Quintais produtivos e agroecologia no semiárido
Por Aline Oliveira e Solange Engelmann
Da Página do MST
“A gente se organiza através dos quintais produtivos, produzindo vários produtos para garantir alimentação saudável das famílias, livre de agrotóxicos, pra gente poder ter uma saúde de melhor qualidade e também melhorar a nossa renda”. O depoimento é da assentada da reforma agrária do Ceará, Izabel Santos de Souza, de 61 anos, que vive no Assentamento Monte Alegre, no município de Tamburi.
Neste Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta quarta-feira (05), como parte da Campanha Agroecologia é o Caminho, experiências comprovam os êxitos e benefícios dos quintais produtivos na melhoria da renda, na qualidade de vida e na massificação da agroecologia em assentamentos de reforma agrária do Nordeste.
Izabel conta que existiu um movimento para melhorar a qualidade de vida das 30 famílias assentadas que moram e produzem alimentos saudáveis de forma coletiva no assentamento. Os produtos são entregue aos programas sociais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) estaduais e municipais, além de serem comercializados diretamente aos consumidores da região.
A assentada mantém um quintal produtivo em sua casa e explica que é comum entre a maioria das famílias no assentamento Monte Alegre. Neles, são produzidos mamão, banana, acerola, goiaba, maracujá, tangerina, caju, coqueiro, macaxeira (mandioca), cebola, coentro, tomate, pimentão, pimentinha de cheiro, abóbora, batata doce, além da criação de pequenas aves, caprinocultura, ovinocultura, bovinocultura e suinocultura.
Além da entrega dos produtos em programas sociais, as famílias assentadas comercializam a produção diretamente ao consumidor, em feiras da região. Eles também estão se organizando por meio de uma cooperativa dos assentados para buscar melhores alternativas de comércio e preços.
Os quintais produtivos são parte de uma política pública para o campo em disputa no momento com o governo federal, bem como as políticas da Reforma Agrária que foram totalmente paralisadas por Bolsonaro. Os espaços integram projetos de convivência dos camponeses assentados com o semiárido, que tem como foco o desenvolvimento de pequenas áreas de sustento das famílias em volta de suas casas.
O integrante do setor de Produção do MST no Ceará e Tecnólogo em Recursos Hídricos, Ricardo Cassundé, explica que o projeto dos quintais produtivos está centrado em três setores produtivos: na pecuária, com pequenos animais, na horticultura e na fruticultura. Dessa forma, eles buscam garantir a criação de canteiros familiares de um pequeno sistema de irrigação, com cerca de 50 mudas diversificadas de fruteiras, uma pequena criação de galinha e uma área de pastagem.
“Os quintais produtivos e agroecológicos são o caminho para valorização da terra, do sustento, da vida das famílias que se envolvem no processo e na construção da sustentabilidade e soberania alimentar para os povos”, defende Cassundé.
Cassundé argumenta ainda que foram implantados aproximadamente 2.300 quintais produtivos no Ceará dentro de uma perspectiva agroecológica e sustentável, voltada à segurança alimentar e nutricional. Ele ressaltou ainda que algumas experiência foram bem sucedidas na complementação de renda das famílias, despertando os camponeses para organização da produção e alimentação saudável.
Por outro lado, algumas famílias enfrentaram dificuldades com o desenvolvimento dos quintais produtivos devido às condições difíceis do semiárido, que no último ano passou por um período de seca prolongada, atingindo várias famílias que ficaram sem o abastecimento de água para algumas atividades agrícolas.
Os quintais produtivos têm sido fundamentais para as famílias assentadas da região Nordeste, pois proporcionam melhores condições na organização das áreas de cultivos próximas às casas e na inserção familiar dentro dos processos produtivos agroecológicos.
“Os quintais são de suma importância para construir o debate da Agroecologia, considerando as iniciativas familiares como projeção para sua transição e conscientização como uma bandeira de luta e existência do campesinato”, conclui Cassundé.
*Editado por Fernanda Alcântara