Cultura
MASP inaugura exposição “Histórias da Ecologia” com cartazes do MST ocupando andar inteiro
Mostra conecta luta pela terra e agroecologia em novo prédio do museu paulista

Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP) inaugurou a exposição “Histórias da Ecologia”, que ocupa os cinco andares do novo Edifício Pietro Maria Bardi. Entre as mais de 200 obras de artistas, ativistas e movimentos populares de 28 países, os cartazes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ganham destaque especial, ocupando um andar inteiro da mostra.
A presença do MST na exposição foi possível com a ajuda do setor de Cultura e do Coletivo de Arquivo e Memória do Movimento, que organizaram mais de 15 mil fotografias e documentos que registram quatro décadas de luta pela terra no Brasil. Os cartazes selecionados para a exposição representam as diversas campanhas do Movimento, desde questões de Reforma Agrária até pautas como soberania alimentar e preservação ambiental.
“Estamos aqui hoje na abertura da exposição, da qual o MST participa com uma seleção de cartazes, ao lado de outros artistas brasileiros que também retrataram lutas como a soberania alimentar e outras pautas importantes para trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e de outras partes do mundo”, destacou Isabella Angeli, curadora do MASP.


A mostra, que fica em cartaz até 1º de fevereiro de 2026, traz a representação da ecologia como uma rede de relações entre seres vivos e o mundo que habitam, colocando em diálogo comunidades, territórios e ecossistemas de diferentes períodos e localidades. A curadoria de André Mesquita e Isabella Rjeille propõe uma reflexão política sobre o tema, evidenciando o fator humano e as implicações de marcadores sociais como gênero, raça e classe.
“Essa é uma presença muito especial. Ter esses cartazes do MST aqui, ainda mais nesse mês de setembro, em que o Movimento realiza uma série de ações que relacionam a Reforma Agrária com o cuidado do meio ambiente, é muito significativo”, afirmou Isabella Rjeille, referindo-se às ações nacionais do MST pela “Reforma Agrária Popular para cuidar da Natureza”, realizadas ao longo de setembro.
Durante este mês, o MST promove ações que marcam datas simbólicas como o Dia da Amazônia (5 de setembro), Dia do Cerrado (11 de setembro) e Dia da Árvore (21 de setembro). As atividades incluem mutirões de plantio de árvores nativas como parte do Plano Nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, que já mobilizou o plantio de 45 milhões de árvores nos territórios da Reforma Agrária.
“Para nós, é muito importante reforçar que a ecologia passa por um entendimento de que a Terra merece ser cuidada. Isso é essencial”, destacou a curadora, conectando a proposta da exposição com os princípios defendidos pelo MST.

Atualmente, a agroecologia representa um dos pilares centrais da proposta do MST para a Reforma Agrária Popular. O Movimento lidera a maior produção de arroz orgânico da América Latina, demonstrando na prática a viabilidade da produção em larga escala sem agrotóxicos. Essa experiência contesta o modelo do agronegócio baseado em monoculturas e uso intensivo de pesticidas.
“A presença do MST nessa exposição costura a questão da ecologia com a luta pelo direito à terra, pelo direito ao cultivo, a alimentos de qualidade, ao acesso à água limpa, à moradia digna e à educação”, explicou Isabella, evidenciando como as pautas do Movimento se entrelaçam com as questões da ecologia centrais na mostra.
A participação do MST na exposição ganha ainda mais relevância no contexto das lutas atuais do Movimento. Em julho deste ano, o MST divulgou uma carta à sociedade brasileira defendendo que “soberania nacional só é possível com soberania alimentar” e que “a soberania alimentar se constrói com a agricultura familiar camponesa e com a Reforma Agrária”. Essa perspectiva dialoga diretamente com os objetivos da exposição, que busca compreender as relações entre os seres humanos e o meio ambiente em tempos de crise climática.
“Todas essas pautas do MST também são pautas importantes quando falamos sobre ecologia”, conclui Rjeille, reforçando como a presença do Movimento na exposição amplia o debate sobre ecologia, para além de uma visão puramente preservacionista, incluindo as dimensões sociais, políticas e econômicas da relação entre sociedade e natureza.
A exposição “Histórias da Ecologia” representa um marco na trajetória do MASP, sendo a primeira grande mostra do novo Edifício Pietro Maria Bardi, inaugurado em março de 2025. O prédio de 14 andares aumenta em 66% a capacidade expositiva do museu, consolidando a Avenida Paulista como um dos principais eixos culturais do país.
Serviço
Exposição: Histórias da ecologia
Onde: MASP – AV Paulista, 1578 – São Paulo-Brasil
Data: até 1º de fevereiro de 2026.