Jornada da Natureza
Min. Marcio Macedo participa da semeadura de palmeira juçara em área do MST, no PR
Ação faz parte da 3ª Jornada da Natureza, realizada como parte das mobilizações em torno do Dia Mundial do Meio Ambiente.

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR
Da Página do MST
A comunidade do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Dom Tomás Balduíno, em Quedas do Iguaçu, região central do Paraná, recebeu pelo terceiro ano consecutivo a semeadura aérea da palmeira juçara. Com apoio de um helicóptero da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram semeadas 8 toneladas da espécie nas áreas de reserva do pré-assentamento. A ação faz parte da programação da 3ª Jornada da Natureza – Semeando vida para enfrentar a crise ambiental, que ocorre de 2 a 7 de junho, realizada pelo MST em parceria com diversos órgãos públicos e instituições de ensino.
A Jornada marca o Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quinta-feira, 5, e tem como foco a realização de ações massivas para a retomada da palmeira juçara, ameaçada de extinção no bioma Mata Atlântica. Ao todo, 21 toneladas de sementes da espécie serão semeadas de forma aérea ou com plantio direto no solo, em todas as regiões do estado.

Entre as autoridades e camponeses que participaram dos sobrevoos desta quarta-feira estava o ministro da Secretaria-geral da Presidência da República, Marcio Macedo. Esta é a segunda vez que Macedo participa da Jornada da Natureza, e classifica a ação como “uma experiência extraordinária”, por garantir o cuidado com a natureza e a renda para as famílias camponesas.

“Essa semeadura, feita de forma muito eficiente, promove a preservação, o reflorestamento e a produção da juçara que constitui um sustento das comunidades que aqui vivem, e vai virar o açaí, que é espalhado pelo Brasil inteiro”. O ministro frisou a relevância ainda maior da atividade por ser o ano em que a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30, será realizada no Brasil, em Belém do Pará.
A Secretária-Executiva do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Fernanda Machiaveli, também esteve na Jornada pela segunda vez e disse que volta inspirada e comprometida: “A Reforma Agrária é justiça social. Um país que tem 631 propriedades que concentram 27% da área agricultável de todo o nosso país não pode não fazer Reforma Agrária. Um país em que 70% das propriedades ocupam só 9% de toda a área agricultável, não pode deixar de fazer Reforma Agrária”.

Ela reforçou o papel da Reforma Agrária no combate à fome, pela capacidade de produção diversa de alimentos, e na promoção da saúde, pela qualidade dos alimentos. Também enfatizou a ação da Reforma Agrária para o avanço da justiça climática. “A Jornada da Natureza é um grande exemplo que o MST dá para todo o nosso país […]. Essa jornada é o símbolo do que é o processo de transformação que a Reforma Agrária pode promover. Produzir preservando nossos recursos naturais, a nossa biodiversidade, fazendo restauração florestal, restauração produtiva, garantindo que a palmeira juçara continue aqui por muitos e muitos séculos, e que essa mata atlântica esteja preservada, e que daqui possa sair a renda das famílias”.
Segundo dados do Instituto Água e Terra do Paraná (IAT) sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR), a média de cobertura vegetal nativa nos 333 assentamentos rurais no Paraná foi de 29,51% em 2021. Essa média está acima do que indica o Código Florestal, que é de 20% de reserva legal. Esses números da Reforma Agrária contribuem, de acordo com a engenheira florestal Claudia Sonda, do Instituto Água e Terra (IAT), para proteger e restaurar o que resta da Mata Atlântica, uma das mais ricas em diversidade de espécies e ameaçadas do planeta. Hoje, restam apenas 12,4% da floresta que existia originalmente.


Uma assembleia popular realizada com autoridades após a semeadura reuniu parlamentares, representantes do poder público local, estadual e federal. Jonas Natan, camponês integrante da coordenação da comunidade Dom Tomás Balduíno, reforçou a urgência da efetivação do assentamento das 950 famílias acampadas em Quedas do Iguaçu. “Essa mensagem precisa chegar lá no presidente Lula, lá no MDA e lá para quem tem as condições de resolver essa situação nossa”.

Rafael Moura, Prefeito de Quedas do Iguaçu, se comprometeu em contribuir com a comunidade para o avanço na organização de uma agroindústria para o beneficiamento da polpa da juçara e parabenizou a comunidade pela organização da Jornada. “Vamos festejar esse evento que é um marco para Quedas do Iguaçu”.
A atividade na comunidade Dom Tomás foi batizada de Festa da Semeadura da Juçara, e marca a origem da construção das Jornadas da Natureza, em 2022. Além da semeadura e da assembleia, a comunidade ofereceu churrasco gratuito com acompanhamentos a todo o público participante, e seguiu os festejos com baile ao longo da tarde.


