A música como ferramenta para eternizar momentos da história

MST encerra hoje oficina nacional de música com Cantoria Lula Livre

 

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Cantoria no Armazém do Campo (BH) com músicas que marcaram história. Foto: Dowglas Silva

Por Geanini Hackbardt
Da Página do MST

Na noite desta sexta-feira (29), encerra-se a Oficina Nacional de Música, cujos resultados podem ser apreciados no Armazém do Campo em Belo Horizonte (MG). Foram dez dias de estudos de método de composição, canto, viola, percussão, expressão corporal, entre outros.

Cerca de 40 cantadoras e cantadores do Movimento prepararam um grande repertório para homenagear o presidente Lula, na Mostra Sem Terra Cantoria Lula Livre. A cantoria também anuncia a Jornada Nacional Lula Livre, que ocorre de 7 a 10 de abril.

Música em 35 anos de história

Entre os vários aspectos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) invisibilizados pela mídia, a produção cultural e artística que brota dos processos de luta está entre os mais desconhecidos da população brasileira.

A música no MST surge da necessidade do povo em levar e expressar a organização  e tudo o que é construído a partir das primeiras ocupações de terra. “A música materializa e eterniza momentos da história”, explicou Ênio Bonhenberger, da direção do MST, durante o Seminário que abriu a Oficina Nacional de Música, realizada de 20 à 29 de março, em Belo Horizonte (MG).

“Ó terra mãe desse povo, chama teus filhos à batalha, para que um dia tu chegues nas mãos de quem trabalha”, cantou um acampado da antiga fazenda Annoni, um dos locais que originou o movimento.

Segundo Ênio Bonhenberger , as composições que acompanharam os 35 anos do MST tem três características principais: “Elas são de denúncia, anúncio ou chamamento à luta”. No entanto, as inspirações são ancestrais: “Quilombo de Palmares, Canudos, Contestado, Ligas Camponesas e processos revolucionários, principalmente, da América Latina, deram força para essa construção”, completou.

“O MST não surgiu do nada. Onde houve lutas anteriores, o movimento se constitui com mais força. Todas as lutas da classe trabalhadora produzem cultura e música”, constata Bonhenberger.

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Atividade pedagógica durante a Quarta Inviolada, com Pereira da Viola e convidados.
Foto: Joyce Fonseca

“Pai nosso, dos pobres marginalizados/ Pai nosso, dos mártires, dos torturados/ Meu nome é santificado naqueles que morrem defendendo a vida| Teu nome é glorificado, quando a justiça é nossa medida”, clamou a canção Pai Nosso dos Mártires, da Comissão Pastoral da Terra, composta por Zé Vicente.

O violeiro e integrante da frente de música do MST, Mineirinho, acrescentou que a musicalidade inicial tem característica camponesa. “São cantos sobre trabalho e religiosidade, como os autos de natal nordestino, ou as folias do Espírito Santo. Elas também contam a história do plantio, do cultivo e da colheita”, afirmou.

Mineirinho levou para a Oficina a história do Hino Nacional do Movimento, fortemente inspirado na Internacional Comunista. “Para criar uma identidade nacional do movimento foi feito um concurso. Rio Grande do Sul trouxe um xote, os catarinos trouxeram uma marchinha e o Maestro Willy Corrêa trouxe o formato atual como é cantado, em cima da poesia de Ademar Bogo”, relembra.

Os ritmos do MST seguem a diversidade de regiões onde os Sem Terra estão presentes. O forró nordestino, a toada amazônica, o rasqueado e o chamamé do Centro-oeste, as modas de viola do Sudeste, etc. A Oficina provou mais uma vez que é possível ter uma unidade cultural dentro de uma diversidade incontável de ritmos, formas e representações.

Oficina e canções de hoje

O objetivo da oficina foi projetar os trabalhos musicais nas áreas do Movimento e nos espaços de diálogo e integração com a cidade. “Fechamos um planejamento para contribuir nos estados e municípios. Procuramos reativar nossas animações nos acampamentos e nos assentamentos”, projetou o histórico compositor Sem Terra, Zé Pinto.

De acordo com Luana Oliveira, da Direção Nacional do Setor de Cultura, na atual conjuntura a atividade ganha outra dimensão. “O seminário ganha um caráter político, de contraposição ao avanço do conservadorismo, das ideias fascistas e do retrocesso”, afirmou.

Luana ressaltou ainda dizeres Brecht: “Em tempos de caos cruento como esses, falar das coisas mais simples, como comida, teto e terra é fundamental. Através da arte, conseguimos fazer isso de forma simples e que chega nos trabalhadores e trabalhadoras”, concluiu.

Após anos tentando compreender uma contradição entre o fazer individual artístico e o fazer coletivo, a Frente de Música do MST começa a se reorganizar para dar vazão às necessidades que a conjuntura impõe.

Hoje muitas canções continuam sendo criadas sem deixar de lado sobre os objetivos do movimento e a cultura camponesa, muitas vezes acrescentando utras questões como gênero, racismo, etc. Um exemplo é a composição do assentado Raumi Souza, que foi categórico: “Sou sem terra, sou pobre, sou negão, sou revolução”. 

 

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Jornada de Luta Lula Livre, em Belo Horizonte, Minas Gerais

*Editado por Fernanda Alcântara