Reforma Agrária Popular
“Pra mim, a agroecologia significa visar o futuro”
Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST
“Eu passaria por tudo de novo, talvez algumas coisas eu melhorasse se tivesse essa oportunidade, mas eu passaria tudo de novo sem pensar…” diz Ana Paula Gotardo, camponesa do agora assentamento Emiliano Zapata, em Ponta Grossa (PR). Originária de Santa Catarina, sua trajetória é marcada por uma jornada de luta, superação e conquistas.
Desde muito jovem, Ana Paula e seus irmãos ajudavam sua mãe com “bóias frias” nas plantações de batata e maçã, contribuindo para a renda familiar. Um ano depois, mudaram-se para Curitiba, Paraná. Após longos anos morando na cidade descobriram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Aos 18 anos, ela e a família decidiram buscar uma vida melhor em um acampamento que se iniciava a 100 quilômetros da capital, a comunidade Emiliano Zapata, em Ponta Grossa. Deixaram para trás os desafios da vida na cidade grande, marcada por lutas diárias para pagar aluguel e sobreviver.
A mudança representou a busca por um pedaço de terra em que pudessem construir suas vidas. Apesar das dificuldades enfrentadas inicialmente, Ana Paula e sua família foram acolhidas pelo MST e, através da luta pela terra, alcançaram o sonho de ter seu próprio pedaço de chão. Hoje, ela comemora a iminente concretização do assentamento Emiliano Zapata, um marco em sua jornada.
Durante sua juventude, ela trabalhou em fábricas para ajudar a sustentar sua família, mas nunca abandonou a prioridade da educação, mesmo que tenha tido que interromper seus estudos na 8ª série. A valorização da educação sempre foi uma constante em sua família, garantindo que seus irmãos tivessem acesso à escola. “No meu caso eu que acabei largando, estudei até a 8 série do ensino fundamental, mas a maioria dos meus irmão todos tem estudo, não foi privado de nós, sempre foi prioridade”, relata a companheira.
A transição para a vida no assentamento não foi fácil, exigindo adaptações como morar em barraco de lona e não ter acesso a luz e água encanada por algum tempo, enfrentando desafios cotidianos. No entanto, encarou essas dificuldades como parte da batalha pela realização de seus sonhos. A união e solidariedade dentro da comunidade foram fundamentais para superar os obstáculos.
Era uma batalha para melhorar, para ter nosso sonho realizado. Não tínhamos nenhuma crianças, mas quem tinha criança se bateu bem mais que a gente. Mas enquanto comunidade, a gente sempre se ajudou, quando um estava com dificuldade o outro ajudava, foi bem importante nós sempre fomos bem unidos”
Agroecologia é o caminho!
A introdução da agroecologia na comunidade trouxe um diferencial significativo, promovendo uma produção mais sustentável e saudável. Atualmente, Ana Paula e sua comunidade estão envolvidas na produção de alimentos saudáveis, adotando práticas agroecológicas e participando de programas do governo como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que garantem a distribuição dos produtos para escolas e instituições, contribuindo para uma alimentação mais saudável para a população.
“A agroecologia significa pra mim visar o futuro, deixar para as próximas gerações, deixar a natureza, deixar um impacto pra gente poder sobreviver, e não prejudicar o meio ambiente e a natureza e deixar pras próximas gerações que vão precisar disso, a água a árvore a biodiversidade, é importante a gente sempre estar fazendo a parte da gente”, disse a produtora.
A solidariedade é um princípio Sem Terra e não seria diferente para a família de Ana. Contente, ela conta que já partilhou dos frutos de seu lote com moradores da cidade nas ações de solidariedade do MST. “A gente sabe que nossos produtos vão chegar na mesa de quem mais precisa na cidade, nas crianças nas escolas; sabemos que estamos contribuindo para um país melhor e uma vida melhor pra sociedade”, afirma.
Como representante ativa da comunidade e uma mulher valorizada dentro dela, Ana espera que sua história inspire outros a lutar por seus sonhos e acreditar na força da união e da solidariedade, e fala sobre como se sente nesse momento muito importante de sua vida: “Lutamos diariamente e acreditamos no sonho da gente, tudo o que está aqui é através da Reforma Agrária […]. Eu me sinto valorizada como ser humano, por que a gente precisa disso pra viver uma vida digna, me sinto muito realizada por ter isso, uma vida digna”.
Conquista do assentamento Emiliano Zapata
Em março deste ano, após 21 anos de resistência, a comunidade Emiliano Zapata conquistou oficialmente o assentamento, que conta com cerca de 70 famílias camponesas. A festa, aguardada pelas famílias Sem Terra por mais de duas décadas, reuniu mais de mil pessoas, com ato político, churrasco servido gratuitamente pela comunidade, feira da reforma agrária e da economia solidária e baile.
Participou da festa Wellington Dias, ministro do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social que visitou a família de Ana Paula Lourenço Gotardo e Josué Araújo, e conheceu a produção agroecológica de mais de 20 variedades de hortaliças, comercializadas por meio da cooperativa da comunidade, a Cooperas.
Os alimentos do assentamento chegam toda semana a 50 escolas públicas da cidade, e também a municípios vizinhos, por meio da articulação com outras cooperativas da reforma agrária da região. “É uma felicidade a gente poder mostrar de perto a nossa realidade e a nossa insistência e luta e conquista com a luta diária, o nosso sonho através da reforma agrária. Espero que ele consiga absorver”, contou Ana Paula, sobre a visita de Wellington Dias à sua casa e sua produção.
*Editado por Fernanda Alcântara