Mulheres tomam as ruas de Campo Grande

No Mato Grosso do Sul, 8M foi marcado por manifestações contra o desmonte da Previdência e contra a violência de gênero.

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Por Janelson Ferreira
Da Página do MST

 

Durante a manhã desta quarta-feira (8), mais de 300 mulheres marcharam pelas principais ruas de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. A mobilização fez parte da Jornada de Luta das Mulheres. Mais de 150 Sem Terra, de todas as regiões do estado, participaram da manifestação, além de companheiras de outras organizações que compõem a Frente Brasil Popular e a Via Campesina. A Jornada deste ano tem como tema central a luta contra o desmonte da Previdência, orquestrado pelo governo ilegítimo de Michel Temer.

A marcha em Campo Grande terminou com um ato político em frente a uma agência da Previdência Social, e chamou a atenção da população para as medidas que atingem diretamente a classe trabalhadora. Além do golpe nos direitos previdenciários, as mulheres sul-matogrossenses denunciaram outros ataques do governo Temer e seus aliados aos direitos da classe trabalhadora, o machismo, o agronegócio, a utilização de agrotóxicos na agricultura, assim como o abandono da Reforma Agrária e da demarcação das Terras Indígenas por parte do governo golpista.

Para Sindy Gauber, dirigente estadual do MST, a contrarreforma da Previdência é um duro golpe que a classe trabalhadora não deve aceitar calada. “Com as alterações propostas pelo governo golpista, corremos o risco de morrermos sem conseguir nos aposentar. É um movimento escancarado de retirada de direitos, porque não possui nenhuma ligação com a realidade da classe trabalhadora”, afirmou Gauber. Segundo a dirigente, a situação das trabalhadoras e trabalhadores rurais é ainda pior. “Temer não conhece quem trabalha diariamente na roça. Ele quer igualar trabalhadores rurais e urbanos, sendo que o trabalho no campo gera um desgaste físico muito maior” conclui.

De acordo com a ANPIF – Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal – esta contrarreforma pode causar sérios prejuízos a pelo menos três mil municípios. Isto porque a Seguridade Social é um importante elemento que impulsiona as economias locais. Segundo a associação, a Previdência exerce papel significante na renda de várias famílias e o corte deste recurso gera consequências negativas não somente para estas famílias, mas para todo o município onde esse recurso circula. 

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Outra importante denúncia feita pelas mulheres diz respeito à tentativa de acabar com a Reforma Agrária. Por meio da Medida Provisória 759, editada por Michel Temer no fim de 2016, o governo busca municipalizar a Reforma Agrária, regulamentar as terras griladas por latifundiários, além de permitir a compra e venda de terras, atendendo a uma antiga demanda dos ruralistas.

De acordo com Marina Ricardo Nunes, dirigente nacional do MST, a MP representa um retrocesso histórico na luta pela terra. “Somos contra esta medida porque ela, além de cobrar a terra dos assentados, vai gerar um grande incentivo à venda de lotes, algo que sempre combatemos, afinal, queremos terra para produzir alimento saudável para a população, não para vendê-la”, afirma Nunes. Segundo ela, lutar contra o agronegócio, a retirada de direitos pelo governo golpista e o machismo tem íntima ligação. 

Terra para estrangeiros

As mulheres Sem Terra também alertam para a tentativa do governo golpista de permitir a venda irrestrita de terras para estrangeiros. Desde setembro de 2015, há um projeto de lei na Câmara dos Deputados (4059/2012) que legaliza a transação. Apesar de ainda não haver acordo entre os deputados para a votação do projeto, o governo Temer já manifestou interesse em pautar o assunto por meio de Medida Provisória. Para as Forças Armadas, o projeto ameaça diretamente a soberania nacional. 

MS é um dos estados mais violentos contra a mulher

Segundo o Mapa da Violência – Homicídio de Mulheres no Brasil, o Mato Grosso do Sul tem a maior taxa de mulheres vítimas de violência sexual, física ou psicológica que buscam por atendimento em unidades do Sistema Único de Saúde (SUS). São 37,4 mulheres a cada 10 mil habitantes. De 2014 a 2015 foram registrados 19.013 ocorrências contra a mulher em todo o estado. Só em Campo Grande foram 6.111. Os atendimentos a mulheres vítimas de violência sexual, física ou psicológica chegam a 147.961 por ano em todo o país. A cada quatro minutos, uma mulher dá entrada no SUS devido à violência de gênero.

 

*Editado por Leonardo Fernandes