Internacionalismo

Campanha de alfabetização na Zâmbia realiza formatura de mais 400 estudantes

O país tem mais de 70 idiomas locais, mas o inglês, incorporado no período colonial, hoje ainda é essencial para que as pessoas tenham acesso aos serviços básicos
Foto: Brigada Internacionalista Samora Machel

Por Brigada Internacionalista Samora Machel
Da Página do MST

A Brigada Internacionalista Samora Machel, em parceria com o Partido Socialista da Zâmbia realizou no último dia 21 março a formatura de mais de 400 alfabetizandos, que completaram a segunda fase da campanha de alfabetização pelo Método Falar, ler e escrever as palavras e o Mundo, baseado em Paulo Freire e no método Cubano “Sim, Eu Posso!”.

“Pela primeira vez, estive em uma sala neste país, onde todos podem ler e escrever. Esta é uma zona liberada hoje” declarou o presidente do Partido Socialista de Zâmbia, Dr Fred M’mbembe durante a formatura.

A Zâmbia concentra mais de 70 idiomas locais, nos quais as pessoas são poliglotas e até mesmo alfabetizadas, a ênfase da alfabetização em inglês decorreu do período colonial e foi incorporada a “todas as áreas da vida política, social e cultural” do país. E hoje é considerada necessária para que as pessoas possam ter acesso a serviços básicos, inclusive à educação e saúde, como declarado pelo Secretario Geral do Partido Socialista, Cosmas Mussumali.

Thereza Bwalya. Foto: Brigada Internacionalista Samora Machel

Já a educanda Thereza Bwalya, de 67 anos, declara que se matriculou na alfabetização para entender o inglês e interagir com as pessoas, pois grande parte da comunicação transmitida pela mídia no país também é feita nesse idioma. “Pensei em participar das aulas de alfabetização porque a maioria dos meus netos fala inglês, então, quando eles me visitavam, era um desafio se comunicar com eles. Mesmo quando assistia à TV, não conseguia entender o que estava sendo dito na TV e pedia para as pessoas que estavam comigo traduzirem”.

Quando se tratava de telefone, Thereza também não conseguia abrir o aparelho sozinha, a menos que alguém a ajudasse. “Agora consigo me comunicar com meus netos. Entender o que está sendo dito na TV. Consigo escrever e ler as mensagens em meu telefone. Estou muito feliz por poder me comunicar com as pessoas em inglês. Recebi o certificado, mas não posso trabalhar agora porque sou idosa, mas é bom ter o conhecimento que me permite administrar minha venda, fazer o orçamento e saber o lucro.”

Fotos: Brigada Internacionalista Samora Machel

Com um publico majoritariamente de mulheres jovens e idosas como a Thereza, a campanha tem se tornado uma ferramenta importante de emancipação, pois o método trabalha com o senso crítico dos alunos através dos seus temas geradores como agroecologia, saúde, educação, cultura, gênero e cidadania.

Mas, o foco do programa não é apenas a alfabetização, mas a agroecologia, em um contexto em que 1,5 milhão de pequenos agricultores produzem 90% dos alimentos do país e as famílias de agricultores são extremamente vulneráveis a crise climática, incluindo uma grave seca no momento, que o governo da Zâmbia declarou oficialmente como um “desastre nacional”.

Elizabet Cerqueira. Foto: Brigada Internacionalista Samora Machel

Para a coordenadora da Brigada, Elizabet Cerqueira a campanha de alfabetização é um marco na construção do internacionalismo e da solidariedade entre os povos. Uma vez que, o método é criado a partir das conquistas da classe trabalhadora como as campanhas de alfabetização em Cuba, Nicarágua em seus processos revolucionários. E também se somam ao acúmulo das experiencias de campanhas de alfabetização nos territórios do MST no Brasil, que no auge dos seus 40 anos continua na luta pelo fim do analfabetismo!

*Editado por Solange Engelmann