Memória

Projeto trabalha na preservação e digitalização do acervo de memória do MST

Iniciativa em parceria com a Unifesp e a Universidade da Califórnia no Campus de Los Angeles contribui na preservação e divulgação da memória do Movimento
Acervo do MST que integra o projeto. Foto: Priscila Ramos

Da Página do MST

O cuidado com a memória tem sido um dos princípios do Movimento Sem Terra e acompanha o processo de luta e existência do Movimento ao longo de 40 anos, expressado na preservação da memória da luta do povo Sem Terra, com por exemplo, com a escolha nos nomes dos assentamentos, acampamentos, escolas, coletivos e centros de formação, que geralmente fazem referência a lutadores e lutadoras do povo ou a processos de luta social.

Essa busca pela preservação da memória também está presente no cuidado dos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra que guardam jornais, bandeiras desbotadas, camisetas de marchas anteriores e congressos, todos materiais que marcaram e contam histórias pessoais e coletivas.

Com a preocupação do cuidado e preservação da memória Sem Terra, e em preparação ao 7º Congresso do MST, vem sendo desenvolvido o projeto denominado Programa de Arquivos Modernos Ameaçados da Biblioteca da UCLA (MEAP – Modern Endangered Archives Program da UCLA Library), “Preservando a memória do MST”, que é administrado por um grupo de técnicos da Universidade da Califórnia no Campus de Los Angeles (UCLA).

Equipe de Arquivo e Memória Nacional do MST em atividades do acervo. Foto: Priscila Ramos

O projeto funciona com a coordenação do professor Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Clifford Andrew Welch, e da Casa Brasileira de Pesquisa e Cooperação, coordenada pela pesquisadora Jade Percassi. O objetivo é preservar e partilhar o arquivo e a memória  através da catalogação e digitalização de parte do acervo nacional do MST.

“O projeto é uma forma de preservação e divulgação de documentos, publicações, imagens e artefatos do MST. Foi formada uma equipe de militantes para levantar a massa documental do Movimento que estava guardado no porão da Secretária Nacional, há alguns anos. Uma seleção foi feita dos materiais mais interessantes para digitalizar, com o intuito de preservar e facilitar sua divulgação pela Internet”, explica Clifford.

O professor também salienta que os materiais digitalizadas e divulgadas vão trazer novos fatos, lembranças e perspectivas sobre a história e luta do MST em relação ao debate sobre a memória do Movimento, bem como “permitir a elaboração de histórias sobre o Movimento a partir da própria experiência interna documentada”.

O material que será divulgado a partir do projeto irá tornar público pela primeira vez um conjunto de debates e experiências internas que orientaram a construção do MST ao longo das primeiras décadas, e permitirá o acesso público para que pesquisadores de todo o mundo examinem a memória institucional do Movimento.

“A preservação de agendas, memoriais, análises, reportagens, cartazes, cadernos, e outros relatos das funções cotidianas conduzidas no passado, alimenta o conhecimento com um recorte menos influenciado pela memória, que é um ‘banco de dados’ pouco confiável por ser sujeito a falhas e as distorções do passar do tempo, típicas da condição humana”, enfatiza o professor Clifford. E continua: “a colaboração da UCLA ajuda a garantir a preservação deste corpo documental em um lugar seguro por ser distante das possíveis intervenções policiais e estatais, que poderiam ameaçar qualquer acervo de documentos originais de um movimento que se coloca contra a ordem atual.”

Lucimeire Barreto Rocha. Foto: Priscila Ramos

Segundo Lucimeire Barreto Rocha, historiadora, militante e coordenadora da equipe de Arquivo e Memória Nacional do MST, o projeto ajudou a valorizar a memória do Movimento e teve papel fundamental no fortalecimento da organização e difusão (interna e externa) do acervo do MST, buscando preservar a história e memória do Movimento no ano que este completa 40 anos de existência.

Nesse sentido, a militante avalia que o projeto teve três pontos positivos principais: “1) a formação técnica da equipe, desde o aprendizado do cuidado com os documentos do arquivo, do preenchimento das planilhas até a organização dos metadados; 2) a melhoria na estrutura do acervo, com aquisição de materiais de acondicionamento e higienização, garantindo maior preservação dos documentos e 3) a digitalização de parte da coleção, em especial das fotografias, que contribui para a preservação e difusão do acervo”, expõe Lucimeire.

Como o projeto funciona?

Equipe de Arquivo e Memória Nacional do MST que participa do projeto. Foto: Priscila Ramos

Atualmente, o projeto MEAP está em sua fase final. Os documentos que integram o projeto são fotografias, cartazes, cartilhas, vídeos, áudios e objetos tridimensionais. A coleção está disponível a demandas internas do Movimento, tanto física quanto digital, mediante agendamento. Lucimeire detalha que o projeto contribuiu para a digitalização “de 10.720 documentos de arquivo, sendo 10 mil fotografias, 150 documentos (totalizando 5 mil páginas), 300 cartazes, 50 horas de vídeos, 20 horas de áudios e 200 objetos tridimensionais.”

“Estamos trabalhando no banco de dados ATOM para publicação virtual da coleção também em plataforma nacional vinculada à página do MST, com previsão de estar acessível digitalmente ao público no segundo semestre de 2024. E a coleção enviada à UCLA estará disponível no banco de dados da Universidade e disponível para consulta”, relata Lucimeire.

Nesse sentido, Clifford também reforça que a iniciativa e parceria em torno do projeto permitiu além do treinamento de mais arquivistas no MST, também a compra de equipamento para continuar o trabalho após a sua conclusão. E ressaltou a conscientização junto às secretarias estaduais do Movimento sobre “à importância de seus acervos, gerando esforços em cada escala do movimento para preservar e organizar sua massa documental”, completa.

O site para o acesso às coleções será: https://meap.library.ucla.edu/

*Editado por Fernanda Alcântara