Cultura

Yupanqui: quando a canção é trincheira, poesia e luta

Os 33 anos da partida de Atahualpa Yupanqui, uma das maiores referências da música popular argentina

Foto: Reprodução

Por Milena Polini*
Da Página do MST

Nascido em 1908, Pergamino, Buenos Aires, Héctor Roberto Chavero escolheu seu nome artístico quando era adolescente, emprestado a dois imperadores incas: Atahualpa (1532-1533) e Túpac Yupanqui (1471-1493). Em quíchua, significa “aquele que vem de terras distantes para dizer algo”. Atahualpa Yupanqui, músico engajado que dedicou sua vida a compartilhar, em versos e canções, a história dos trabalhadores do campo, dos camponeses, povos originários e das tradições que resistem ao tempo. Sua música não era só sobre amor ou paisagens, mas também era sobre a vida real, com suas dificuldades e lutas.

Com um violão, Yupanqui percorreu o interior da Argentina e de outros países da América Latina, recolhendo histórias, ritmos e melodias que muitos já estavam esquecendo. Canções como “El arriero” e “Los hermanos” falam da vida simples, mas também da resistência e da solidariedade entre os que trabalham na terra. 

Em 1945, filiou-se ao Partido Comunista, no qual permaneceu até 1952. Era a época do primeiro governo do general Juan Domingo Perón, de 1946 a 1955, e Atahualpa teve diversos problemas, com dificuldades para se apresentar e participar de programas de rádio. Foi preso inúmeras vezes, teve os dedos da mão direita quebrados numa de suas passagens pela prisão e ficou sem gravar por vários anos. Sofreu perseguição e precisou se exilar, mas nunca deixou de cantar o que acreditava. Sua música incomodava porque dizia o que muitos não queriam ouvir, falava de injustiça, de opressão, mas também de esperança. Ele não se considerava um artista distante do povo; pelo contrário, sua arte vinha diretamente dele.

Hoje, 33 anos depois de sua morte, Yupanqui continua sendo lembrado não só como um grande músico, mas como alguém que soube eternizar em  músicas a beleza da cultura latinoamericana. Suas canções ainda ecoam, lembrando que a cultura popular é viva, feita de gente comum e suas lutas cotidianas. E, enquanto houver quem cante suas músicas, sua mensagem seguirá viva.

Recomendações de músicas: Los Hermanos, El arriero, Basta Ya, Tierra Querida.   

Referências: 

Atahualpa Yupanqui – Portal Contemporâneo da América Latina e Caribe 

Atahualpa Yupanqui – Memorias da Ditadura 

Atahualpa Yupanqui

*Militante do Setor de Internacionalismo do MST

**Editado por Fernanda Alcântara