Minas Gerais

Sem Terra atingidos pelo crime da Vale reflorestam 10 hectares na Bacia do Paraopeba

Famílias Sem Terra atingidas seguem construindo agroflorestas e plantando alimentação saudável na região atingida pela mineração
Mudas de árvores frutíferas foram plantadas proporcionando uma variedade de 34 espécies. Foto: Agatha Azevedo

Por Agatha Azevedo
Da Página do MST

O dia 25 de janeiro de 2024 marca os cinco anos do  crime da mineradora Vale, em que o rompimento da barragem em Brumadinho matou o Rio Paraopeba e 272 pessoas em 2019. A lama da mineração atingiu os Acampamentos Pátria Livre e Zequinha, além do Assentamento 2 de Julho, localizados respectivamente em São Joaquim de Bicas e em Betim.

Segundo Silvio Netto, da Direção Nacional do MST, o Movimento cada vez mais tem se colocado o desafio de reflorestar seus territórios como forma de enfrentar a mineração. “Os últimos anos carregamos o peso da impunidade em Minas. Para nossas famílias, para os nossos territórios e para o MST. Produziremos alimentos, plantaremos nossas matas que foram destruídas e traremos vida de novo ao Rio doce e ao Rio Paraopeba”, afirma. 

Para Netto, a produção agroecologia é uma resposta concreta ao modelo de mineração. “A Vale vai ter que pagar. Enquanto nós buscamos condições dignas de vida, a Vale só busca o lucro com nossa natureza. Lutaremos pela vida”, analisa Silvio.

Para Doralice Lopes, moradora do Zequinha Nunes, um dos acampamentos atingidos, a situação causa indignação. “O que eu tenho de falar sobre hoje é que tudo mudou depois do crime da Vale. Afetou saúde, alimentação e lazer. Estamos todos sem o rio. Não podemos mais comer peixe e temos que cuidar da nossa saúde mental, e trabalhar para que a produção volte a ser como antes. É indignante ter que reconstruir depois do pior crime ambiental do Brasil”, conta Doralice.

Após cinco anos do crime, as famílias demonstram que é possível produzir e regenerar o território minerado através do trabalho coletivo. No último período, 30 mil mudas de árvores frutíferas e de reflorestamento foram implementadas em 10 hectares, proporcionando uma variedade de 34 espécies. 

Foto: Agatha Azevedo

Produção cooperativada

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 2017, no “Atlas: mapeando os objetivos do desenvolvimento sustentável na mineração”, os territórios minerados chegam a reduzir sua capacidade produtiva em até 700%. Em Minas Gerais, estima-se que os municípios deixam de arrecadar 1 bilhão de reais em isenção de impostos das atividades monetárias. 

Nesta seara de contradições, o MST conseguiu ir na contramão das estatísticas. Segundo Viktor Marques, do Setor Produção, “um dos nossos pilares é o fortalecimento dos processos produtivos da região da Bacia do Paraopeba com base na agroecologia.”

Foto: Agatha Azevedo

Conheça o enfrentamento do MST à mineração na região

Os territórios ocupados pelo MST na região Metropolitana estão, em sua maioria, rodeados pelas contradições da mineração. No dia do rompimento da barragem, as famílias Sem Terra viram o rio mudar de cor e tiveram que deixar as suas casas, com medo do aumento do nível da água. A produção foi prejudicada e as famílias começaram a ter problemas respiratórios e de pele.

Em abril do mesmo ano, o MST produziu e fez a entrega do laudo técnico que comprova que os dois acampamentos massivos do MST na região metropolitana de Belo Horizonte foram atingidos, além de um assentamento histórico, pelos rejeitos tóxicos do rompimento da barragem de Brumadinho. 

Com mobilizações na capital mineira e nos municípios atingidos, o MST construiu a luta reivindicatória dos atingidos ao mesmo tempo em que se propunha a fazer ações de solidariedade e a reflorestar a Bacia do Paraopeba. 

Segundo a Emater, os cadastros de atingidos Sem Terra na região chegaram a  mais de mil famílias. Ana Paula, do Setor de Produção do MST, foi uma das técnicas que acompanharam o laudo técnico produzido com apoio da Emater.

*Editado por Gustavo Marinho