Agroecologia

BioNatur celebra aniversário com perspectiva de nacionalização

Nesta quarta (17), a Rede de Sementes Agroecológicas completa 27 anos, com a proposta de ampliar sua atuação e variedades de sementes
Cultivo de sementes agroecológicas ocorre em 18 assentamentos pelo Brasil, envolvendo mais 350 famílias produtoras. Foto: Leandro Molina

Por Solange Engelmann
Da Página do MST

Atuar como um banco vivo de sementes agroecológicas, garantindo a produção de sementes de alimentos, como hortaliças, além de forrageiras, flores e árvores para as áreas de Reforma Agrária em todo o país. Essa é a proposta de nacionalização da Rede de Sementes Agroecológicas BioNatur, que nesta quarta-feira completa 27 anos de existência e colaboração no enraizamento da agroecologia.

Ligado ao MST, a Rede BioNatur é uma cooperativa que reúne agricultores e agricultoras assentados da Reforma Agrária, de 18 assentamentos pelo Brasil, totalizando mais de 350 famílias que produzem sementes agroecológicas. A opção pela Agroecologia transformou a Rede em uma experiência pioneira no Brasil e na América Latina.

Hoje a BioNatur produz sementes de diversas espécies de hortaliças, plantas ornamentais, forrageiras e grãos, em sistemas de produção de base agroecológica. E é representada pela Cooperativa Agroecológica Nacional Terra e Vida Ltda (Conaterra), responsável pela marca BioNatur, com sede no assentamento Roça Nova, localizado no município de Candiota, no Rio Grande do Sul.

O integrante do Setor de Produção do MST, Daniel da Silva, explica que a Rede e as famílias assentadas do MST têm muito a comemorar nesta data, pois resistiram na proposta de produzir sementes agroecológicos em um período em que esse tipo de produção ainda estava se iniciando no país.

“O que a gente enfrentou nesses 27 anos, foram peleias muito duras: resistir com a pauta da agroecologia, criar a cadeia produtiva das sementes, entrar na perspectiva formal dessa produção. E nesse momento, comemorar os 27 anos, tornando a BioNatur uma cooperativa nacional mostra que a gente é vitorioso.”

Foto: Arquivo Bionatur

Nacionalização e combate à fome

Daniel destaca que a proposta do MST é nacionalizar a Rede BioNatur para articular e integrar a produção de sementes agroecológicas, a partir dos estados e territórios do MST, criando num sistema cooperado que passe a dominar as diversas cadeias produtivas, desde a produção da semente, responsável por gerar o alimento, o beneficiamento até a comercialização, desses produtos agroecológicos.

“Nós estamos buscando seguir o rumo histórico da BioNatur, que é se especializar nas sementes de hortaliças, grãos, flores e algumas culturas forrageiras para pasto. Agora estamos nos aprofundando um pouco mais nos grãos, tentando criar cadeias produtivas em torno da cultura da soja, do milho”, relata Daniel.

Na perspectiva da transição agroecolgócia nas áreas de Reforma Agrária, também existe a perspectiva de iniciar a produção de sementes de cadeias produtivas das culturas florestais, em parceria com o Plano Nacional do MST Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis. A proposta do Plano é plantar 100 milhões de árvores em dez anos, fortalecendo a produção de alimentos saudáveis nas áreas de assentamentos e acampamentos do MST e fazendo a denúncia do modelo destrutivo do agronegócio e dos seus impactos nocivos ao meio ambiente e às pessoas, a exemplo das enchentes, tempestades e secas que já vem ocorrendo no país gerando mortes e destruição.

“Nós almejamos, iniciar com processos de coleta de produção, para a questão das sementes florestais. Hoje, nosso banco de sementes chega a aproximadamente 100 variedades e comercialmente a gente está atuando com 40 variedades. Ano que vem a gente espera ampliar isso. E aí a gente garante, tanto a viabilidade econômica a partir das sementes, quanto esse resguardo da nossa biodiversidade”, pontua o membro do Setor de Produção do MST.

Foto: Arquivo Bionatur

Outro compromisso da Rede BioNatur na atualidade concentra-se na busca de alternativas para a produção de sementes agroecológicas voltadas à produção de alimentos e, com isso, contribuir no combate à fome no país, uma problemática urgente na sociedade brasileira.

“A produção de alimentos é uma demanda urgente do povo brasileiro. Para a gente suprir essa necessidade de alimentos serão necessárias muitas sementes. A gente percebe que, com uma ampla diversidade de hortaliças e sementes vai dar passos no combate à fome. E também avançar nas grandes culturas, feijão e trigo, ou até a soja, de forma agroecológica. Nós queremos ter a semente necessária para acabar com essa fome. Isso está na centralidade da pauta do nosso Movimento”, expõe Daniel.

Nesse sentido, no processo de transição agroecológia, que vem sendo trabalhado pelo MST, a produção de alimentos precisa estar aliada à recuperação ambiental dos biomas, sendo pensada de forma consorciada. Diante disso, a BioNatur assume um papel importante em garantir a produção dessas sementes agroecológicas para a massificação e o enraizamento dos sistemas agroecológicos, produzindo alimentos e recuperando a biodiversidade nos territórios da Reforma Agrária.

Diferencial na produção e certificação

Atualmente a Rede BioNatur envolve e comercializa a produção de sementes cultivadas nos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Ceará, Bahia, Rio Grande do Norte, Distrito Federal, além do Rio Grande do Sul. Dessa forma, a Rede organiza o processo de produção das sementes, a agroindustrialização e a comercialização das sementes de hortaliças.

Alcemar Adílio e sua filha na Feira Nacional da Reforma Agrária. Foto Rica Retamal

O Técnico Agrícola e assentado, que faz parte da coordenação da Rede BioNatur, Alcemar Inhaia, detalha que nos últimos anos houve alguns avanço como, a criação da unidade de beneficiamento, a definição pela produção agroecologia e a criação da Coonaterra.

Além das vendas no varejo e atacado, também há uma expectativa de comercialização via a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “A previsão é chegar a comercialização de 1 milhão de reais este ano”, projeta Alcemar.

Para se tornar um produtor ou produtora associado da BioNatur, é necessário produzir de maneira agroecológica, em um sistema de produção que não agride a natureza, nem os seres vivos, mas se alia e preserva a biodiversidade, sem o uso de agrotóxicos, livre de transgênicos ou híbridos e de insumos químicos. A colheita também deve ser manual e o armazenamento livre de contaminações químicas ou sintéticas.

A produção de sementes passa por um processo de certificação, realizado nos lotes, locais das produções por meio de auditoria, feita pela Associação de Certificação Instituto Biodinâmico (IBD) em todas as safras, variando de três meses a seis meses, de acordo com o tipo de cultivo.

História

A Rede BioNatur foi fundada em 17 de janeiro de 1997, por 12 famílias assentadas na Reforma Agrária, no município de Candiota, no Rio Grande do Sul. Com o intuito de “produzir e comercializar sementes agroecológicas que possam ser cultivadas, multiplicadas, conservadas e melhoradas pelos agricultores que as adquirem, expressando seu potencial produtivo e sua capacidade de adaptação ás diferentes regiões do Brasil”, informa no seu site.

A experiência de produção de alimento sem veneno e aditivos químicos avançou e hoje a BioNatur produz uma diversidade de sementes, que variam entre hortaliças, grãos, forrageiras e plantas ornamentais.

*Editado por Gustavo Marinho