Agroecologia
“Territórios da reforma agrária são exemplos vivos de conservação”, diz engenheira do IAT
Da Página do MST
O Seminário “Projeto Ambiental na Reforma Agrária no Paraná” reuniu lideranças, técnicos e agricultores para discutir a construção de um futuro com floresta em pé, comida saudável e boas relações nos territórios da reforma agrária. A atividade fez parte da 21ª Jornada da Agroecologia, realizada de 4 a 8 de dezembro no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba.
Com discussões que abordaram desde os desafios da crise ambiental até estratégias para sua superação, o evento destacou a potência transformadora dos assentamentos no Paraná.
Assentamentos preservam acima do exigido por lei
Claudia Sonda, engenheira florestal do IAT, apresentou dados que reforçam a importância da reforma agrária na conservação ambiental. Um estudo baseado no Cadastro Ambiental Rural (CAR) mostrou que os 333 assentamentos cadastrados no Paraná mantêm, em média, 29,4% de vegetação nativa, superando os 20% exigidos por lei. Exemplos como os assentamentos 12 de Abril, em Bituruna, e Olga Benário, em Santa Tereza do Oeste, destacam-se, preservando 40% e 35% de suas áreas, respectivamente.
“Esses números mostram que os territórios da reforma agrária são exemplos vivos de conservação, produção sustentável e proteção da biodiversidade”, afirmou Claudia. Ela destacou a necessidade de fortalecer cadeias produtivas que aliem preservação ambiental e geração de renda, como mel e frutas nativas.
Reforma agrária: caminho para enfrentar a crise ambiental
Bárbara Loureiro, da coordenação do Plano Nacional Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis e do Setor de Produção do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), destacou que a crise ambiental está enraizada em uma lógica de desigualdades estruturais e práticas de exploração típicas do modelo capitalista. Segundo ela, o chamado “capitalismo verde” não resolve os problemas reais e apenas mercantiliza a biodiversidade, enquanto o enfrentamento à crise precisa ser coletivo e organizado.
Entre as estratégias apontadas, Bárbara frisou a necessidade de massificar a agroecologia como um projeto político. “Produzir de forma agroecológica significa aliar-se à natureza, promovendo soberania alimentar e transformando as relações humanas”, afirmou. Além disso, ressaltou a importância de tecnologias adaptadas à realidade da agricultura familiar e camponesa, bem como do trabalho cooperado e do Plano Nacional de Plantio de Árvores, essencial para preservar a biodiversidade nos assentamentos e garantir a produção de alimentos.
Esperança e horizontes possíveis
O seminário não apenas denunciou as causas da crise ambiental, mas apontou soluções concretas, reafirmando o papel central da reforma agrária popular. Da massificação da agroecologia às práticas de preservação ambiental, os territórios da reforma agrária mostram que é possível construir um modelo de desenvolvimento que valorize a vida em todas as suas formas.
Giovani Braun, diretor-presidente da Coana (Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária Avante), apresentou ao público a iniciativa desenvolvida no Assentamento Zumbi dos Palmares, em Querência do Norte. Lá, no ano de 2010, teve início um projeto de recuperação de 67 hectares da Área de Preservação Permanente às margens do Rio Paraná. De acordo com Braun, foram plantadas 111 mil árvores e as 22 famílias que vivem no assentamento conseguiram restituir a reserva legal que havia sido devastada pelo agronegócio.
Assim como o trabalho no assentamento Zumbi dos Palmares, também foram compartilhadas experiências inspiradoras da Comunidade Agroflorestal José Lutzenberger, do Assentamento Eli Vive, do trabalho com frutas nativas na região Centro do Paraná, assim como da Jornada na Natureza, na comunidade Dom Tomás Balduíno em Quedas do Iguaçu.
Conforme reforçado no evento, os assentamentos do Paraná são exemplos de que outra maneira de viver e produzir é possível. O desafio agora é ampliar essas experiências, transformando a esperança em prática e garantindo vida digna para as gerações presentes e futuras.
Projetos dão força à produção de alimentos e à vida saudável
Durante o Seminário também foram apresentados projetos de promoção da agroecologia em todo o Paraná, apoiados pela empresa pública Itaipu Binacional. Um deles é o “Semeando Gestão”, que promove assistência técnica para fortalecer a produção sustentável para 2,5 mil famílias camponesas, em parceria com cooperativas e associações da reforma agrária. Já o “Bem Viver” tem oferecido capacitações para camponesas e camponeses, inclusive para adolescentes, com a intenção de fortalecer a agroecologia, aliada às práticas de saúde, arte e comunicação popular. Além disso, o projeto dará cursos para implantação de Sistemas Agroflorestais e para a construção de viveiros e hortos medicinais.
Este ano a Jornada de Agroecologia conta com o patrocínio da CAIXA, Itaipu Binacional, Correios, Fundação Banco do Brasil e Governo Federal, e apoio da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Paraná (Seab), Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) e do Desenvolvimento Social (MDA), Cooperativa de Crédito Cresol e Cooperativa Central da Reforma Agrária (CCA).
*Editado por Fernanda Alcântara