Equipes de trabalho da comunidade garantiram o almoço para as centenas de pessoas que participaram da atividade. Fotos: Vinicius Carvalho
Também participaram da ação Kelli Mafort, Secretária-Executiva da Secretaria-Geral da PR; Kenarik Boujikian, Secretária Nacional de Diálogos Sociais da SGPR; Martin Henrique Esteche, Diretor dos Escritórios Regionais-SRI; Judite Elaine dos Santos, Coordenação Nacional do MST; Marinete Cadete da Silva, Chefe de Gabinete Presidência da FUNAI; Giovana Cruz Mandulão, Secretária Nacional de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas; Ralph Albuquerque, superintendente do Ibama-PR; Nilton Guedes, Superintendente do Incra-PR; Adriano Pereira, representante da Itaipu Binacional; os deputados estaduais pelo Partido dos Trabalhadores Luciana Rafagnin e Professor Lemos; além de vereadores, presidente da Câmara de Vereadores.
Parceria com a PRF fortalece a educação ambiental
Um café da manhã com os sabores da Mata Atlântica foi servido no pátio da Escola Itinerante Vagner Lopes, que garante acesso ao ensino à educação para as crianças e adolescentes da comunidade Dom Tomás. Além de poder saborear os quitutes frutos do projeto ambiental no qual a comunidade está envolvida, autoridades e todo o público presente pode visitar exposições de trabalhos educativos promovidos pelo coletivo de professoras e pedagogas da escola.

Entre os desenhos e frases, a palmeira juçara e o helicóptero da PRF são os que mais se repetem, como parte da memória e do aprendizado que a Jornada da Natureza já traz para os/as educandos/as. Ana Paula de Souza Cezar, coordenadora pedagógica da escola Vagner Lopes, participou das atividades com as crianças na escola e, nesta quarta-feira sobrevoou a comunidade ajudando na semeadura da juçara. “É muito emocionante esse momento, depois de todo o trabalho com os nossos estudantes, vivenciar tudo isso de perto”, relata.
A parceria com a PRF tem sido uma marca da Jornada da Natureza, por garantir a semeadura aérea em diferentes territórios. Fernando de Oliveira, superintendente da instituição no Paraná, afirmou: “É uma satisfação estar aqui, e do nosso lado, essa parceria continua”. Ele destacou o impacto positivo da ação, especialmente entre as crianças: “É muito importante para nós, vendo os trabalhos escolares, desenhando o helicóptero da PRF, que nós estamos criando memórias positivas para o movimento Sem Terra, para a Reforma Agrária, para o meio ambiente e também para a Polícia Rodoviária Federal”.


A floresta que é alimento e geração de renda
Era uma mesa farta e colorida com bolos, pães, sucos, bolachas, geleias, picolés e sorbets (o sorvete sem leite). Essas delícias puderam ser saboreadas pelo público participante da Jornada, na manhã desta quarta-feira. A fartura expressa o potencial das árvores frutíferas da Mata Atlântica em se tornarem alimentos, numa combinação entre proteção ao meio ambiente, alimentação saudável e geração de renda.
Os produtos semi-industrializados são resultado do trabalho realizado pelo Laboratório Vivam de Sistemas Agroflorestais da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), junto a mais de 50 famílias da Reforma Agrária de 7 municípios da região central do Paraná. Os alimentos são desenvolvidos a partir de frutos típicos da Mata Atlântica, como a guabiroba, o jerivá, o araçá, butiá, pitanga e a uvaia, além da própria juçara, que tem se tornado um carro-chefe. A Associação do assentamento 8 de junho, de Laranjeiras do Sul, também é parceira neste trabalho com a produção dos panificados a partir das polpas das frutas nativas.

