17 de Abril

Famílias acampadas em Hulha Negra (RS) lembram mártires de Eldorado do Carajás

Mística e bloqueio da BR 293, por 19 minutos marcaram o 17 de Abril no Rio Grande do Sul
Foto: Natxo Devicente

Por Katia Marko
Da Página do MST

Cerca de 590 famílias Sem Terra do acampamento Sebastião Sales, em Hulha Negra, na Região Sul do Rio Grande do Sul, marcaram a data dos 28 anos do massacre de Eldorado do Carajás, com uma mística e o bloqueio por 19 minutos da faixa da BR 293, em frente ao acampamento na manhã desta quarta-feira (17).

Segundo a coordenadora do acampamento, Mariele Maciel, a ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas do MST que acontece essa semana em todo o país, com o lema “Ocupar para o Brasil alimentar!”. 

Até esta quarta-feira (17), o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) contabiliza 28 ocupações de terras improdutivas. O número já supera as ações do tipo feitas pelo Movimento nos anos de 2019, 2020 e 2021, segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT).  

Fotos: Natxo Devicente

Em uma “carta ao povo brasileiro” sobre “o marco deste 17 de abril de 2024”, Dia Mundial de Luta Pela Terra, o MST explica as principais reivindicações da Jornada Nacional, com críticas ao que consideram insuficiente nas políticas de Reforma Agrária do governo Lula (PT).  

A ação, informa Mariele, reforçou a importância da Reforma Agrária como alternativa urgente e necessária para a produção de alimentos saudáveis para a população do campo e da cidade, para combater a fome, e avançar no desenvolvimento do país, no contexto agrário, social, econômico e político.

“Nós estamos acampados desde o dia 19 de outubro de 2023 neste local que é berço de 58 assentamentos, mas uma região que ainda possui uma grande concentração de terras nas mãos de poucos proprietários. Nós queremos terra para plantar, e a retomada das políticas públicas para fomentar a Reforma Agrária e a Agricultura Familiar, que são fundamentais para a superação da fome e insegurança alimentar no Brasil”, destacou.

Cidades nascem a partir dos assentamentos

Foto: Natxo Devicente

Em 2024, a região completa 35 anos da conquista de assentamentos. Em 1989, quando os Sem Terras se deslocaram para lá, existia somente a cidade de Bagé. Depois da implementação de mais assentamentos, foram criados outros três municípios: Hulha Negra (1992), Candiota (1992) e Aceguá (1996).

A partir da luta pela terra, na época foram criados seis assentamentos. Os que atualmente estão localizados em Hulha Negra são os assentamentos Nova União, Missões Alto Uruguai, Santa Elmira e Conquista da Fronteira. Já os situados em Candiota são os assentamentos Santa Lúcia e Nossa Senhora Aparecida. Hoje nesses dois municípios, juntamente com Aceguá e Pedras Altas, há 2.250 famílias assentadas, em 58 áreas de Reforma Agrária.

A região da Campanha, depois de mais de 30 anos de lutas, acumulou diversas conquistas. As cooperativas e associações do MST somam-se em várias áreas da produção, como a Cooperativa Agroecológica Nacional Terra e Vida (Coonaterra), a primeira do Brasil a produzir, beneficiar, embalar e comercializar sementes de hortaliças agroecológicas, além de ter uma diversificada produção de grãos, forrageiras e adubação verde.

Segundo o dirigente estadual do MST, Ildo Pereira, os assentamentos da Reforma Agrária Popular para a região da Campanha foram fundamentais para o desenvolvimento da população e dos municípios daquele local. “Nós somos parte concreta e direta da emancipação de Hulha Negra e Candiota. No nosso assentamento nos orgulhamos de dizer que desde a nossa existência não teve nenhum caso de criança que morreu por má alimentação”, salienta.

Outro fato de orgulho para os assentados da região é a sua contribuição para a sociedade através das lutas do MST. “É difícil você pegar um município e não notar o crescimento das lojas e mercados com a chegada dos assentamentos na região. Os pequenos agricultores contribuíram para as comunidades, principalmente de Hulha Negra e Candiota, com a manutenção das estradas, acesso à energia e água potável”, relata Pereira.

*Editado por Solange Engelmann