Caso Antonio Tavares

MST realiza ato por justiça pelo assassinato de Antonio Tavares nesta quinta (2)

Mobilização vai cobrar o cumprimento da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, que condenou o Estado brasileiro pelo crime, ocorrido no ano 2000, em Campo Largo
Viúva e filhas de Antonio Tavares, durante divulgação da sentença, em Curitiba. Foto: Barbara Zem/MST-PR.

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST/PR
Da Página do MST

Na próxima quinta-feira (2), o MST e amigos/as realizarão um ato para cobrar justiça pelo assassinato do camponês Sem Terra Antonio Tavares e de outros trabalhadores rurais que foram assassinados na luta contra o latifúndio e pela reforma agrária. A mobilização será na BR-277 – Km 108, Campo Largo (PR), local onde está o monumento Antonio Tavares, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Foi naquele trecho da estrada que a Polícia Militar assassinou o camponês e deixou mais de 200 militantes do MST feridos, entre eles mulheres, crianças e pessoas idosas, em 2000.

Após 24 anos de impunidade, desta vez a mobilização será pela efetivação da sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos, anunciada no dia 14 de março deste ano. Ela condena o Estado brasileiro pela intensa violência e omissão pela justiça no caso, determina a proteção ao monumento, indenização e amparo psicológico a familiares de Tavares e vítimas, divulgação da decisão, entre outras medidas importantes para que casos como este não se repitam.

Na última quinta-feira (25), militantes do MST e das organizações Terra de Direitos e Justiça Global se reuniram com interlocutores do Ministério dos Direitos Humanos (MDHC). O objetivo foi iniciar o planejamento para que o Estado cumpra a sentença pela morte de Antônio Tavares e toda a violência cometida naquele 2 de maio de 2000. O Estado tem 12 meses para cumprir a sentença do órgão.

“A partir de agora vamos intensificar um conjunto de atividades, que começa com este ato no dia 2 de maio, para dar visibilidade à sentença e cobrar a sua efetivação”, explicou Roberto Baggio, integrante da Direção Nacional do MST pelo Paraná, que participou da reunião em Brasília.

Para Darci Frigo, da coordenação da organização Terra de Direitos, o ato ganha novo sentido a partir da decisão da Corte. “A manifestação neste ano é de reivindicação de que a sentença seja de fato cumprida pelo Estado brasileiro e, principalmente, pelo estado do Paraná, local onde os agentes públicos e de segurança violaram a vida do camponês Tavares e de mais de 200 manifestantes”.

Crianças, mulheres e pessoas idosas também ficaram feridas no massacre. Foto: APP Sindicato.

Relembre o caso 

Antonio Tavares Pereira foi assassinado em 02 de maio de 2000, quando mais de 1.500 integrantes do MST se dirigiram à capital paranaense para participarem da Marcha pela Reforma Agrária, em comemoração ao Dia dos Trabalhadores e Trabalhadoras. Sob comando do governador à época, Jaime Lerner (antigo DEM), sem qualquer ordem judicial, a Polícia Militar do Paraná, organizada em uma tropa de 1.500 agentes, bloqueou a BR-277 e impediu – à bala – a chegada da comitiva de 50 ônibus a Curitiba e reprimiu os manifestantes com violência. Além do assassinato de Tavares, mais de 200 trabalhadores rurais ficaram feridos.

Na altura do KM 108, em razão de um bloqueio feito pela Polícia Militar, os passageiros desceram de um dos ônibus, quando PM’s fizeram disparos contra os trabalhadores e trabalhadoras rurais, matando Antonio Tavares e ferindo  mais de 200 pessoas. Vale destacar que a Polícia Militar não prestou socorro às vítimas.

Antonio Tavares tinha 38 anos quando foi assassinado, deixando esposa e cinco filhos. Era assentado da reforma agrária no município de Candói e fazia parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade.

Foto: Wellington Lenon/MST-PR.

Na avaliação do MST, o ataque à marcha não foi um caso isolado. A repressão, aponta o Movimento, está inserida num contexto de intensa criminalização e perseguição aos movimentos sociais de luta pela terra no Paraná, endossada pelo então governador Jaime Lerner. Entre os anos de 1994 e 2002, primeiro e segundo mandatos de Lerner, ocorreram 502 prisões de trabalhadores rurais, 324 lesões corporais, 07 trabalhadores vítimas de tortura, 47 ameaçados de morte, 31 tentativas de homicídio, 16 assassinatos e 134 despejos violentos no Paraná.

Editado por Maria Silva