“Para além da semeadura, da defesa da natureza, da materialidade que existe aqui, o nosso projeto é sério, com perspectiva socioeconômica, e é um projeto que tem sabor, cheiro, gosto, e textura, e queremos que vocês possam saborear”, garantiu Tarcísio Leopoldo, integrante da direção estadual do MST e da coordenação da comunidade, na abertura do café. O projeto das famílias envolvidas com a produção das polpas das frutas nativas é avançar para a construção de uma agroindústria de beneficiamento dos alimentos.
3ª edição da Jornada segue até sábado (7)
Além da ação realizada nesta quarta-feira, houve a semeadura de 2 toneladas de juçara na Terra Indígena Rio das Cobras, nesta terça, e um seminário com a apresentação das pesquisas acadêmicas relacionadas ao reflorestamento da Mata Atlântica com geração de renda na região.
As atividades da Jornada da Natureza seguem nesta quinta-feira (5), na comunidade Herdeiros da Terra de 1º de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu, nesta sexta, na comunidade José Lutzenberger, em Antonina.
O encerramento da Jornada será no sábado (7), como a inauguração de um viveiro de mudas e horto medicinal no assentamento Contestado, na Lapa. O viveiro terá capacidade para produção de 100 mil mudas por ano, com foco em espécies da floresta ombrófila mista, a conhecida floresta de araucária. Já o horto de plantas bioativas prevê a produção de 5 mil mudas por ano, além de ser espaço pedagógico para o aprendizado para o cultivo de matrizes, manejo e propagação das espécies e produção de matéria-prima para fitoterápicos. Esta ação integra o projeto Bem Viver, que desenvolve capacitações e implantação de práticas agroecológicas e agroflorestais, em todo o estado. O projeto é resultado da parceria entre o Instituto Contestado de Agroecologia (ICA) e a Itaipu Binacional, por meio do Programa Mais que Energia, alinhado ao governo federal.
Outras dezenas de ações vão acontecer em diversos municípios do estado, voltadas diretamente aos camponeses/as: são cerca de 20 oficinas e atividades práticas de recuperação de nascentes e de áreas degradadas, produção em agrofloresta, manejo e proteção do solo, homeopatia na Produção Animal, produção de mudas de erva mate, prevenção à deriva de agrotóxico e à influenza aviária, entre outras.
A 3ª Jornada da Natureza é organizada em parceria com a Associação de Cooperação Agrícola e Reforma Agrária do Paraná (ACAP); Cooperativa Central da Reforma Agrária (CCA); Polícia Rodoviária Federal (PRF); Instituto Contestado de Agroecologia (ICA), a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) – Campus Laranjeiras do Sul; Laboratório Vivan de Sistemas Agroflorestais; Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB); Instituto Água e Terra; Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (CEAGRO); Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Comitê de Cultura do Paraná; Prefeitura de Quedas do Iguaçu; Fundação Luterana de Diaconia (FLD); e Associação de Produtores Orgânicos de Quedas do Iguaçu Produzindo Vidas (APOQI). Este ano, mais uma vez, a Caixa Econômica e o Governo Federal são patrocinadores do evento.
CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DA 3ª JORNADA DA NATUREZA:
> 02/06 – Comunidade Dom Tomás Balduíno (Quedas do Iguaçu – PR): Seminário “A pesquisa científica sobre a Palmeira Juçara na Reforma Agrária”
8h: Café da manhã
9h: Seminário “A pesquisa científica sobre a Palmeira Juçara na Reforma Agrária”
12h30: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)
13h30: Visita técnica às áreas semeadas e na Agroindústria
16h: Café e Encerramento
> 03/06 – Comunidade Indígena Rio das Cobras (Nova Laranjeiras – PR): Semeadura aérea de 2 toneladas de Palmeira Juçara
9h: Apresentação cultural e recepção das lideranças indígenas do Paraná
9h30: Sobrevoo para semeadura de 2 toneladas de sementes de palmeira juçara
10h: Reunião das lideranças e entrega das pautas indígenas
11h30: Ato Político
13h: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)
15h: Distribuição das sementes à TI Rio das Cobras
> 04/06 – Comunidade Dom Tomás Balduíno (Quedas do Iguaçu – PR): Semeadura aérea de 8 toneladas de Palmeira Juçara
9h: Início do sobrevoo para lançamento das 8 toneladas de sementes
10h: Visita técnica de pesquisadores e autoridades às áreas semeadas e Exposição ambiental na Escola Itinerante Vagner Lopes.
11h30: Ato Político da 3ª Jornada da Natureza
13h30: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)
15h: Continuação do sobrevoo para lançamento de sementes
16h: Matibaile
> 05/06 – Dia Mundial do Meio Ambiente: Comunidade Herdeiros da Terra 1º de Maio (Rio Bonito do Iguaçu – PR): Recuperação ambiental de 7 hectares de Reserva Legal
8h: Café e acolhida
9h: Ato Político e Mística do grande mutirão de reflorestamento da 3ª Jornada da Natureza
10h30: Plantio de mudas de árvores nativas
13h: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)
> 06/06 – Comunidade José Lutzenberger (Antonina – PR): Semeadura aérea de 1 toneladas de Palmeira Juçara
10h: Conferência Formativa da Mata Atlântica
11h: Sobrevoo para semeadura de 1 toneladas de semente de palmeira juçara
13h: Almoço caiçara (trazer pratos e talheres)
14h às 16h: Oficina de música e conhecimentos do território litorâneo
14h às 16h: Plantio no Bosque Comunitário e Atração Cultural
> 07/06 – Assentamento Contestado (Lapa – PR): Conferência “A dimensão ambiental da Reforma Agrária Popular” e Inauguração do Viveiro de Mudas de Horto Medicinal
8h: Café e acolhida
9h: Conferência “A dimensão ambiental da Reforma Agrária Popular”
11h: Inauguração do Viveiro de Mudas e Horto Medicinal e 1º Mutirão de semeadura e plantio do viveiro
13h: Almoço comunitário (trazer pratos e talheres)
*Editado por Fernanda Alcântara