Produção

Mandioca, macaxeira, aipim: alimento ancestral que está na base do Brasil e do MST

Neste Dia Nacional da Mandioca, conheça algumas curiosidades e experiências sobre a raiz ancestral em assentamentos de Reforma Agrária no Brasil
Foto: Anidayê Angelo

Por Fernanda Alcântara*
Da Página do MST

Diretamente do estremo-sul da Bahia, Domingas ensina a clássica receita de Escondidinho de Mandioca.

Junto com a batata, ela é uma das queridinhas que unem vegetarianos, veganos e onívoros, e até virou meme no pedido, da então presidente Dilma Rousseff, para saudá-la. E nesta segunda-feira (22), Dia Nacional da Mandioca, lembramos do alimento que conta a nossa história sem perder de vista o nosso futuro.

No Brasil, o cultivo da mandioca remonta aos tempos pré-coloniais, já que antes da chegada dos europeus, as civilizações indígenas já cultivavam e consumiam a mandioca, conhecida como aipim ou macaxeira em algumas regiões do país. Com a colonização, a mandioca tornou-se ainda mais difundida, sendo cultivada em larga escala pelos colonos europeus e africanos.

A partir daí, a mandioca desempenhou um papel fundamental na alimentação dos escravizados nas plantações de cana-de-açúcar, sendo uma fonte importante de calorias e nutrientes. Sua resistência e facilidade de cultivo a tornaram um alimento base para a sobrevivência em um contexto de trabalho extremamente duro.

Neste sentido, sua importância nutricional também deve ser destacada. Rica em carboidratos, a mandioca fornece energia de forma sustentada, sendo uma fonte importante de calorias em muitas regiões tropicais. Além disso, a mandioca é uma boa fonte de fibras, vitaminas do complexo B e minerais como cálcio, fósforo e potássio.

“Todos nós nos alimentamos desses produtos feitos da mandioca. Ou seja, nós comemos a macaxeira, mas também produzimos farinha, produzimos a goma para a tapioca, e da goma tiramos a borra para fazer o grolado, para comer com peixe assado. A gente pode tirar e fazer um molho de mesa da mandioca, que também é muito gostoso. Fora que, da goma, fazemos diversos cardápios, os bolos, cocos da goma da mandioca”, afirma Maria Ivanise Martins de Souza Nascimento, assentada da Reforma Agrária no assentamento Lagoa do Mineiro, em Itarema-CE.

Foto: Anidayê Angelo

Pedrinho Pronto é acampado no acampamento Padre Josino, município de Carrasco Bonito, no Bico do Papagaio, Tocantins, e também relata a importância da raiz para a comunidade. “Aqui no acampamento produzimos milho, arroz, mas nosso principal cultivo é a mandioca. Ela nos fortalece e contribui para nossa fonte de renda. Conseguimos abastecer cidades como Carrasco Bonito e as vizinhas, inclusive durante a pandemia conseguimos fazer doações com nossa produção aqui na Padre Josino e no Bico do Papagaio às periferias, como em Araguaína.”

Neste sentido, mesmo séculos depois, a mandioca continua desempenhando um papel fundamental na culinária brasileira, sendo um ingrediente versátil e presente em diversos pratos tradicionais, como a farofa, o pirão, a tapioca e a própria farinha de mandioca. Além disso, a mandioca é parte integrante de festas e celebrações regionais, como o carimbó no Pará e o bolo de aipim no Nordeste.

Cadeia Produtiva

Fotos: Anidayê Angelo

Hoje, a cultura de subsistência é o principal cultivo de muitas famílias, como destaca Pedrinho, do Tocantins. “De forma coletiva, o que é muito importante para nós. A mandioca é resistente ao sol e à seca, o que é essencial, já que o solo [no Tocantins] é um pouco arenoso. Além da farinha, produzimos a puba, a tapioca e usamos a casca para alimentar os porcos, o que ajuda a reduzir as despesas com ração. Cultivamos também a macaxeira, que pode ser consumida in natura e serve para alimentar os animais. Renovamos nossas plantações de mandioca todos os anos”.

