Sem Terrinha discute alimentação saudável e cultiva a solidariedade internacional
Por Jailma Lopes
Da Página do MST
No último sábado (12), após um intenso dia de luta, que mobilizou a Greve Geral, cerca de 100 Sem Terrinha oriundos de acampamentos e assentamentos da região oeste do Rio Grande do Norte, se reuniram para o XIII Encontro Regional Sem Terrinha.
O tema “Alimentação saudável é um direito de todos: cultivando a identidade da criança Sem Terra e valores de solidariedade internacional” norteou os debates da atividade, que se realizou na Escola Professor Maurício de Oliveira, na Agrovila Paulo Freire, uma das nove comunidades que fazem parte do Assentamento Eldorado dos Carajás.
O Encontro, que é uma das datas do ano mais esperada pelas crianças, tem como objetivo, a compreensão dos Sem Terrinha como sujeitos de direito e espaços lúdicos, com a realização de debates para ouvir suas impressões sobre as distintas realidades sobre os locais onde vivem; além de desenvolver atividades culturais e educação estética; buscar valorizar sua identidade de Criança Sem Terra; e cultivar valores solidariedade internacional e transformação da realidade.
De acordo com Alexandra Cordeiro, do Setor de Educação da Brigada Chico Mendes, o espaço contou com a participação crianças entre dois e doze anos, e as atividades foram pensadas a partir de suas faixas etárias. As crianças se envolveram na programação, participando das rodas de conversas, oficinas temáticas, brincadeiras, contextualizada com as vivências de suas áreas de assentamentos e acampamentos.
“Vivemos em uma região onde o agronegócio se expressa fortemente pelo cultivo de fruticultura irrigada, portanto, realizar um encontro discutindo com as crianças a alimentação saudável é de suma importância para a formação delas. Além disso, reafirmamos que nosso projeto de Reforma Agrária Popular é um projeto para pessoas, em que nossas crianças também são sujeitos, diferente do agronegócio em que tudo é mercadoria”, destaca Cordeio.
A escola foi ocupada pelas crianças com muita mística, risos soltos, palavras de ordem, várias expressões de arte e muitos questionamentos dos Sem Terrinha.
O Sem Terrinha Matheus, de 9 anos, na roda de conversa lúdica sobre “Identidade e infância Sem Terrinha”, lembrou que antes da invasão portuguesa, as terras do Brasil eram cuidadas apenas pelos indígenas e que não havia tanta destruição como existe hoje.
“Hoje a gente vê a natureza destruída pelo homem que só quer saber de dinheiro, enquanto um monte de gente sofre no mundo”, afirma.
Já Rebeca, de 11 anos, lembra que apesar da violência, os indígenas resistiram em luta. “Os índios são nossos irmãos, lutaram e tiveram seu sangue derramado para defender nossas terras”, destaca.
E foi assim que a discussão construiu de forma lúdica, a história de luta dos povos no Brasil. Além de remeter também a história sobre os conflitos que ocorrem em outros locais do mundo, como Síria e Palestina, cultivando os valores de solidariedade internacional das crianças.
Participação do LEDOC
O Encontro também contou com a participação de professores e estudantes do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEDOC), da Universidade Federal Rural do Semiárido, desde o processo de construção até a vivência, como parte de um processo de aproximação entre Universidade e o MST.
De acordo a professora Jamira Lopes, coordenadora do curso, a Universidade precisa estar a serviço da classe trabalhadora, não só ao produzir conhecimento, mas principalmente ao construir junto com os trabalhadores e trabalhadoras processos de acúmulos de vida. Lopes avalia ainda, que o XIII Encontro dos Sem Terrinha proporcionou importantes lições.
“A primeira delas, diz respeito ao compromisso que a Universidade deve ter com as novas gerações. Compromisso pautado na produção e disseminação do conhecimento. Esse conhecimento de caráter e natureza pública. A segunda lição está contida na própria palavra de ordem dos Sem Terrinha: “Bandeira, bandeira vermelhinha! O futuro da nação está nas mãos dos Sem Terrinha”. Esse grito de ordem evidencia que os filhos da classe trabalhadora construirão novos horizontes para esse país de marginalizados,” afirma.
Sua avaliação aponta a necessidade do conhecimento ser ocupado pela classe trabalhadora, e sua produção ser vinculada à transformação da realidade, principalmente diante da atual conjuntura brasileira.
“Vamos ocupar o latifúndio do conhecimento e com ele faremos a melhor de todas as armas: a arma da crítica empunhada contra a exploração do trabalho e a desumanização do Homem e da Mulher, do campo e da cidade”, conclui Lopes.
Para o MST, essa construção coletiva é central para a luta em defesa dos direitos dos povos do campo, principalmente em tempos de golpe onde a Educação do Campo corre muitos riscos, com a PEC 55, a “Lei da Mordaça”, e a paralisação da Reforma Agrária.
“Estamos em um tempo que exige solidariedade entre e os esforços na construção da unidade pela classe trabalhadora e de todos aqueles que estão construindo lutas pela transformação da sociedade brasileira”, destaca Alexandra Cordeiro.
Encontro dos Sem Terrinha
Os Encontros dos Sem Terrinha, é organizado anualmente pelo Setor do Educação do MST, entre outubro e novembro, em todos os estados em que o Movimento está organizado.
Inicia-se com o processo de construção de encontros regionais, e culmina-se em Encontro Estadual dos Sem Terrinha, com caráter de formação, organização e síntese das necessidades do Sem Terrinha para as lutas que o Movimento realiza durante todo o ano.
A intenção também é de proporcionar às crianças dos acampamentos e assentamentos, intercâmbios de experiência, formação, arte e luta.
*Editado por Iris Pacheco