Recuperação ambiental

Famílias do MST PR realizam mutirão de reflorestamento com 5 mil mudas, em Rio Bonito do Iguaçu

Ação faz parte do plantio de 1 milhão de árvores na comunidade Herdeiros da Terra de 1º de Maio, ligado ao plano nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis” e à 3ª edição da Jornada da Natureza

Foto: Juliana Barbosa

Por Juliana Barbosa e Murilo Bernardon | Setor de Comunicação e Cultura do MST no PR 
Da Página do MST

Em coletivo, com organização, é possível sim transformar o mundo e dar novos rumos à sociedade. Essa conclusão, mesmo que pareça parte de um sonho, brota com a naturalidade de uma flor que se transforma em fruto quando presenciamos a luta coletiva acontecendo de fato.

Foi o que famílias Sem Terra apresentaram na última quarta-feira (22), um dia de calor e céu aberto em que militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) plantaram 5 mil mudas de árvores frutíferas e nativas da Mata Atlântica para recuperar uma área degradada, na comunidade Herdeiros da Terra de 1º de Maio, em Rio Bonito do Iguaçu, Região Centro do estado.

O “Mutirão da Jornada da Natureza: Rumo à 1 milhão de árvores” é parte de uma decisão coletiva da comunidade, de estender o esforço concentrado na 3ª Jornada da Natureza, realizada em junho deste ano.

“Nós temos aqui alguns compromissos. Vamos fazer sim a nossa parte – lembrando, historicamente, que quando chegamos aqui, antes de ir para o lote, entendemos que seríamos responsáveis [pelo território]. E é o que estamos fazendo”, afirma Ivete Lopes de Mello, camponesa integrante da direção da comunidade Herdeiros da Terra de 1º de Maio.

A atividade iniciou com o café da manhã, na Escola Itinerante Herdeiros do Saber, com a presença de cerca de 200 militantes Sem Terra. Na sequência, foi realizado o ato político, com participação de lideranças da comunidade, Sandra Padilha e Ivete Lopes de Mello, da direção estadual do MST; Ralph Albuquerque, superintendente do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e Daniela Pivoto, engenheira Florestal do Ibama; Rildo Safraider, vice-prefeito de Rio Bonito do Iguaçu; vereador Edinho, presidente da Câmara de Vereadores de Rio Bonito do Iguaçu; vereador Alex Bueno, representante de Nova Laranjeiras; e outros representantes de órgãos locais.

Após o ato político, as famílias se organizaram e marcharam em direção ao espaço de reflorestamento, carregando ferramentas e mudas frutíferas – como pitanga, juçara, araçá e outras variedades.

Foto: Juliana Barbosa
Foto: Thiarles França

“Produzir alimento e cuidar da natureza – essa é a principal tarefa histórica de cada assentado e de cada camponês. Hoje não tem como nós falarmos de luta pela terra, por Reforma Agrária ou por transformação social sem falar da produção de alimentos saudáveis e do cuidado com a natureza”, sintetiza Tarcísio Leopoldo, integrante da direção do MST na região, como perspectiva coletiva e central para o Movimento.

O local de reflorestamento é dentro da comunidade Herdeiros da Terra de 1ª de Maio, no município de Rio Bonito do Iguaçu e Nova Laranjeiras, no Paraná. A área foi ocupada no dia 1º de maio de 2014, Dia Internacional de Lutas da Classe Trabalhadora, por cerca de 3 mil pessoas – entre os camponeses, mulheres, crianças, homens, unidos pelo sonho da terra.

O espaço de mais de 22 mil hectares, antes era destinado à exploração de pinus e eucaliptos – que ainda estava no controle da madeireira Araupel, antiga fazenda Giacomet-Marodin, que tomou posse da terra pública, por meio da grilagem.

Foto: Gislaine Gomes

A região, que também abrange os municípios de Laranjeiras do Sul, Nova Laranjeiras, Porto Barreiro, Espigão Alto e Quedas do Iguaçu, era de posse da empresa do agronegócio Giacomet-Marodin. A primeira ocupação foi na madrugada de 17 de abril de 1996, em Rio Bonito do Iguaçu. Naquela noite fria, mais de 15 mil homens, mulheres e crianças ocuparam uma parte da área da madeireira.

Aqueles 83 mil hectares de áreas públicas, adquiridos de forma grilada pela empresa em 1972, hoje concentram uma grande quantidade de territórios da Reforma Agrária Popular, sendo o maior complexo de comunidades Sem Terra em área contínua da América Latina.

Ralph Albuquerque, superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que acompanhou o mutirão, afirma que a mobilização ocorre “em um momento estratégico. Estamos às vésperas da COP 30, onde a gente tem elementos importantes para oferecer. A gente sabe que muitas vezes a conferência se volta para o mercado de carbono, pra discussão da mercantilização da natureza. E a comunidade traz um fato que é o fazer em comum, a construção em comum, pela libertação da terra, que não é só instrumento de trabalho, é uma terra sadia, é uma terra com vida”.

O mutirão faz parte de uma campanha coletiva de recuperação de áreas degradadas pelas práticas do agronegócio, como a monocultura, o uso de agrotóxicos e o desmatamento, que, entre vários problemas ambientais, causa enfraquecimento do solo, intoxicação, seca e contribui para eventos climáticos extremos.

A Jornada da Natureza também faz parte do “Plano Nacional Plantar Árvores e Produzir Alimentos Saudáveis”, que tem como objetivo realizar a recuperação de áreas degradadas, com a meta de plantar 100 milhões de árvores até 2030, em todos os territórios da Reforma Agrária. 

Foto: Danielson Postiguer

Os assentamentos da Reforma Agrária do Paraná já tem uma média de cobertura vegetal nativa maior do que os 20% de reserva legal exigidos legalmente por reservas legais. Segundo dados do Instituto Água e Terra (IAT) sobre o Cadastro Ambiental Rural (CAR), a cobertura média é de 29,51%. Pouco mais do que a metade, ou seja, 52,6% das áreas possuem superfícies cobertas por vegetação nativa que variam de 20 a 40%. Estão completamente regulares em relação ao percentual mínimo de reserva legal, que é de 20% para todos os imóveis rurais. 

Em termos absolutos a área total dos assentamentos, segundo os dados de inscrição do CAR, corresponde a cerca de 413 mil hectares, sendo que deste total, mais de 121 mil hectares correspondem às áreas de vegetação nativa existentes em 2021. Como já exposto, trata-se de remanescentes contínuos de vegetação nativa o que é bastante importante do ponto de vista da conservação ambiental.

*Editado por Solange Engelmann