No Paraná, experiências comprovam que produção agroecológica é possível
Por Franciele Petry Schramm
Morango, pimentão, pepino, alface e cenoura são alguns dos alimentos que compõe um cardápio equilibrado nutricionalmente. Mas também são os alimentos que apresentam maior índice de contaminação por agrotóxicos no Brasil, segundo a ANVISA – Agência nacional de saúde. Alimentos que têm, em sua produção, a utilização de venenos, controladores de pragas e plantas daninhas, e que trazem alto risco à saúde, meio ambiente e aos animais.
Em protesto a utilização e aos impactos da utilização desses insumos químicos, o dia 3 de dezembro marca o Dia de Luta Mundial Contra o Uso de Agrotóxicos. A data lembra o fato ocorrido há 31 anos, em Bophal, na Índia. Na ocasião, um vazamento de 27 toneladas de gás tóxico em uma fábrica de agrotóxicos resultou na morte de cerca de 30 mil pessoas. Estima-se que outras 560 mil tenham sido afetadas, causando danos à saúde.
O Brasil tem um dos maiores índices de uso de agrotóxicos – alguns proibidos em outros países –, além do consumo de sementes transgênicas. A data marca a luta pela garantia da escolha de produtos agroecológicos, livres de agrotóxicos e herbicidas.
Apesar de o país contar desde 2014 com o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (Pronara), a implantação desse projeto está suspensa por tempo indeterminado, a pedido do Ministério da Agricultura. Nele está prevista a diminuição do uso de insumos químicos, a proteção das águas e o incentivo à produção orgânica.
Agroecologia
Diante da crescente conscientização dos prejuízos que os agrotóxicos causam, alternativas surgem como ferramentas numa outra manutenção alimentar. A agroecologia, que é uma compreensão social, econômica e ambiental da produção consciente de alimentos, visando a redução dos impactos na biodiversidade, se constitui como nova perspectiva para se pensar a produção agrícola.
Antônio Capitani, agricultor do Assentamento Contestado, na Lapa, produz alimentos agroecológicos há mais de 10 anos. Ele explica a opção por uma produção livre de agrotóxicos. “A gente se preocupa com a saúde. A gente sabe que o veneno está matando as pessoas devagarzinho, todos os dias”. Mas ele indica que a produção agroecológica vai além disso: “Você leva em conta o cuidado com a terra, como o meio ambiente, com os animais, e com toda a cadeia viva da biodiversidade. Vai além da comida”.
Junto de sua companheira Antônia, Capitani produz abobrinha, couve, alface, salsinha e uma ampla diversidade de alimentos. Cerca de 80% dos ingredientes utilizados para a preparação dos alimentos do café da manhã, almoço e janta da família são colhidos de sua produção.
O agricultor explica que esse modo de produção traz retornos em vários sentidos. No financeiro, possibilita a diminuição de gastos sem o uso de agrotóxicos. “Na produção convencional, você compra o pacote completo: semente transgênica, uréia, adubo e veneno – tudo químico. Na agroecologia não. Você faz adubação verde, com coberturas de palha, para que a adubação seja a que natureza vai oferecendo”.
Além disso, ele destaca a oportunidade de consumir uma variedade maior de alimentos. “Se a gente produzisse só soja ou milho, teria que comprar o restante do alimento. Assim não. A gente vai e pega o que quer na roça”.
Soberania e Segurança Alimentar
Partes dos alimentos agroecológicos produzidos por Antônio e sua companheira são destinados ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que distribui a produção de alimentos de agricultores familiares para entidades e famílias do meio urbano que precisem de assistência nutricional.
O Cefuria é uma entidade mediadora do PAA em Curitiba e Região Metropolitana. Educador popular do Centro de Formação, Adenival Gomes explica que a distribuição de alimentos agroecológicos através do programa é uma forma de unir campo e cidade na luta contra um modelo de agricultura prejudicial e insustentável– que obriga as pessoas a consumirem alimentos contaminados com agrotóxicos, e que obriga produtores a saírem de suas terras.
“Assim é possível que as pessoas da cidade tenham alimentação adequada, podendo consumir produtos orgânicos e variados”, afirma Gomes.
Cerca de 10 mil pessoas são beneficiadas pelo programa em Curitiba e Região. Mensalmente, 51 grupos recebem alimentos agroecológicos no núcleo acompanhado pelo Cefuria. Em média, 30 toneladas de alface, batata-doce, repolho e couve-flor e outras variedades de alimentos – disponíveis conforme a época de produção de cada planta – são distribuídas todo mês.
Além da distribuição dos alimentos, o espaço de contato com os grupos beneficiados é utilizado também para formação. “A gente discute o direito das famílias e a situação do país, refletindo os motivos da fome”, explica Adenival. A distribuição dos alimentos é organiza com participação ativa das comunidades, a partir de reuniões mensais do Conselho Gestor da Segurança Alimentar. Nesses encontros também são realizadas formações e oficinas.