As zapatistas falam sobre o futuro das mulheres camponesas em luta
As camponesas da CLOC-VC realizaram uma análise coletiva do encontro das Mulheres organizado dentro do movimento zapatista, destacando sua relevância para a luta e organização das mulheres. Com a comemoração do Dia Internacional da Luta Camponesa, 17 de abril se aproximando, elas expressaram seu compromisso de fazer chegar em seus territórios as palavra e os aprendizados recebidos das mulheres do Exército Zapatista de Libertação Nacional.
Para Lourdes Vicente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) do Brasil, “A convocatória Zapatista das mulheres lutadoras do mundo foi uma experiência muito importante para este momento histórico, em que vivemos situações de guerra, golpes e muitas formas de violência. Para que possamos, em seguida, falar sobre as nossas lutas e experiências de enfrentamento ao capital, patriarcado e ao racismo em nossos países, desde nossas organizações”.
Ela resumiu ao encontro como um espaço místico com a marca Zapatista para mudar o mundo: “Para nós, do MST, a mística é o que alimenta a esperança. É olhar para o passado e problematizar o presente e apontar para o futuro. As zapatistas nos mostraram onde está o futuro, um futuro de autonomia, dignidade e esperança para nós mulheres. Ao longo deste encontro, sentimos como uma grande família de mulheres humanitárias em defesa da vida, da terra, e dos direitos e saímos de lá com um compromisso de mais mulheres se reúnem em torno de nossas bandeiras”.
Na mesma linha, Vicente disse: “Foi possível falar com outras mulheres no mundo, com muitos conflitos ambientais, que sentiram o ataque do imperialismo nos nossos recursos naturais. Foi um espaço de articulações das lutas de diferentes experiencias a partir de diferentes visões que temos do mundo. Vimos que independentemente dos lugares que viemos, temos um inimigo em comum que está destruindo a vida das mulheres, que é o capital e o sistema patriarcal, com a exploração do trabalho e as diferentes formas de opressão.
Bernarda Pesoa, originalmente do povo Qom e líder da Coordenação Nacional de Mulheres Rurais e Indígenas (CONAMURI) do Paraguai, disse que “trouxemos muitas experiências ricas do encontro em Morelia, que participamos como uma delegação com as outras organizações de diferentes países. Agradecemos porque nos receberam bem e aprendemos que, se as mulheres se unirem, elas terão muita força. As zapatistas nos ensinaram que não devemos ter medo. A proteção de seus territórios e o uso de seus recursos naturais é uma riqueza, que é muito valiosa para nossa experiência como mulheres”.
Bernarda resgata a natureza orgânica do movimento zapatista como muito positiva para as lutas das organizações sociais, especialmente as mulheres. “Lá nos encontramos em um território, e também da mesma forma porque seguimos um objetivo comum, que as mulheres têm que ser liberadas e ter todos os direitos básicos que governos e estados não estão permitindo”.
Além disso, Bernarda disse que “as zapatistas nos mostraram como se protegem e se organizam. Nós compartilhamos uma experiência muito importante. Não houve distinções de etnia ou raça, mas apenas nós éramos mulheres e nos encontramos como mulheres. Nossa participação foi muito frutífera e positiva. Nós apreciamos que nós pudemos ver as outras experiências das mulheres, e especialmente as zapatistas que sempre foi um desejo conhecê-las, foi um sonho realizado por fim”.
A jovem Maria Teresa Velasquez, da Associação de Camponeses e representante da Frente Nacional de Juventude Camponesa (FRENAJUC) – organização que nasceu em 2009, em resposta ao golpe de estado e a onda de repressão em Honduras salientou: “Foi incrível a semelhança da luta que temos diante do sistema capitalista patriarcal é muito semelhante e a similaridade de circunstâncias que nos une. Eu acho que isso nos fazem mais próximas e unidas entre todas”.
Além disso, Velasquez disse que “Em Honduras, a situação que as mulheres vivem é muito difícil, porque somos a estrutura deste sistema que nos humilha, nos maltrata e nos viola. Como mulheres hondurenhas, nos sentimos muito vulneráveis a toda a situação que estamos vivenciando atualmente. Ao vir aqui e olhar para as semelhanças que existem, tem sido muito difícil olhar para essas mulheres, como elas lutaram e continuam a lutar dentro deste sistema e que, apesar de tudo, elas permanecem firmemente unidas como uma única mulher. Acho que marcou um ótimo espaço para ambas as mulheres hondurenhas, centro-americanas e zapatistas”.
Outra questão importante a destacar, segundo Lourdes Vicente, do MST do Brasil, é “A solidariedade entre as mulheres, porque este era um espaço em que foi possível aprender não apenas sobre as lutas, mas entrar em comunhão com elas”. Como Vía Campesina, lá estávamos cumprindo nossa missão de dar solidariedade à luta zapatista, à luta das mães dos 43 desaparecidos de Ayotzinapa, do povo mapuche do Chile e da Argentina e das mulheres negras em diferentes partes do mundo”.
Mulheres cor da terra, milho moreno, grande de coração e dignidade, unidas pelo direito ao território, à vida e soberania de nossos povos.
Fonte consultada: Voz Campesina, programa da Coordenação Latino-Americana de Organizações de Campo (CLOC-Via Campesina), Rádio Zapatista e Koman Ilel.