Falar da mandioca é falar de muitas coisas que, se a gente fosse escrever, dava um livro. Desde a importância do plantio, da preparação do terreno, a safra do ano a ano, as farinhadas. Na semana das farinhadas, tem comunidades que chegam a fazer três meses de farinhada. E é também um momento de encontro, de alegria e da colheita dos produtos da mandioca”, afirma Maria Ivanise.

Segundo a assentada, a preparação do terreno é realizada no ano, e o plantio geralmente é organizado em janeiro, no inverno, na quadra invernosa. Há períodos em que o inverno começa mais cedo e é preciso plantar mais cedo também. As mandiocas plantadas este ano serão colhidas no próximo ano, e assim realizaremos as farinhadas.

Em alguns assentamentos, há casas de farinha comunitárias e coletivas, onde é feita a colheita dessa produção também de forma coletiva, com as famílias. “Ou seja, se esta semana faremos a farinhada do João, todo mundo vai para a farinhada ajudar a colher a mandioca, colocar no saco, preparar, pesar os sacos dos produtos; e na semana seguinte, o mutirão se organiza e realiza a farinhada de outra pessoa”, relata Maria Ivanise.

Esse são alguns do exemplos de que o cultivo da mandioca no Brasil continua sendo importante tanto para a segurança alimentar quanto para a economia. No âmbito da produção Sem Terra, ela faz parte da cultura amplamente e da cadeia produtiva de uma grande parte do país. A mandioca também é uma cultura importante para a agroindústria, com a produção de farinha, fécula e outros derivados da mandioca, sendo uma atividade econômica significativa em muitas regiões.

“Essa cultura alimenta, tanto nós, trabalhadores rurais, como a sociedade, porque o excesso [do assentamento Lagoa do Mineiro] a gente vende nas feiras, participa das atividades externas como a Feira Estadual da Reforma Agrária, em outras feiras e simpósios que acontecem no município de Itarema, em Fortaleza, e até na Feira Nacional em Brasília deste ano”. A Feira Nacional da Reforma Agrária deste ano tem previsão de ocorrer durante o 7º Congresso Nacional do MST, em julho deste ano.

Assim, a mandioca desempenha um papel importante na história alimentar do Brasil, e no MST não poderia ser diferente. Temos que saudá-la pois sua cultura segue vital para a segurança alimentar, a economia e a cultura. Não importa se é mandioca, macaxeira ou aipim: é a nossa mandioca de cada dia que alimenta!

Fotos: Anidayê Angelo
Imagem de Freepik

Você sabe como funciona a cadeia produtiva para alguns derivados da mandioca?

A cadeia produtiva da mandioca e seus derivados envolve várias etapas, desde o cultivo da raiz até a produção de diferentes produtos derivados. Aqui estão os principais passos:

Produção da Mandioca: A mandioca é uma planta cultivada principalmente por meio de manivas (pedaços de caule) plantadas no solo. Ela cresce em média de 6 a 12 meses até estar pronta para a colheita.

Colheita: A colheita da mandioca é feita manualmente, arrancando-se as raízes do solo. As raízes colhidas são então transportadas para a próxima etapa.

Descascamento: As raízes de mandioca são descascadas para remover a casca externa, expondo a polpa branca interna.

Ralamento: As raízes descascadas são então raladas para formar uma massa.

Extração de Amido: A massa ralada é colocada em sacos e prensada para extrair o amido, que é a principal matéria-prima para muitos produtos derivados da mandioca, como a farinha.

Secagem: O amido extraído é seco para remover o excesso de umidade, formando a farinha de mandioca.

Produção de Farinha de Mandioca: A farinha de mandioca é obtida por meio da torrefação e moagem da massa seca. Ela pode ser utilizada para fazer diversos pratos, como farofa e beijus.

Outros Produtos Derivados: Além da farinha, a mandioca também é utilizada para produzir outros produtos, como a tapioca (fécula de mandioca) e o polvilho (amido de mandioca), que são amplamente utilizados na culinária.

Esses são os principais passos da cadeia produtiva da mandioca e seus derivados, que envolvem várias etapas desde o cultivo até a produção dos produtos finais.

*Com colaboração de Aline Oliveira (Ceará) e Nadson (Tocantins)

**Editado por Solange Engelmann