de combatentes especial, o pelotão Mariana Grajales. O pelotão de mulheres revolucionárias, formado por treze jovens na faixa dos 17 anos, sobretudo de origem camponesa, foi criado, organizado e treinado pelo Comandante em Chefe do Exército Rebelde no ano anterior ao triunfo da Revolução, em 03 de setembro de 1958, para combater na Sierra Maestra, ao lado de Célia Sanchez e Fidel Castro.

Mesmo antes de se constituírem em unidade de combate, as corajosas mulheres já vinham realizando tarefas arriscadas, levando remédios, armas, alimentos, arrecadando dinheiro aos rebeldes e fazendo denúncias do regime de Batista. Mas, ao subirem à Sierra, estiveram ombro a ombro com os demais guerrilheiros, assumindo posição na primeira linha de fogo.

Sob o comando da enfermeira rebelde Isabel Rielo e de Tetê Puebla, as mulheres do pelotão Mariana Grajales participaram de combates armados e realizaram importantes missões, as quais lhes colocaram em perigo iminente frente ao exército inimigo.

Durante o pronunciamento, Fidel expôs a sua compreensão sobre o tema das mulheres e da discriminação que elas enfrentam em todo o mundo. Por isso ele revelou a sua intenção.

Eu queria demonstrar que as mulheres podiam ser tão bons soldados e que existiam muitos preconceitos… com relação à mulher, e que a mulher é um setor de nosso país que também necessita ser reparado, porque é vítima da discriminação no trabalho e nas várias esferas da vida”.

Ao ser questionado pelo fato de armar as mulheres com os melhores fuzis (M-1) que possuíam os cubanos naquele momento, Fidel respondeu: “Vou te dizer o porquê, porque elas são melhores soldados que você!”

A unidade de combate de mulheres do Exército Revolucionário recebeu o nome Mariana Grajales, la madre de la Pátria, mulher preta, combatente, que durante dez anos subiu montanhas, cuidou de feridos, cruzou rios e combateu pela independência de Cuba no século XIX. Mariana Grajales é símbolo do patriotismo cubano e do heroísmo nacional, porque não apenas se dedicou pessoalmente à luta pela Independência Cubana, como também estimulou os seus filhos os “Maceo” a lutarem pela libertação do país.

Mariana Grajales. Desenho: Reprodução

Quando a Caravana da Liberdade partiu de Santiago de Cuba rumo à Capital, Las Marianas entram com Fidel Castro em Havana no dia 08 de janeiro de 1959.

Daí em diante, o pelotão Mariana Grajales, assumiria diferentes tarefas como realizar o censo da reforma agrária, o desenvolvimento de trabalho solidário, enquanto outras companheiras se incorporaram em diversas unidades militares.

Há 65 anos a Revolução Cubana continua a nos inspirar na resistência ao capitalismo e nos desperta a reconhecer o poder e o valor das mulheres combatentes e revolucionárias nesse processo. Ademais, o esforço da revolução em reconhecer a força organizada das mulheres e a sua participação ativa demonstra que as revolucionárias e os revolucionários estavam cientes de que não podiam protelar o combate às discriminações de gênero e raça; como agora, sabiam quão imperativo é derrotar o machismo e o racismo para fazer brotar a sociedade democraticamente transformada.

Fidel tinha muita clareza que a luta das mulheres foi fundamental para a libertação do povo cubano. Da mesma forma, sabia e explicou para seu povo que quando homens e mulheres lutam pelo e com o povo, então “esse povo é invencível”.

Viva Cuba Socialista! Viva Fidel! Viva las Marianas!

*Simone Magalhães, faz parte do Grupo de Estudos Terra, Raça e Classe e da Brigada Internacionalista Apolônio de Carvalho/BIAC do MST.