Semana Camponesa

Famílias do MST se mobilizam em Curitiba e cobram contratação de mais servidores para o Incra-PR

Reivindicação no Paraná se soma à Semana Camponesa, que mobiliza famílias nacionalmente por direito à terra e avanço da Reforma Agrária

Cerca de 200 militantes do MST estiveram em mobilização durante 3 dias, no Paraná. Foto: Ednubia Ghisi 

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST

A solução para as mais de 7 mil famílias que estão em luta pela efetivação da Reforma Agrária no Paraná esteve no centro do terceiro dia de mobilização do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-PR), durante a Semana Camponesa. De forma conjunta, MST e Incra elaboraram um documento que cobra o fortalecimento do órgão, com a contratação de mais oito servidores e recursos para a realização dos trabalhos. 

No governo anterior, de extrema direita, o órgão passou por um desmonte profundo. Apesar dos esforços, a equipe atual não tem conseguido atender à grande demanda vinda de territórios de Reforma Agrária, indígenas e quilombolas. O documento elaborado foi enviado ao ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Paulo Teixeira, e ao superintendente nacional do Incra, Cesar Aldrighi. 

Documento com reivindicação de ampliação do Incra-PR foi assinado pela direção do MST e pelo superintendente e servidor do Instituto. Fotos: Ednubia Ghisi 

“Precisamos fortalecer o Incra, e para isso precisamos garantir as condições para que esse órgão consiga construir um plano de trabalho pra apresentar soluções para as mais de 80 áreas ocupadas no Paraná”, garantiu a companheira Bruna Zimpel, acampada em Clevelândia e integrante da direção nacional do MST pelo Paraná. Algumas comunidades estão há mais de 30 anos na luta pela regularização do assentamento. 

As atividades no Paraná fazem parte da Semana Camponesa, de luta dos trabalhadores/as Sem Terra em mais de 20 estados, em um contexto de ameaça à soberania brasileira e de retrocessos promovidos pelo Congresso, que aprova projetos de devastação ambiental. As reivindicações em torno da Reforma Agrária demonstram sua relevância estratégica para a defesa do país e a construção de um projeto nacional e popular para o Brasil.

A Semana iniciou com estudo da pauta na segunda-feira (21), na Escola Latino Americana de Agroecologia Ana Maria Primavesi (ELAA), no assentamento Contestado – Lapa (PR). Na terça e quarta-feira (22 e 23), o MST apresentou as reivindicações ao poder público na sede do Incra em Curitiba. Ao mesmo tempo, o Movimento dialogou com o governo federal, em Brasília (DF).

“Nós saímos com a certeza da importância da mobilização do nosso povo e da nossa base”, completou a dirigente Bruna, no momento do encerramento da ação.

Reforma Agrária é desenvolvimento para famílias Sem Terra

A Semana Camponesa cobrou do governo federal medidas concretas e imediatas para a Reforma Agrária Popular, entendendo que, além da terra, também o acesso à moradia, crédito, educação e soberania alimentar como conquistas históricas. Ao Incra-PR, reivindica-se um plano para o assentamento das 7 mil famílias acampadas nas 83 áreas em conflito, até abril de 2026.

Joelma Cardoso Pereira, conta na ação do Incra que o acampamento Araucária, em Quedas do Iguaçu, já está há dez anos na luta para que as famílias sejam assentadas. “Estamos ansiosos para que saia nosso assentamento. Tenho vários filhos já e estamos no aguardo”. 

Na segunda foto, Joelma e a filha, de 3 meses, participam da mobilização em Curitiba. Foto: Ana Clara Lazzarin

Araídes Duarte da Luz, morador do assentamento Olga Benário, em Santa Tereza do Oeste, conta como o avanço da pauta tem efeito direto na produção de alimentos: “Nossa cooperativa, a CopCraf, envolve centenas de associados de todos os assentamentos de Santa Tereza do Oeste e Cascavel. Nós precisamos desenvolver a industrialização de produtos de nossa cooperativa, o que beneficia todos os assentados sócios dela – e, portanto, nós precisamos dessa área coletiva para que possamos implementar a indústria de macarrão.” 

>> Confira o vídeo AQUI: https://youtube.com/shorts/gWvt-pLBXoI?feature=share

Gabriel Mattos, morador do acampamento Fidel Castro, em Centenário do Sul, é estudante de Agronomia com ênfase em Agroecologia, da Turma Tia Ciata, na Universidade Federal da Fronteira Sul, pelo Pronera. Ele enfatiza a importância do Programa para os jovens do campo.

“O Pronera é um programa que visa garantir a educação para jovens que estão em territórios de Reforma Agrária, que foram historicamente desestimulados dessa educação. Estudamos no estilo de alternância e viemos aqui provocar a liberação da verba de 52 milhões do governo, para que seja possível ter ainda mais alcance esse programa”, explica.

Avançar a Reforma Agrária é desenvolver o país

Aliado histórico da luta camponesa, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, procurador de Justiça do Ministério Público do Paraná e coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção aos Direitos Humanos conversou com as famílias no Incra e destacou a Reforma Agrária como ação no sentido de construir uma nação “melhor e mais justa, em que todos possam participar dos benefícios produzidos pela sociedade”.

Para ele, “o objetivo fundamental da República Federativa do Brasil, que é o dever de construir uma sociedade livre, justa e solidária, passa pela realização da Reforma Agrária, que vai fazer com que cada vez mais se produzam alimentos com agroecologia, agricultura familiar, com produção orgânica, portanto para a garantia da segurança alimentar e nutricional de todos os brasileiros.”

No Brasil, são mais de 100 mil famílias acampadas lutando pelo direito à terra, teto e à produção de alimentos.

*Editado por Solange Engelmann