Formação política
ENFF celebra 20 anos com Encontro de Amigas/os e reafirma compromisso com formação da classe trabalhadora
Cerca de 300 pessoas participaram da celebração no último sábado (29), marcada debate e homenagens

Por Sara Sulamita
Da Página do MST
No último sábado (29), a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), recebeu cerca de 300 amigas e amigos para celebrar seus 20 anos de existência. São duas décadas dedicadas à formação política dos movimentos populares e da classe trabalhadora no Brasil e no mundo.
Desde cedo, a escola ganhou vida com a chegada de companheiras e companheiros de diferentes regiões do país e do mundo. O dia começou com um café da manhã caipira preparado com alimentos da Reforma Agrária Popular, reafirmando a ligação entre produção camponesa, soberania alimentar e prática educativa.
Uma mística simbólica abriu a programação, resgatando a trajetória da ENFF, relembrando o início da construção erguida tijolo a tijolo por mais de 1.200 militantes, vindos de 112 assentamentos e 230 acampamentos do MST.
O mutirão que a construiu tornou-se o primeiro grande processo formativo da escola, uma aula viva de organização popular.
Debate marca os 20 anos da ENFF
No auditório lotado, João Pedro Stedile do MST, Stephanie Britto da Assembleia Internacional dos Povos (AIP) e Carina Martins do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM) participaram de um debate que revisitou a caminhada da ENFF ao longo de duas décadas e refletiu sobre o papel estratégico da formação política diante das crises contemporâneas. As falas destacaram que a ENFF segue como um dos pilares na construção de um projeto de sociedade baseado na justiça social, na soberania dos povos e na luta anticapitalista.
Foi nesse contexto que Cássia Bechara, da coordenação da escola, destacou a dimensão histórica e simbólica do encontro:
Homenageamos as brigadas de construção — companheiros e companheiras que ergueram tijolo a tijolo esse sonho coletivo, enquanto se alfabetizavam e estudavam aqui. Isso expressa um princípio fundamental da pedagogia do MST: o trabalho como base da formação.”
Homenagens emocionam participantes
Um dos momentos mais marcantes da celebração foi a homenagem à militante histórica Clara Charf, com a presença de sua família no Espaço Germinal, local que acolhe as cinzas de lutadores e lutadoras do povo. Em um ato simbólico, foi plantada uma árvore no local, reafirmando a tradição do MST de transformar memória em futuro.
O momeno também contou com homenagem especial à Brigada de Construção: Eridan (SP), Alceu (PR), Caroço (DF), Ana Justo (ES) e José Carlos (MT), representando os mais de 1.200 militantes que levantaram cada parede da escola, inclusive fabricando os próprios tijolos. A coordenação político-pedagógica dos 20 anos, Andréa, Rosmeri, Selma e Geraldo também foi reconhecida pelo trabalho na atualização e preservação da metodologia de formação da ENFF.
Mural dedicado à Palestina é inaugurado
No Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino foi inaugurado o mural dedicado à resistência palestina, pintado coletivamente pelo artista Igão, pela equipe de pintura da escola e por centenas de visitantes. Três companheiros palestinos estiveram presentes e plantaram uma Oliveira diante do mural, gesto de esperança, memória e solidariedade internacionalista.
La solidaridad internacional es nuestro oxígeno”, ecoou entre os presentes.
Feijoada da Reforma Agrária e tarde cultural
No almoço, uma feijoada preparada com alimentos da Reforma Agrária Popular reuniu participantes em torno de um prato símbolo da resistência do povo brasileiro. A tarde seguiu com roda de samba, música, reencontros e muita convivência, reafirmando a cultura como dimensão essencial da luta política.
História em construção
Neste 20 anos, mais de 70 mil pessoas passaram pela ENFF. Hoje, a escola mantém parcerias com 35 universidades, oferece cursos de graduação e pós-graduação, e abriga o mestrado e doutorado em Desenvolvimento Territorial, em parceria com a Universidade Estadual Paulista (Unesp/Presidente Prudente).
A ENFF reúne uma ampla infraestrutura voltada à formação: auditório, anfiteatros, biblioteca com cerca de 44 mil títulos, espaço de leitura, Casa de Artes Frida Kahlo, ilha de edição e Rádio ENFF, quatro blocos de alojamentos, refeitório, lavanderia, estação própria de tratamento de esgoto e uma horta que abastece sua cozinha. Cada espaço expressa a pedagogia da coletividade que sustenta o projeto.
Aos 20 anos, a ENFF reafirma seu compromisso: seguir formando consciência crítica, fortalecendo a luta popular e alimentando a esperança socialista que move a classe trabalhadora.
*Editado por Solange Engelmann



