A greve de fome é prática dos moralmente grandes
Por Roberto Malvezzi (Gogó)
Sete pessoas continuam em greve de fome há 23 dias pelo bem do povo brasileiro. Eles apenas querem que o Supremo Tribunal Federal, na sua prerrogativa, decida se a prisão em segunda instância é ou não constitucional. O atraso nessa decisão gera injustiças com pessoas concretas e gera também a instabilidade jurídica e política no país. Mais ainda, com suas fomes, protestam contra a volta intensa da fome no Brasil.
A greve de fome sempre foi arma de pessoas de extrema grandeza humana. Recorreram a ela Gandhi pela libertação da Índia, Martin Luther King pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, Mandela pelo fim do apartheid na África do Sul, índios Mapuche dentro da prisão pela liberdade de seus prisioneiros e pela defesa de suas terras, assim por diante.
Aqui no Brasil, Frei Luiz Cappio fez duas longas greves de fome em favor da distribuição da água no Nordeste por adutoras simples e captação da água de chuva, contra o projeto faraônico dos imensos canais que favorecem mais às empreiteiras que ao povo necessitado de água.
A greve de fome é um ato violento, mas amoroso. Ela não agride fisicamente o adversário. A agressão física recai sobre si mesmo. Aos 23 dias dessa greve de fome, nossos irmãos e irmãs já estão com o corpo debilitado. O sofrimento pessoal se acentua e o risco de um colapso orgânico total pode acontecer a qualquer momento.
Porém, como dizia Gandhi, esse tipo de luta é para “colocar os adversários em condição moral inferior”. É isso. Essas sete pessoas em greve de fome dizem que o Supremo Tribunal Federal não cumpre com suas prerrogativas, joga pessoas na prisão antes que possam esgotar todos os recursos da defesa e jogam o país na instabilidade jurídica e política. Enfim, sujeitam qualquer brasileiro aos arbítrios da vontade individual de algum juiz, ou mesmo de um coletivo de instância menor.
Se pudesse pedir alguma coisa aos leitores desse texto, eu digo que rezem pelos que estão em greve de fome, valorizem sua atitude de extrema generosidade e grandeza, promovam alguma forma de solidariedade, afinal, estão expondo suas vidas pelo bem de todos nós.
OBS: Estão em greve de fome Frei Sérgio Gorgen, Rafaela Alves, Vilmar Pacífico, Jaime Amorim, Zonália Santos, Luiz Gonzaga (Gegê) e Leonardo Soares.
*Roberto Malvezzi (Gogó) é escritor, músico, filósofo, teólogo e consultor da Comissão Pastoral da Terra
**Editado por Maura Silva