Minas Gerais

5 anos de Brumadinho: avançar na Reforma Agrária e enfrentar a mineração 

MST faz balanço dos cinco anos de luta por reparação e de ações concretas nos territórios atingidos pelo crime da Vale em Minas Gerais
Crime da Vale em Brumadinho completa 5 anos nesta quinta (25). Foto: Arquivo MST

Por Leonardo Fernandes
Da página do MST

“Aqui a gente plantava de tudo, as crianças brincavam no rio, a gente usava a água para tudo”, lembra Daniela, moradora do Acampamento Pátria Livre, em São Joaquim de Bicas, região metropolitana de Belo Horizonte.

Lá se vão cinco anos desde aquele 25 de janeiro de 2019, quando o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho despejou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos da mineração na bacia do rio Paraopeba, matando 272 trabalhadores, impactando vegetação, a fauna ao longo de centenas de quilômetros, atravessando o território de mais de 20 municípios, entre os quais, dois acampamentos e um assentamento da Reforma Agrária. 

Além do grave e prolongado dano ambiental, o crime da mineradora Vale impactou os modos de vida das comunidades atingidas, que usavam o Rio Paraopeba como fonte de lazer, renda, e para o próprio desenvolvimento socioeconômico de suas comunidades.

Foto: Arquivo MST

Fábio Nunes, do Setor de Produção do MST em Minas Gerais, lembra que o primeiro desafio após o rompimento da barragem, foi o reconhecimento das famílias Sem Terra como sujeitos de direito, como atingidos.

“Desde o início o MST fez a luta para que as famílias Sem Terra fossem reconhecidas como atingidas. No primeiro momento elas não foram incluídas no programa de transferência de renda e até hoje a gente segue travando batalhas judiciais para que essas famílias sejam de fato indenizadas de forma justa por conta desse crime”, comenta. 

São mais de mil famílias Sem Terra localizadas nos três territórios da Reforma Agrária ao longo da bacia do Paraopeba. Além da organização e acompanhamento dessas famílias, o MST vem desenvolvendo ações no marco do Programa Agroecológico de Reparação da Bacia do Rio Paraopeba, que contribui para a reparação ambiental e para o fortalecimento dos processos produtivos, orientados pela agroecologia e pela cooperação entre as famílias acampadas e assentadas que foram atingidas pelo crime da Vale.

O Programa tem como missão  a preservação e recuperação dos recursos naturais e a produção de alimentos saudáveis, a partir de ações nos seguintes eixos: Produção Agroecológica, Ambiental, Educação e Direitos Humanos.

De acordo com o Setor de Produção do MST, em um ano de programa, foram plantadas 30 mil mudas de árvores frutíferas e nativas da região, além de 34 espécies de sementes crioulas cultivadas, em cerca de 10 hectares de Sistemas Agroflorestais (SAFs) implantados, como forma de contribuir para o processo de reparação ambiental das áreas atingidas. “O programa também inclui atividades educativas e de formação, além da assistência técnica que visa retomar a produção agrícola e a criação de pequenos animais, para que haja de fato uma reativação da economia dessas famílias que foram impactadas”, completa Nunes. 

Silvio Neto, da Direção Nacional do MST, faz um balanço desses cinco anos de luta por reparação, e destaca o papel central do enfrentamento à mineração para o Movimento no estado. “Foram cinco anos de impunidade para as famílias atingidas pelo crime da Vale. Essa tragédia nos mostrou que enfrentar esse modelo perverso de mineração é essencial para a realização da Reforma Agrária Popular, assim como só o avanço dela pode permitir que Minas Gerais se livre da minério-dependência. Por isso, para nós do MST, enfrentar esse modelo atrasado de mineração é uma tarefa central da nossa ação política. Nada nos fará recuar”, afirma.

*Editado por Gustavo Marinho